Solução para Master pode passar por liquidação privada de ativos que não ficam com BRB

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ADRIANA FERNANDES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

A liquidação privada dos ativos e passivos do Master que não fizerem parte da transação de compra do banco de Daniel Vorcaro pelo BRB (Banco de Brasília) entrou na mesa de negociação.

A proposta envolveria o FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que garante os depósitos e as aplicações até R$ 250 mil, de acordo com pessoas a par das discussões ouvidas pela Folha. O fundo tem os grandes bancos privados como os maiores contribuintes.

Ao longo da última semana, a alternativa de vender e renegociar todos os ativos e passivos do Master que não forem para o BRB passou a ser considerada após o banco do governo do DF sinalizar que ficaria com uma fatia menor da empresa de Vorcaro.

Isso permitiria uma redução do escopo do negócio, anunciado pelo banco distrital no dia 28 de março. O acordo divulgado inicialmente pelo presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, previa um valor de R$ 23 bilhões de ativos de maior risco e menor liquidez do Master a serem apartados do negócio.

Essa parcela do Master comprada pelo BRB tem sido chamada no mercado bancário de “good bank” (banco bom), e o restante de “bad bank” (banco ruim). O “bad bank” é que passaria por um processo de liquidação privada, possivelmente por um banco contratado.

Nesse desenho, o BRB ficaria com as operações de crédito ao consumidor, o Credcesta (cartão consignado exclusivo para servidores públicos, aposentados e pensionistas), o Will Bank (braço digital) e outros ativos. Um montante agora calculado em torno de R$ 33 bilhões pelo banco do DF.

Nesse novo arranjo, a auditoria contratada pelo BRB está analisando os contratos e uma fatia boa do crédito seria incluída também no chamado “bad bank”, junto com precatórios, direitos creditórios de ações judiciais e ações de empresas.

O “bad bank” ficaria com um tamanho semelhante ao do “good bank”, e o Master seria dividido: mais ou menos metade para cada lado.

Nessa alternativa em discussão, o FGC coordenaria esse processo e poderia contratar um terceiro para fazer o trabalho de liquidação dos ativos. O conselho e o jurídico do FGC teriam que aprovar a solução.

Como essa é uma operação muito grande, o mais viável seria a escolha de um banco para fazer o negócio.

Um participante da discussão explicou que o modelo de separação do “good bank” e “bad bank” é comum no mercado bancário e cita os casos dos anos 1990, quando o Unibanco comprou o Nacional e quando o HSBC adquiriu os ativos saudáveis do Bamerindus após o Banco Central decretar a intervenção e depois a falência extrajudicial do banco de José Eduardo de Andrade Vieira, senador e ministro influente em Brasília.

Na época, quando as negociações com o Bamerindus chegaram a um impasse, a diretoria do BC resolveu decretar a intervenção. A reportagem da Folha ouviu quatro pessoas envolvidas na discussão, que não descartam a possibilidade de intervenção se não houver acordo dos quatro maiores bancos privados, do FGC e do BC para o impasse em torno do Master.

Um deles afirma que o BC, como órgão regulador do sistema bancário, “pode tudo”. A autoridade monetária analisa todas as propostas na mesa e olha também o custo não apenas para os investidores, os bancos e o FGC, mas também para a estabilidade do sistema financeiro. O processo só pode andar, na prática, quando o BRB detalhar o escopo do negócio. O BC vai analisar a operação do Master como um todo, incluindo o “bad bank”.

O presidente do BC, Gabriel Galípolo, já se reuniu com os dirigentes do Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e BTG Pactual, além de Daniel Vorcaro e o time do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa.

Uma proposta oficial ainda não foi apresentada ao FGC. Nesta sexta (11), Vorcaro e o presidente do BRB estiveram novamente na sede do BC em reuniões com Galípolo e diretores. A presidente do BB (Banco do Brasil), Tarciana Medeiros, também se reuniu com Galípolo, no final do dia. Os grandes bancos públicos, BB e Caixa Econômica Federal, se queixam nos bastidores de não estarem participando das discussões com o FGC, já que são grandes contribuintes ao fundo.

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