SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Encontrar com J.D. Vance, o vice-presidente dos Estados Unidos, foi um dos últimos compromissos que papa Francisco manteve antes de morrer nesta segunda (21). Eles estiveram juntos na véspera, no domingo de Páscoa, no Vaticano.
O vice registrou a reunião no X. Disse que seu coração “está com os milhões de cristãos em todo o mundo que o amavam” e que ficou “feliz em vê-lo ontem, embora ele estivesse obviamente muito doente”. Também afirmou: “Sempre me lembrarei dele pela homilia abaixo que ele proferiu nos primeiros dias da Covid. Foi realmente muito bonito”.
Vance se converteu ao catolicismo já adulto, em 2019, num país de maioria evangélica os EUA só tiveram dois presidentes católicos, John F. Kennedy e Joe Biden. O atual vice flertou com o ateísmo antes de aderir à fé da Cúria Romana.
Em 2021, disse sobre sua conversão: “Gostei muito do fato de a Igreja Católica ser tão antiga. Eu sentia que o mundo moderno estava em constante transformação. As coisas em que você acreditava dez anos atrás não eram mais aceitáveis dez anos depois”.
O Vaticano descreveu seu encontro com o pontífice como breve. Durou “alguns minutos, para trocar bons votos no dia de Páscoa”. No mesmo dia, Francisco fez uma aparição pública surpresa, dentro do papamóvel, para a massa que acompanhava a missa de Páscoa na praça de São Pedro.
Francisco recebeu Vance numa sala do hotel onde ele morava, no Vaticano, e lhe ofereceu uma gravata, rosários e três ovos da Páscoa para os filhos do vice-presidente americano.
Papa Francisco era um crítico do presidente Donald Trump. Em fevereiro, alvejou a Casa Branca pelo plano de deportar milhões de imigrantes. A mensagem, endereçada a bispos dos EUA, não comprava a manobra teológica de Vance para justificar a repressão àqueles que, “em muitos casos, deixaram suas terras por motivos de extrema pobreza, insegurança, exploração, perseguição ou grave deterioração do meio ambiente”.
O cerco contra essas pessoas, segundo o papa, “fere a dignidade de muitos homens e mulheres, e de famílias inteiras, e os coloca em um estado de particular vulnerabilidade”.
Dias antes, Vance havia convocado um princípio da teologia católica medieval, o “ordo amoris”, para embasar as medidas tomadas pelo governo Trump contra imigrantes.
O vice argumentou então que esse conceito, que pode ser traduzido como “ordem do amor”, traduz o “senso comum básico” de que as obrigações morais com os próprios filhos se impõem àquelas que devemos ter “com um estranho que vive a quilômetros de distância”.