

A prisão de um pequeno traficante no Município de Rorainópolis, no Sul de Roraima, no início da semana, permitiu dar uma pista sobre a situação daquela delicada região, que está mais perto do Amazonas do que o centro do poder roraimense, em Boa Vista, onde a política realmente é decidida e as sedes dos poderes constituídos estão instalados.
Em seu depoimento na delegacia, o preso afirmou que um policial militar estaria contribuindo para facilitar a entrada de cocaína no posto fiscal da Vila Jundiá, que é a entrada e saída de Roraima para o país vizinho. E ainda disse que seus principais clientes consumidores seriam policiais e empresários da localidade.
Obviamente que o fato ganhou tímida repercussão pelo teor das declarações e dos citados no depoimento, sem contar que o traficante preso corre sérios riscos. Pela gravidade das acusações, as autoridades policiais agora terão a obrigação de passar tudo isso a limpo para que, caso seja verdade, as devidas providências sejam tomadas no enfrentamento à criminalidade.
O fato a não ser esquecido é que, cercada pela criminalidade, prostituição e expansão de tráfico de drogas, aquela cidade vive momentos preocupantes em relação à Segurança Pública, conforme artigo anterior, intitulado “Sul do Estado sitiado pelo crime enquanto a população vive sob o signo do medo”, dia 18 passado, que retrata o avanço do crime.
A revelação desse traficante também acaba por fortalecer o que foi comentado no artigo de ontem, “Uma realidade que está em curso que não pode ser ignorada pela sociedade”, a respeito da contaminação de setores importantes da sociedade, o que incentiva a formação de mais crimes e o fortalecimento de atividades fora da lei.
Somando-se a isso está a corrupção na política, que é outra desgraça naquela região, o que pode ser evidenciado por duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) da Assembleia Legislativa de Roraima que têm como alvos o desvio de recursos no Município de São Luiz do Anauá e a grilagem de terras que incluem assentamos no Município de São João da Baliza, Rorainópolis e de próprio São Luiz do Anauá.
Não pode ser esquecido que a política partidária viveu momentos cruciais em 2023, quando houve cassação e renúncia de prefeitos após operação da Polícia Federal sobre corrupção. Mas como os cofres púbicos podem até secar, mas logo ficam cheios, nas eleições municipais passadas políticos que já haviam escalpelado o Município de São Luiz do Anauá, alvo da CPI dos desvios de recursos, estavam querendo se apossar de Rorainópolis.
Consequência disso foi uma outra operação da PF, em dezembro passado, para desmantelar um esquema de corrupção eleitoral em Rorainópolis com aliciamento de eleitores e compra de votos a partir de São Luiz do Anauá. A finalidade era óbvia: deixar Anauá para trás, depois de anos sendo submetido ao sumidouro de verbas públicas, para implantar o mesmo sistema em Rorainópolis.
Então, esta é a realidade do Sul de Roraima, onde Rorainópolis é a porta de entrada não apenas geograficamente, mas também da corrupção, narcotráfico e o crime organizado. E tudo isso de mãos dadas com essa velha política de currais eleitorais e grilagem de terras, que abre as portas para outros crimes.
As CPIs da Assembleia Legislativa e as investigações da Polícia Federal e da Polícia Civil precisam dar uma resposta a tudo isso. É a esperança que resta, já que o povo não consegue mais se libertar sozinho por meio do voto.
*Colunista
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