Morre Edy Star, estrela que iluminou o universo glam brasileiro nos anos 1970


Cantor deixa disco inédito com músicas de Raul Seixas e lega obra que inclui álbuns feitos com a liberdade que guiou o artista em 87 anos de vida. Edy Star (1938 – 2025) morre em São Paulo (SP), aos 87 anos, dias após acidente doméstico
Andres Costa / Divulgação
♫ OBITUÁRIO
♪ A estrela de Edivaldo Souza (10 de janeiro de 1938 – 24 de abril de 2025) se apagou na madrugada de hoje, mas o brilho de Edy Star permanecerá na história da música brasileira como o primeiro artista glam do universo da MPB.
Baiano de Juazeiro (BA), o cantor sofreu acidente doméstico há dias e morreu em hospital de São Paulo (SP), aos 87 anos, vítima de insuficiência respiratória, insuficiência renal aguda e pancreatite aguda. Edy Star deixa álbum inédito, gravado no ano passado com o repertório de Raul Seixas (1945 – 1989) e a participação do cantor Edson Cordeiro.
Revisitar a obra do roqueiro conterrâneo foi amarrar as pontas de uma história que, em 1971, juntou Edy Star com Raul, Miriam Batucada (1947 – 1994) e Sérgio Sampaio (1947 – 1994) na gravação do álbum Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das 10, título anárquico da discografia brasileira, cercado de lendas sobre a feitura e a edição.
Ícone gay da contracultura brasileira, Edy Star manteve hasteada a bandeira da liberdade desde a infância e adolescência passadas na Bahia natal até os últimos anos vividos em São Paulo (SP) em rota existencial que destacou a vinda do artista para o Rio de Janeiro (RJ), cidade onde o performático intérprete barbarizou na década de 1970 em shows em boates da marginalizada região central.
Foi também no Rio que Star gravou e lançou em 1974 o primeiro álbum solo, …Sweet Edy…, com músicas inéditas de medalhões da MPB como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Roberto Carlos em parceria com Erasmo Carlos (1941 – 2023). Em …Sweet Edy…, Star mergulhou no universo do glam rock gringo, mas com o sabor tropical do Brasil e da América Latina.
Aliás, Edy é parceiro de Gilberto Gil em Procissão (1965), um dos primeiros sucessos de Gil. O artista conseguiu o crédito de coautor da música nos anos 2010 após acordo com Gil.
Edy Star também transitou pela Espanha, país onde morou por quase duas décadas. Na volta ao Brasil, o cantor retomou a discografia com a edição, em 2017, do álbum Cabaré star, produzido por Zeca Baleiro com Sérgio Fouad. Neste disco, o artista cantou com Caetano Veloso, Ney Matogrosso – cantor que de certa forma abriu portas no mercado para o Edy Star, em 1973, com a postura libertária do trio Secos & Molhados – e Filipe Catto.
O último álbum de Edy, Meu amigo Sérgio Sampaio (2023), foi lançado há dois anos e reconectou o artista a um universo de marginalidade no qual ele sempre esteve mergulhado de forma mais ou menos profunda.
Como artista, Edy Star ecoou a irreverência do teatro de revista e a espirituosidade dos cabarés, rompendo rótulos e expressando a liberdade que exercitou nos 87 anos de vida, a ponto de ter sido gay assumido na Bahia dos anos 1950, época em que a homossexualidade era praticada dentro dos armários.
“Depois de duas tentativas de suicídio e um câncer, tudo é lucro”, contabilizou o artista em entrevista para o documentário Antes que me esqueçam, meu nome é Edy Star (2024), dirigido por Fernando Moraes.
Artista multimídia, Edy Star também brilhou no rádio, na televisão e no teatro, sempre buscando ousadia estética. A música foi somente um dos veículos encontrados pelo artista para exercitar a liberdade na vida louca vida.
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