JOSUÉ SEIXAS
MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS)
Imagens de uma câmera de segurança instalada em uma loja de roupas na praia do Forte, na cidade de Mata de São João (BA), mostram o momento em que uma turista argentina que acusou uma baiana de furto perdeu a carteira.
Ela estava sentada em um banco quando o objeto caiu e, instantes depois, uma pessoa o recolhe e entrega à loja que estava fazendo a gravação. O fato aconteceu no dia 28 de março.
Jucione Manuelle Costa Silva, 48, atua como baiana de receptivo, profissional que usa trajes típicos para receber visitantes na Bahia, e teve de tirar toda a roupa em outro estabelecimento para provar que não tinha cometido o crime.
À época, ela disse à Folha de S.Paulo que foi vítima de racismo. Segundo Jucione, a turista e o marido pediram para tirar fotos com ela, que cobra R$ 25 pelo serviço. Ao procurar a carteira para realizar o pagamento, a mulher não encontrou o item na bolsa e, em seguida, teria acusado a baiana de furto. As novas imagens, porém, desmentem essa versão.
Jucione disse que não tem conseguido dormir e que turistas não querem tirar foto com ela por causa da repercussão do caso.
“A acusadora argentina perdeu a carteira em frente a uma loja da vila de praia do Forte, o que pode acontecer com qualquer um de nós. Mas, o que não pode acontecer é sair acusando inocentes de forma humilhante e racista”, disse ela.
Procurada, a Polícia Civil da Bahia disse que já enviou a investigação à Justiça, com a oitiva dos envolvidos, mas não deu detalhes.
“Quando ela não achou a carteira, o marido perguntou se ela não tinha esquecido numa das lojas.
Ela foi lá, não achou, e já voltou louca, dizendo que eu tinha pegado a carteira dela. Começou a gritar, dizendo que eu era ‘ladrona’, pedindo para ninguém tirar foto comigo, que eu tinha roubado a carteira dela”, afirmou Jucione nas redes sociais. A reportagem não conseguiu localizar a mulher argentina envolvida no caso.
“Eu fiquei muito assustada e entrei na loja, tirei toda a roupa e ainda assim ela disse que eu tinha escondido a carteira dentro do meu macaquinho. Fui para outro canto e fiquei só de calcinha e sutiã, para ela ver que eu realmente não tinha pegado a carteira dela”, continuou ela.
Ao ver que a baiana não estava com a carteira, a mulher teria saído da loja. Foi nesse momento que Jucione pediu para que pessoas em volta chamassem a polícia. A carteira, acrescenta, foi encontrada em uma das lojas que a argentina visitou durante o passeio.
“É mais um episódio em que nós, negros trabalhadores, passamos no dia a dia”, disse ela. “Na delegacia, eles [o casal] me ofereceram uma propina de R$ 250 para esquecer o assunto. Depois, me pediram para falar por telefone com um amigo deles, brasileiro, também querendo que eu deixasse para lá, e eu disse que não faria isso.”
