O glúten, por si só, não é um vilão universal do emagrecimento, mas pode ser um obstáculo silencioso para algumas pessoas. Trata-se de uma proteína presente no trigo, cevada e centeio, frequentemente associada a alimentos ultraprocessados, ricos em carboidratos simples e pobres em nutrientes — como pães brancos, massas e bolos industrializados. A médica Cíntia Machado (CRM-RS 45.813) comenta que esses alimentos favorecem picos glicêmicos, aumento da insulina e inflamação silenciosa, dificultando o emagrecimento. “Algumas pessoas apresentam sensibilidade não celíaca ao glúten, o que pode provocar distensão abdominal, fadiga, alterações de humor e retenção de líquidos — sintomas que comprometem o bem-estar e o processo de perda de peso. Portanto, não se trata de demonizar o glúten, mas de entender seu impacto individual e o contexto alimentar em que ele está inserido”, aponta.

Dra. Cintia Machado – Foto divulgação
Segundo a especialista, eliminar o glúten sem acompanhamento pode levar à substituição por produtos “glúten free” ultraprocessados, muitas vezes mais ricos em açúcar, gordura e aditivos químicos do que os originais. Isso gera uma falsa ideia de alimentação saudável, que não favorece o emagrecimento e pode até prejudicar a saúde metabólica. Ao excluir o glúten, é essencial diversificar as fontes de carboidratos e manter um padrão alimentar rico em vegetais, frutas, grãos integrais sem glúten e leguminosas.
Diagnosticada com lipedema e procurando melhorar a qualidade de vida, a modelo Yasmin Brunet buscou ajuda profissional, cortou o glúten da alimentação, priorizou exercícios físicos e emagreceu 10 quilos em dois meses. Na medicina integrativa, como lembra a médica, observa-se que pessoas com doenças autoimunes, distúrbios de humor, problemas dermatológicos ou inflamação crônica podem se beneficiar da retirada do glúten, mesmo sem um diagnóstico convencional. “É uma estratégia clínica que exige individualização e acompanhamento, mas que, muitas vezes, traz melhora na energia, na digestão e até na composição corporal”, pontua.
Emagrecimento
Conforme a médica, o glúten pode favorecer o emagrecimento quando a exclusão dele vem acompanhada de uma alimentação mais limpa e natural, com foco em alimentos in natura, vegetais, proteínas de qualidade e carboidratos de baixo índice glicêmico, como quinoa, arroz integral, batata-doce e leguminosas. “A melhora na digestão, na saúde intestinal e na inflamação também contribui para um metabolismo mais eficiente. Muitos pacientes relatam menos inchaço, mais disposição e maior saciedade — fatores que influenciam diretamente na adesão e no sucesso do processo de emagrecimento”, explica.
Cíntia ressalta que, se bem planejadas, dietas sem glúten podem ser absolutamente completas, ricas em fibras, antioxidantes, vitaminas e minerais. Ela diz que o segredo está na qualidade dos alimentos escolhidos, como, por exemplo, quinoa, amaranto, arroz integral, milho e trigo sarraceno, excelentes fontes de carboidrato, sem glúten e altamente nutritivos. Ademais, a especialista reforça que quando o paciente é orientado a basear sua alimentação em vegetais, frutas, castanhas, sementes e proteínas de boa origem, o resultado é um prato colorido, funcional e capaz de promover não apenas emagrecimento, mas saúde integral.
Contudo, se o paciente não tem intolerância ao glúten, mas deseja emagrecer eliminando essa proteína, a especialista salienta que cortar o glúten pode ser positivo se a substituição for feita com inteligência nutricional. Cíntia esclarece que em vez de focar em produtos “sem glúten” industrializados, o ideal é priorizar alimentos naturais como raízes (mandioca, inhame e batata-doce); grãos (arroz integral e quinoa); leguminosas (lentilha e grão-de-bico) e muitas hortaliças.
Esse tipo de alimentação reduz o consumo de farinhas refinadas, melhora o funcionamento intestinal, regula a saciedade e ajuda na estabilização dos níveis de glicose e insulina — aspectos fundamentais para quem deseja emagrecer com saúde. “O mais importante é o paciente compreender que o emagrecimento verdadeiro vem da mudança do estilo de vida e não apenas da exclusão de um único ingrediente”, finaliza.