Cirurgia plástica e a reconstrução emocional: o bisturi pode transformar, mas a cura começa na alma

Em um mundo onde a aparência carrega tantos significados, a cirurgia plástica muitas vezes é vista como ferramenta de beleza e rejuvenescimento. Mas, para o cirurgião plástico Dr. Josué Montedonio, o que se apresenta em seu consultório vai além da estética. Todos os dias, ele recebe histórias – de dor, superação e recomeço. Histórias que não cabem apenas na linguagem técnica da medicina. São histórias humanas.

 

Tem crescido o número de pessoas que procuram cirurgias não apenas para transformar o corpo, mas como parte de um processo emocional mais profundo. “Já atendi mulheres que venceram o câncer e buscavam resgatar sua feminilidade com a reconstrução das mamas. Vítimas de violência tentando apagar marcas de um passado cruel. Homens e mulheres trans querendo expressar, no corpo, a verdade que carregam há anos. Pacientes com cicatrizes de acidentes, ou da dor silenciosa da automutilação, em busca de um novo reflexo”, relata Dr. Montedonio.

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Mais do que estética, o que chega ao consultório do Dr. Josué são relatos de dor, reconstrução e a busca por sentido e pertencimento

Ele pontua que, apesar da cirurgia plástica ser uma aliada poderosa no processo de transformação, ela jamais será a protagonista da cura emocional. “A verdadeira mudança começa de dentro”, afirma.

 

A crença de que o bisturi é uma espécie de ‘chave mágica’ que pode reescrever histórias, apagar traumas ou ressignificar perdas é, segundo ele, um ponto de alerta. “Ignorar os limites da cirurgia pode levar à frustração – tanto para o paciente quanto para o profissional.”

 

Em sua trajetória, o médico se recorda com nitidez de um caso que o tocou profundamente: uma mulher de 60 anos que havia perdido a filha para o câncer. Ela buscava na cirurgia facial uma forma de se reencontrar no espelho. O resultado técnico foi impecável. Mas, dias após o pós-operatório, ela voltou com o mesmo olhar entristecido. “Ela me disse: ‘Eu esperava renascer, mas continuo sentindo a mesma dor’. Ali entendi que, apesar do sucesso da cirurgia, eu havia falhado no acolhimento emocional.”

 

Esse episódio marcou uma virada na forma como o cirurgião escuta seus pacientes. “Hoje, antes de perguntar o que a pessoa quer mudar no corpo, eu quero entender o que ela quer transformar na vida. Se essa resposta ainda não estiver clara, talvez o bisturi precise esperar.”

 

A cirurgia plástica, feita com consciência e propósito, pode ser, sim, transformadora. Pode devolver autoestima, confiança, e até ajudar na cura emocional. Mas, segundo Dr. Montedonio, ela nunca será suficiente sozinha.

 

“A cura de verdade começa na alma. A cirurgia pode celebrar um processo interno que já está em andamento, mas jamais deve ser o alicerce de uma mudança. Quando a força vem de dentro, o resultado externo ganha outro sentido.”

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