Governo Trump fecha Wilson Center, um dos principais think tanks de política externa dos EUA

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CARLOS VILLELA
PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS)

O corte de gastos promovido pelo Doge (sigla em inglês para Departamento de Eficiência Governamental), iniciativa do governo americano controlada pelo empresário Elon Musk, atingiu um dos principais think tanks de política externa do país.

O diretor do Wilson Center, Mark Green, renunciou no dia 1º de abril ao posto que ocupava desde 2021 após uma visita de inspeção da equipe do Doge ao instituto e o anúncio da destituição de seus principais cargos de liderança.

Cerca de um terço da força de trabalho do centro, composta por dezenas de funcionários federais, foi colocada em licença administrativa por tempo indeterminado.

Green, que é do Partido Republicano e foi deputado pelo estado de Wisconsin por oito anos- integrou o primeiro governo de Donald Trump entre 2017 e 2020 como administrador da Usaid, agência voltada ao financiamento de projetos de assistência social, saúde e alimentação em países subdesenvolvidos que foi um dos primeiros alvos de cortes do departamento liderado, ainda que não oficialmente, por Musk.

Ryan McKenna, porta-voz do Wilson Center, disse ao jornal The New York Times que o centro não comentaria a renúncia de Green ou as inspeções do Doge. A Casa Branca também não quis comentar.

Natasha Jacome, que foi diretora de operações do think tank, foi indicada para o cargo de presidente.

Críticos de Trump dizem que as intervenções e cortes de pessoal têm como objetivo centralizar o poder de agências federais nas mãos do republicano. A natureza jurídica e administrativa do Doge é considerada incerta. Apesar do nome, o órgão não possui status formal dos departamentos tradicionais que formam o governo. O dono da Tesla e da rede social X tem, oficialmente, o cargo de conselheiro sênior de Trump.

A oposição democrata se movimenta para afastar Musk do governo, e as ações do Doge vêm sendo contestadas na Justiça.

Os cortes mostram que o governo Trump está colocando em prática um decreto que o presidente assinou em março de terminando que a estrutura administrativa do Wilson Center fosse desmantelada. O texto determinava que o instituto fosse reduzido “ao mínimo de presença e função exigido por lei”, segundo um email que Green escreveu a membros e apoiadores do think tank. Na mesma mensagem, segundo o New York Times, ele dizia que “havia tomado ciência da ordem” e estava “elaborando planos para cumpri-la.”

O Wilson Center foi criado pelo Congresso americano em 1968 e é financiado por meio de uma parceria público-privada, recebendo tanto verbas governamentais e doações de indivíduos e empresas. Batizado em homenagem ao ex-presidente Woodrow Wilson -que governou os EUA entre 1913 e 1921 e liderou o país durante a Primeira Guerra Mundial-, o instituto é uma referência internacional em política externa.

Ainda não está claro como os cortes no Wilson Center afetam as atividades do Brazil Institute, o braço brasileiro do think tank.Os principais projetos do Brazil Institute são iniciativas de energia limpa, meio ambiente e justiça climática.

Em fevereiro, o Wilson Center organizou um evento com o coordenador da COP30, o diplomata André Corrêa do Lago. Um mês antes, um artigo assinado por Bruna Santos, diretora do Brazil Institute, analisava os possíveis impactos do segundo mandato do republicano na relação com o governo Lula.

“O retorno de Trump à Casa Branca pode minar as ambições climáticas de Lula, particularmente no que diz respeito aos esforços globais contra o desmatamento e pela sustentabilidade”, diz o texto.

As últimas atualizações do Brazil Institute nas redes sociais ocorreram em 1º de abril, data da renúncia de Green. Um evento marcado para a próxima quinta-feira (17), intitulado “Os Minerais Críticos do Brasil e seu Papel na Transição Energética Global”, foi cancelado.

A Folha de S.Paulo entrou em contato com o Brazil Institute, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.

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