Moda como instrumento de inclusão e acolhimento

Em uma sala de costura do Senai de Criciúma, linhas e tecidos se entrelaçam com algo muito mais profundo do que o simples ato de criar roupas. São pontos costurados com empatia, moldes que respeitam individualidades e projetos que nascem de olhares atentos para as necessidades do outro. Assim surgiu a proposta de moda inclusiva desenvolvida pelos alunos da terceira fase do curso Técnico em Modelagem do Vestuário, dentro da disciplina de Prototipagem e Confecção.

Sob a orientação da professora Elizânia Gomes Vitório, os estudantes foram convidados a olhar além da estética tradicional e abraçar a moda como um instrumento de inclusão e acolhimento. “A gente percebe que existem poucas marcas que olham para essa necessidade específica. O projeto nasceu justamente disso: do desejo de fazer diferente, de fazer melhor para quem muitas vezes é esquecido pela indústria”, explica a professora.

A proposta envolveu pesquisas reais, contatos com pessoas que convivem com limitações físicas ou condições específicas de saúde, e o desenvolvimento de peças adaptadas — tanto em modelagem quanto em conforto e funcionalidade. Cada aluno escolheu um perfil, mergulhou na realidade daquele público e, a partir dali, começou a transformar tecidos em carinho e respeito.

Vivências que inspiram

Entre as histórias que mais emocionam está a de Lizangela Bianchini, aluna que decidiu criar uma peça para si mesma. Lizangela vive com um estoma e utiliza bolsa de colostomia. A partir da própria vivência, decidiu transformar uma experiência que costuma ser cercada de tabu e silêncio em inspiração para outras pessoas.

“É um problema que vou carregar pro resto da vida, então resolvi me adaptar da melhor forma. Mas percebo que muita gente não consegue. Então, meu objetivo com essa peça foi mostrar que dá pra viver normalmente, se vestir com estilo, com autoestima. Eu quero mostrar minha barriga, eu quero me mostrar do jeito que sou”, conta ela, com orgulho.

Sua criação é um conjunto moderno e ousado: uma saia longa com fenda frontal, cropped e uma capa para a bolsa de colostomia, todos harmonizados em estampa e modelagem. A peça é, acima de tudo, um manifesto silencioso de força, aceitação e inspiração.

Outra aluna, Vanusa Somariva, também encontrou no projeto uma maneira de transformar a realidade de quem ama. Ela criou um macacão adaptado para uma amiga que é acamada. Pensando nas dificuldades da colega com roupas convencionais, desenvolveu um modelo que traz conforto, praticidade e beleza. “Ela sempre reclama da roupa que sobe, que incomoda quando senta. Então fiz um macacão de bermuda com abertura lateral em velcro, fácil de vestir e sem desconforto. É simples, mas vai fazer diferença pra ela”, explica.

Em fase de finalização, com algumas peças já costuradas e outras ainda sendo modeladas, após a apresentação final, os protótipos serão provados e, em seguida, confeccionados no tecido original — pensado especialmente para proporcionar toque suave, conforto térmico e caimento ideal.

O projeto de sala de aula se tornou uma jornada de empatia e sensibilidade para os cerca de 20 alunos envolvidos. “Eu me sinto maravilhada com esse projeto. É emocionante ver o quanto os alunos se dedicam, o quanto se sensibilizam. E acima de tudo, perceber que estão fazendo algo que vai mudar a vida de alguém. Isso não tem preço”, finaliza a professora Elizânia.

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