Por Laís Tenório
Nos próximos dias 9 e 10 de maio, Brasília recebe o maior encontro de violeiras do Brasil, na Praça Padre Roque, no Núcleo Bandeirante (DF).
O evento é protagonizado por violeiras de todos os estados. Nesta edição, o evento vai prestar uma homenagem a Inezita Barroso, grande nome da música caipira.
O dedilhado delicado nas cordas da viola caipira é acompanhado por uma luta e representatividade feminina no meio.
O som da viola ecoa e a liberdade e resistência cantam para essas mulheres. O evento, que possui entrada gratuita, vai oferecer uma imersão não só na música caipira, mas também na culinária, história e cultura caipira.
O festival é acessível e possui exposição digital para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, além de tradução simultânea em libras. Com classificação livre, o “Viola em Canto de Mulher” tem como objetivo incentivar e reconhecer o protagonismo das mulheres em um ambiente inicialmente dominado por homens.
As violeiras Juliana Andrade e Dayane Reis, que participam do evento, compartilham os desafios, as vivências e a paixão pela música caipira e como o evento transformou a vida delas.
“A mulher, quando está no palco, representa muitas outras mulheres. Ela representa a força, a delicadeza, a resistência e a sensibilidade, tudo ao mesmo tempo”, relata Juliana.
A brasiliense Dayane Reis foi criada em Urucuia, que fica entre o Distrito Federal e Minas Gerais. Ela explica que a região foi essencial em sua carreira.
“Foi lá onde tudo começou. Foi onde eu comecei a minha trajetória na música e na viola caipira”, diz.
Foto: Dayane Reis/Divulgação
A violeira conta que conheceu e teve o primeiro contato com a viola aos 14 anos de idade. Em uma festa organizada pelo pai, ela conta que o folião de guia, líder responsável por conduzir e organizar o canto e saída do grupo, tocava viola caipira.
“Foi a primeira vez que eu ouvi a viola caipira sendo tocada por alguém. E a partir dali, eu não larguei mais. Foi quando tudo começou mesmo”.
A paulistana Juliana Andrade explica que o contato com o instrumento foi mais difícil. “A viola, nesses locais, não é muito comum, principalmente a viola caipira”, ressalta a violeira.
Juliana Andrade/Divulgação
Apesar de sempre ter visto o pai tocar e crescer vendo o instrumento, e sempre apaixonada pelo som da viola, seu contato mais imersivo foi no interior de São Paulo, em São José do Rio Preto, onde mora atualmente.
“Esse espaço também é nosso”.
Juliana relata que, apesar de mostrar muito interesse em aprender a tocar, ela diz ter tido certa resistência por parte do pai. “Fiquei muito triste quando meu pai tentou ensinar meus irmãos a tocar e nunca me ofereceu a oportunidade de aprender, eu pegava escondida do meu pai”, explica. Aos 14 anos de idade também teve seu primeiro contato tocando a viola caipira, e aos 15 anos já estava no palco com sua madrinha Inezita Barroso.
Durante a caminhada artística das duas, elas relatam que já ouviram muitos comentários maldosos e preconceituosos das pessoas.
Para elas, tocar a viola implica em uma grande luta contra estes preconceitos preestabelecidos e limitantes. “Tocam tão bem quanto o homem” e “Não, tocam muito melhor que qualquer homem” são os piores elogios, segundo avalia Juliana.
Dayane diz que, até hoje, o maior desafio que enfrenta é a credibilidade.
“Ainda hoje, principalmente no interior, quando eu chego para tocar, tem homem que olha com desconfiança. A mulher ainda precisa provar que sabe, que tem talento, enquanto homem, muitas vezes, já é automaticamente aceito”.
Viola em Canto de Mulher
As artistas relatam a importância que o evento tem na luta e representatividade feminina no meio caipira. “O mais bonito do evento é que ele consegue ser inclusivo, representativo, acolhedor, mas ao mesmo tempo exala a força da mulher”, diz Dayane.
Apesar dos desafios que já enfrentaram na área, elas destacam o quanto é gratificante o legado que estão plantando para as futuras gerações, e ressaltam o poder do evento. “A gente passou por muitos desafios, muitas portas fechadas, muitos preconceitos. Mas hoje ver tudo isso florescendo, ver o “Viola em Canto de Mulher” tomando essa proporção, é muito gratificante”, ressalta Juliana.
“Dona Inezita não defendia só a música caipira, ela defendia a cultura brasileira”.
A sexta edição do festival faz uma homenagem ao centenário de Inezita Barroso. Juliana e Dayane reforçam a importância que Inezita tem na música caipira, mas não só nela, como também na vida particular das violeiras. Juliana, que teve um contato direto com a cantora, reforça a potencialidade que ela tinha.
“Ela não era só a capa. Ela era o conteúdo inteiro, com todas as referências bibliográficas possíveis”. “A missão dela aqui na Terra era essa, abrir caminho pra gente seguir com a cultura na alma e a viola na mão”, reflete Dayane.
Programação
Sexta-feira, 9 de maio, a partir das 20h
Apresentações musicais:
Bete Silva e Coral Habeas Cantus (DF)
Júlia e Gaby Viola (DF)
Dayane Reis (DF)
Juliana Andrade (SP)
As Chapeludas (DF)
Sábado, 10 de maio, a partir das 9h:
9h – Oficina Trilha Sonora em Viola (presencial e online)
15h – Roda de Prosa (presencial e online)
20h – Apresentações musicais:
Lívia e Lavínia (SP)
Ana Clara e Vitória (MG)
Paula de Paula e Chris Pereira (GO)
Duo 17 Cordas (DF)
Carol Carneiro (DF)
Atrações diárias:
Exposição Totem Interativo
Feira de Artesanato
Praça de Alimentação com comidas típicas – “Gastronomia Tradicional”
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira