Dia do choro: “música permitiu a conexão com meus ancestrais”, diz cavaquinista de Brasília

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Por Rodrigo Fontão
Agência de Notícias CEUB

 

O Dia Nacional do Choro é tradicionalmente celebrado em 23 de abril, em homenagem à data de nascimento de Pixinguinha, um dos maiores nomes do gênero

Para Amanda Guimar, cavaquinista brasiliense de 29 anos, “O choro, como é instrumental na sua essência, permite que você tenha uma interpretação diferente durante as músicas”, afirma. Ela é do grupo “Regional Fulanitas”.

O choro, ou chorinho, como é popularmente conhecido, é um gênero da música popular brasileira que surgiu no Rio de Janeiro durante o século 19. Trata-se de um estilo musical instrumental, marcado principalmente pela capacidade de improviso e pelo jeito “choroso” com que os instrumentistas se expressam nas músicas.

No chorinho, a base instrumental é composta por cinco instrumentos: flauta, violão, cavaquinho, pandeiro e bandolim. A flauta e o bandolim se destacam nos solos, enquanto o cavaquinho conduz o ritmo e o pandeiro cuida da percussão.

Seu jeito “choroso”

Uma das principais características do gênero é o seu jeito melancólico de tocar. As letras — elemento que geralmente mais chama a atenção dos ouvintes — dão lugar a uma harmonia acelerada, melódica e melancólica.

O termo “choro” possui várias teorias sobre a origem do nome. Uma delas, e talvez a mais conhecida, vem da maneira “chorosa” de se interpretar as músicas e dos seus apreciadores, que passaram a caracterizá-lo como música de fazer chorar, no final do século XIX.

Outra explicação para a origem do termo vem dos “charameleiros”. Durante o período colonial, grupos de músicos afro-brasileiros tocavam charamelas — antigo instrumento de sopro feito de madeira — em frente às igrejas.

Quando o choro revela o passado

Para Amanda, o chorinho é uma forma de se conectar com a cultura brasileira e também com seus ancestrais.

E foi através das músicas de Pixinguinha, principal nome do gênero no Brasil, que descobriu histórias sobre sua família.

“Choro foi a primeira música urbana, e, desde que comecei a aprender, descobri muitas coisas da minha família que eu não sabia”, conta.

Uma das histórias que descobriu vem por parte materna. Ela conta que, ao começar a tocar choro, sua mãe resgatou algumas memórias sobre sua avó.

E foi com a música Rosa, de Pixinguinha, que descobriu uma curiosidade sobre a avó. “Minha mãe falou: ‘sua avó adorava Pixinguinha. A música favorita dela era Rosa’. Informações que eu não teria se não estivesse nesse universo do choro”, conta a cavaquinista de 29 anos.

Chorinho em Brasília

A capital federal abriga um dos cenários mais expressivos do choro. Se no passado Brasília ficou conhecida pela cena roqueira dos anos 1980, hoje o gênero da vez é um produto genuinamente nacional: o chorinho.

Mas essa é uma história que começou antes mesmo de o rock fazer história por aqui. Ainda nos anos 1960, o então presidente Juscelino Kubitschek estimulou e patrocinou a vinda de grandes nomes do choro para cá. Entre eles, Waldir Azevedo.

Dessa semente germinou o Clube do Choro. São décadas de intensa atividade musical. E é o embrião, também, da Escola Raphael Rabello, a única do país voltada para o ensino do choro.

Brasília vive um momento de crescimento no cenário do choro. As tradicionais rodas de chorinho, que muitas vezes acontecem somente no Plano Piloto, vêm ganhando cada vez mais espaço nas regiões administrativas, promovendo uma democratização do gênero.

“O que faz o choro de Brasília ser único é a parte em que a gente consegue fazer as rodas e um cenário muito mais aberto para a inovação, para outros estilos, para o choro não ser apenas um gênero, mas se desenvolver como uma linguagem.”, comenta Amanda.

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