
Walber Aguiar*
Francisco é mais que um nome, mais que um sacramento, Francisco é o evangelho no chão da vida
Nasci no bairro de São Francisco, próximo da igrejinha que leva o nome do santo amigo dos bichos. Também Francisco é o exemplo da devocionalidade dos pés descalços; daquele que se vestiu da nudez da matéria e da extrema grandeza da espiritualidade humana. Também o nome dado ao cidadão Jorge Mário Bergoglio, um sacerdote a serviço da vida, do sonho humano de transformar utopia em realidade.
Nasci no bairro de São Francisco, perto do bar de seu Neir, onde haviam taxistas e meninos comprando chicletes e sendo levados pela mãe para a igreja do bairro. Tudo convergia para o bem, a inocência, a vontade de descobrir o que nos vazava por dentro, enquanto sedentos por algo maior que nós, cansados que estávamos apenas da imanência e do cotidiano no olhar.
A vida transcorria na leveza e ludicidade dos dias. Buscávamos o transcendente ainda que a espiritualidade integral fosse atravessada pelas pequenas coisas, um abraço, a bênção pedida dos mais velhos, a contemplação do lavrado e seus pássaros ariscos.
Isso porque a transcendência se dava nos encontros com a vida, com a natureza, consigo mesmo. Aí residia a santidade dos Franciscos. A vida abundante dada por Jesus a Francisco de Assis, o santo que conversava com cães, gatos e todos aqueles que cruzavam o seu caminho, na perspectiva da alteridade, da samaritanização dos dias.
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Por essa causa o papa argentino Jorge Mário Bergoglio, o nosso Francisco, viveu como bem entendeu viver, morreu como foi possível. E nesse espaço entre o berço e a sepultura, ele teve a ampla compreensão do existir humano, ainda que apelidado de marxista cultural por aqueles que vivem na bacia do ódio, na religião da hipocrisia e da obtusidade.
Papa Francisco fez, à semelhança de Jesus, opção preferencial pelos pobres, encarnou o samaritano, enquanto abraçava a todos e todas, sem nenhum preconceito contra gays, lésbicas, negros, loucos e marginalizados.
Nasci no velho bairro de São Francisco. Geografia da devocionalidade dos pés ligeiros e descalços de meninos e meninas. Lugar de Williams Camiranga, Magnos velho, Paulo Maciota, caboco Clério, nego João, os meninos do Arigó, Darlen, Nairon, caboco Mororó, Neto Qualhada, Mundin, seu Pinheiro, Chinelão, Zé Chica, dona Zélia e família, Dona Vevé e seus meninos, Iolanda, Barbosa,bode, Márcio, Mário, Bunitin, Mário bunda, Genésio do trombone, dona Maria, Wanda, Cleres, Creyse, pessoal do Chico Cunha, Lauriston e boca.
Todos estes abraçaram a grandeza e a santidade do bairro de São Francisco, dos meninos, de suas mães, do santo dos bichos e do papa mais bonito e humano que já existiu: o papa Francisco.
Um dia todos nos encontraremos num lugar que não será um templo, mas naquele lugar onde o que iluminará a cidade será o brilho, a glória, a luz do Cordeiro Eterno…
*Poeta, historiador, Mestre em Letras, Professor de filosofia e membro da Academia Roraimense de Letras.
O post Filhos de Francisco apareceu primeiro em Folha BV.