MARCELO TOLEDO
PIRACICABA, SP (FOLHAPRESS)
Um pacote tecnológico que pretende dobrar a produtividade das lavouras de cana-de-açúcar até o final da próxima década foi apresentado nesta terça-feira (15) no CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), em Piracicaba (a 160 km de São Paulo).
Foram anunciadas pelo CTC num evento para investidores -CTC Day- novas variedades de cana, desenvolvidas com base em seleção genômica, inteligência artificial e edição gênica, uma plataforma que combina resistência à broca-da-cana, praga responsável por perdas de até R$ 8 bilhões por ano, e o que promete ser mais revolucionário, um novo sistema de plantio que usa sementes sintéticas de cana.
Envolvendo avanço da eficiência operacional e sustentabilidade, a previsão é que as tecnologias que preveem mais potencial, proteção e rapidez ampliem a produtividade da cana, principal cultura agrícola de São Paulo, até 2040.
Fruto de 11 anos de pesquisa, o novo sistema de plantio revoluciona a forma de plantar cana. Com o uso de semente sintéticas em desenvolvimento, a inovação deve acelerar a adoção de novas tecnologias, liberar áreas produtivas, aumentar a eficiência operacional e reduzir significativamente a pegada de carbono.
“O futuro está no campo”, afirmou o CEO do CTC, Cesar Barros, no anúncio do pacote. Ainda não há prazo para a entrada comercial das sementes no mercado.
O CTC, fundado em 1969, atua na área de pesquisas para o desenvolvimento de novas variedades de cana-de-açúcar e possui um dos maiores bancos de germoplasma do mundo, com 5.400 variedades em Camamu (BA).
O centro já desenvolve, há 11 anos, o sistema que prevê a troca das atuais mudas de cana-de-açúcar por um sistema simplificado.
Com ele, similar ao de sementes, a expectativa é a de que haverá crescimento nas áreas de plantio -já que não será necessário usar a terra atual para a produção de mudas-, além de a nova fórmula ser por natureza mais produtiva que as atuais mudas. Há a expectativa de que ela gere plantas mais sadias, numa lavoura com menos falhas.
O processo in vitro de produção da semente inclui a extração do material genético, a seleção das células de origem, a multiplicação celular acentuada e, ex vitro, o encapsulamento e o controle de qualidade em câmaras climáticas, segundo Suleiman Hassuani, gerente de pesquisa do CTC.
“A gente decidiu ampliar a escala de produção das sementes, para ter uma avaliação melhor”, afirmou ele, ao dizer que o CTC iniciou a construção de uma nova planta em janeiro, que deverá ficar pronta até o final do ano.
A ideia é que o espaço tenha capacidade de produzir centenas de hectares de sementes para fazer a avaliação em campo e ter a avaliação do setor sobre eventuais melhorias a serem feitas.
Entram na conta do crescimento projetado até 2040 também o aumento médio de 3% na produtividade que tem sido registrado nas últimas safras e a redução no uso de agroquímicos, água, combustíveis e emissões de CO2.
Atualmente, cerca de 6% da área é destinada à produção de mudas.
As pesquisas envolvem uma equipe com mais de 120 profissionais como biólogos, agrônomos, engenheiros, químicos, fisiologistas, geneticistas, cientistas de dados e economistas.
Novas variedades do atual sistema de cana também são resistentes à broca, principal praga das lavouras e responsável por prejuízos anuais de R$ 8 bilhões, valor que, somado à perda provocada por plantas daninhas, chega a R$ 14 bilhões por safra.
UM TRATOR E UMA PLANTADORA SUBSTITUEM MAIS DE 20 MÁQUINAS
No processo de plantio, o órgão afirma que a semente reduzirá a necessidade das mais de 20 máquinas atuais (entre colhedoras, plantadoras, transbordos, tratores e caminhões) para apenas um trator e uma pequena plantadora -em desenvolvimento em parceria com a John Deere e Marchesan/Civemasa-, que dobrarão a capacidade de plantio atual.
Nos testes apresentados nesta terça-feira, a máquina utilizou espaçamento de 40 centímetros entre as sementes, que poderão ser modificados conforme o andamento dos estudos que estão sendo feitos.
A busca por ampliar a produção sem necessidade de crescimento de área é vista pelo setor como essencial num estado como São Paulo, em que os preços de terra são muito altos em comparação com outros estados.
O desenvolvimento dos produtos convencionais e geneticamente modificados é feito nos laboratórios de Piracicaba e de Saint-Louis (EUA).
Na cidade baiana onde mantém o banco de germoplasma, o CTC mantém algumas variedades que remontam ao período do descobrimento do Brasil, numa área de 63 hectares cercada por mata atlântica na Costa do Dendê.