Diante do Papa: um encontro que ecoará para sempre

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Por Renata Bueno*

Nesta segunda-feira, 21 de abril, o mundo se despediu de uma das figuras mais influentes e transformadoras da era contemporânea. Jorge Mario Bergoglio, o nosso querido Papa Francisco, faleceu aos 88 anos, às 2h35 (horário de Brasília), 7h35 em Roma, na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano.

A notícia foi confirmada pelo cardeal Kevin Farrell. Saber de sua partida me trouxe uma dor serena, acompanhada de uma gratidão profunda por tê-lo encontrado em vida. Não há palavras que traduzam com precisão a emoção de estar diante do Papa Francisco.

Ao vê-lo pela primeira vez, não encontrei apenas um líder religioso, mas um homem cuja presença irradiava humildade, compaixão e uma serenidade que transcendia o comum. Seus olhos, intensamente humanos, refletiam o peso do mundo e, ao mesmo tempo, uma esperança inquebrantável.

Para mim, a morte de Francisco representa uma perda imensurável, não apenas como católica ou como alguém que atua na vida pública, mas como latino-americana. Essa experiência se torna ainda mais profunda quando se contempla o papel transformador que o Papa Francisco desempenhou, não apenas dentro da Igreja Católica, mas no cenário global. Ele foi uma ponte entre mundos, um pontífice que se fez ouvir por religiosos e não religiosos, progressistas e conservadores, chefes de Estado e cidadãos comuns.

Sua liderança foi pautada por gestos simples, palavras firmes contra as injustiças e um apelo constante à paz e à fraternidade. Francisco deixa um legado que marcará gerações. Nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, na Argentina, ele entrou para a história como o primeiro papa latino-americano, o primeiro jesuíta a ocupar o cargo e o primeiro pontífice da era moderna a assumir o papado após a renúncia de Bento XVI.

Sua capacidade de falar diretamente ao coração, rompendo barreiras e preconceitos, fez dele uma figura singular: um farol moral em tempos de sombras e incertezas.

O Papa Francisco não foi apenas um sucessor; foi uma voz firme e compassiva em meio ao ruído do mundo. Enquanto muitos líderes políticos se refugiavam em discursos excludentes, ele pregava o encontro, o diálogo e a misericórdia. Em tempos de crise climática, quando tantos preferiam o silêncio, ele lançou a encíclica Laudato Si’, um manifesto urgente em defesa da Casa Comum.

Em uma sociedade cada vez mais individualista, repetia com convicção: “Ninguém se salva sozinho.” Conhecido por seu perfil carismático, acessível e verdadeiramente próximo das pessoas, ele promoveu reformas essenciais dentro da estrutura da Igreja Católica.

Buscou modernizar a instituição, garantir mais transparência financeira no Vaticano, abrir espaços de escuta e inclusão, e adotar um olhar mais humano e menos burocrático sobre as questões sociais, culturais e religiosas.

Sua morte marca não apenas o fim de um pontificado, mas o encerramento de um ciclo de coragem profética. Sob sua liderança, a Igreja se reposicionou como uma voz ativa nas grandes questões da humanidade, resgatando seu papel de consciência crítica diante das injustiças do mundo. Ele nos mostrou que é possível viver a fé de forma comprometida com o nosso tempo, sem perder os princípios mais genuínos do cristianismo.

No Brasil, sua figura foi igualmente marcante. Como Papa, Francisco visitou o país numa ocasião memorável: a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Rio de Janeiro, em 2013. Suas palavras sobre justiça social, cuidado com os pobres e defesa da Amazônia ressoaram profundamente em uma nação marcada por desigualdades e desafios ambientais.

Ele não apenas se dirigiu aos católicos brasileiros, mas também dialogou com líderes políticos e sociais, incentivando uma cultura de solidariedade e paz em meio a polarizações. Francisco foi uma figura que aproximou a Igreja do povo, que dialogou com diferentes culturas e crenças, e que enfrentou, com sabedoria e empatia, temas urgentes como a crise climática, a desigualdade social, o sofrimento dos imigrantes e a violência contra as mulheres.

Seu impacto ultrapassa os muros do Vaticano. Na Itália e em toda a Europa, sua influência moral moldou debates sobre imigração, justiça social, meio ambiente, paz e direitos humanos. Ele nos deixa um exemplo poderoso de humanidade, de fé em ação e de compromisso com os valores cristãos mais puros: o amor ao próximo, a justiça e o perdão.

Um legado que impactou não apenas a Igreja, a comunidade italiana e o Brasil, mas o mundo inteiro. Estar diante dele, por algumas vezes, foi mais do que um privilégio; foi um lembrete de que os grandes líderes não são aqueles que impõem, mas os que inspiram.

Papa Francisco nos ensinou que a verdadeira autoridade nasce do serviço, da escuta e do amor. Sua ausência deixa um vazio, mas também uma herança poderosa, viva, transformadora e necessária. Que seu legado siga iluminando o caminho de líderes e cidadãos em todo o mundo. Sua voz se cala, mas seu eco seguirá ressoando nas consciências, nas decisões, nos gestos de compaixão e justiça que ele tanto promoveu.

Descanse em paz, Papa Francisco. Obrigada por tudo.

 

Renata Bueno é uma parlamentar ítalo-brasileira nascida em 1979 em Brasília, DF, Brasil. Conhecida por seu envolvimento na política e na defesa dos direitos dos descendentes de italianos no Brasil. Renata Bueno foi eleita deputada federal em 2010, sendo a primeira mulher eleita pelo Partido Socialista Italiano (PSI) fora da Itália. Sua atuação política tem sido focada em temas relacionados à cidadania italiana, imigração, e fortalecimento dos laços entre Brasil e Itália. Ela é presidente da Associação pela Cidadania Italiana no Brasil e tem trabalhado para facilitar o processo de reconhecimento da cidadania italiana para descendentes de italianos no país. Além de parlamentar, Renata é advogada e empresária, com o Instituto Cidadania Italiana e Mozzarellart.

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