RANIER BRAGON
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O esforço para buscar um acordo que encerrasse a greve de fome do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) envolveu um telefonema da ministra de articulação política de Lula (PT), Gleisi Hoffmann, para o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Gleisi visitou Glauber na Câmara no último sábado (12) e teve uma conversa reservada com o deputado, testemunhada por outras pessoas. Segundo relatos, ela prometeu procurar o presidente da Casa.
Isso seria feito, porém, de forma mais discreta possível, para não criar melindres na já instável base política de Lula no Congresso. O centrão, que é majoritário, trabalhou ativamente para cassar o mandato de Glauber.
O deputado anunciou na tarde desta quinta-feira (17) o encerramento da greve de fome que havia iniciado no último dia 9, nas dependências da Câmara, pouco após o Conselho de Ética da Casa recomendar a cassação de seu mandato.
A decisão foi tomada depois que Hugo Motta concordou com uma negociação para suspender o processo de cassação contra Glauber por 60 dias, empurrando eventual votação no plenário para o segundo semestre.
Até lá, a ideia dos aliados do deputado do PSOL é reunir apoio para que não haja a votação ou para que, em havendo, seja aprovada uma punição mais branda, como advertência ou suspensão do mandato.
Em abril de 2024, Glauber expulsou da Câmara com chutes e empurrões um militante do direitista MBL (Movimento Brasil Livre). O psolista também angariou grande antipatia entre seus pares, pautando seu mandato pelo enfrentamento ao centrão e a colegas no plenário.
Sua cassação, se concretizada, representaria uma medida inédita —a primeira vez que um deputado teria essa punição por uma agressão física.
A possível cassação de Glauber é vista com preocupação pelo PT e governo também pelo fato de a ex-senadora Heloísa Helena (Rede-RJ) ser a suplente. Ela foi expulsa do PT em 2003 por ser contra a Reforma da Previdência e até hoje é vista como potencial dor de cabeça para Lula caso volte ao Congresso.
Além de Gleisi, vários integrantes do PSOL e do PT articularam a construção do acordo para o fim da greve de fome. Estiveram na linha de frente das conversas a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), esposa de Glauber, e o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).
Lindbergh também conversou várias vezes com Hugo Motta, que está em viagem particular ao exterior.
“Hugo Motta agiu, nesse caso, como um presidente da Câmara deve agir: mediando, que é diferente de ‘fazer média’, para distensionar. Agora teremos mais dois meses para o fazer o que os que querem cassar o mandato de Glauber Braga nunca fizeram: Argumentar. Contra o absurdo dessa ‘pena capital’ por vingança política”, escreveu em suas redes sociais o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), outro integrante da força-tarefa montada em busca do acordo.
Durante os dias de greve de fome, oito ministros de Lula foram ao local visitar o deputado do PSOL —Gleisi Hoffmann, das Relações Institucionais, Sidônio Palmeira, da Secretaria de Comunicação Social, Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência, Cida Gonçalves, que chefia a pasta das Mulheres, Macaé Evaristo, dos Direitos Humanos, Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas, e Anielle Franco, da Igualdade Racial.
De acordo com sua assessoria, o deputado Glauber saiu da Câmara direto para um hospital de Brasília, por recomendação médica, para avaliação de sua situação de saúde. Ele teria ingerido apenas água, soro e bebidas isotônicas nesses dias, tendo emagrecido cinco quilos, mas mantido em geral boas condições de saúde.
Ele retomará a alimentação aos poucos, no início por meio de dieta líquida. De acordo com indicação médica, a reintrodução alimentar deve ser gradual e lenta para evitar complicações gastrointestinais, com alimentos como caldos de galinha ou de vegetais, suco de frutas diluído, água de coco, arroz branco ou macarrão.
Na semana que vem, o deputado deve enviar à Comissão de Constituição e Justiça da Casa recurso contra a decisão do Conselho de Ética.