SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O estreito de Darién, rota migratória entre a Colômbia e o Panamá, praticamente esvaziou após medidas restritivas do governo de Donald Trump que dificultaram o acesso ao asilo nos Estados Unidos.
O fluxo diário de mais de mil migrantes caiu para cerca de dez por semana no vilarejo panamenho de Lajas Blancas, onde antes funcionava um dos principais acampamentos da região, de acordo com a agência de notícias Associated Press. A mudança ocorreu após pressões dos EUA sobre países latino-americanos para conter a migração.
Há pouco mais de um ano, o pequeno porto fluvial panamenho de Lajas Blancas estava lotado de pessoas tentando chegar aos EUA. Agora, o acampamento improvisado de migrantes se tornou uma cidade fantasma.
Em 2023, a migração pelas trilhas de Darién, uma área também apelidada de “selva da morte”, bateu recordes, com mais de 500 mil pessoas fazendo a travessia em busca de melhores condições de vida, segundo dados do governo do Panamá.
Pessoas vulneráveis passavam dias para atravessar a floresta tropical e depois embarcavam em barcos de madeira estreitos pelos rios. A maioria era deixada em Lajas Blancas, onde se amontoavam em acampamentos lotados de famílias e embarcavam em ônibus para cruzar o Panamá e seguir viagem rumo ao norte.
Nos poucos meses desde que Trump assumiu o cargo, seu governo, que tem como uma das principais marcas a linha dura contra a imigração, efetivamente cortou o acesso ao asilo na fronteira entre os EUA e o México. Embora o fluxo de imigrantes já tivesse diminuído bastante no último ano do governo de Joe Biden, ela caiu para um nível quase inexistente em Darién.
Isso deixou algumas pessoas presas, desencadeando um fluxo reverso de migrantes venezuelanos que, sem outras opções, viajam de barco pela costa caribenha do Panamá tentando voltar para casa.
No mês passado, o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, declarou: “Efetivamente, a fronteira com o Darién está fechada. O problema que tínhamos em Lajas Blancas foi eliminado.”
Após meses em que o governo panamenho impediu jornalistas de visitarem o porto e outros pontos-chave da antiga rota migratória, as autoridades concederam à Associated Press acesso à área de controle rigoroso. Pouco depois de chegarem, os jornalistas foram detidos pela fiscalização migratória e tiveram essas permissões retiradas, com as autoridades citando “questões de segurança.”
Ainda assim, os repórteres da AP viram as grandes tendas que antes abrigavam milhares de migrantes vazias, e os barcos que costumavam atracar às margens do rio se tornaram raros. As lojinhas improvisadas que vendiam comida, água e outros produtos aos migrantes também estavam desertas.
No estreito de Darién, organizações como a Cruz Vermelha e o Unicef, que ofereciam ajuda aos migrantes, fecharam as portas. A polícia de fronteira panamenha agora controla estritamente o acesso ao porto, e as autoridades adotaram um discurso de dissuasão à migração.
Uma placa no centro de Lajas Blancas serve de lembrete. Escrito em espanhol, inglês, crioulo e árabe:
“Darién não é uma rota, é uma selva.”
O Panamá e outros países da América Latina correram para atender às exigências do governo Trump de reprimir a migração rumo ao norte. Recentemente, os EUA reconheceram os esforços do Panamá para reduzir a migração pela região de Darién, com um porta-voz do Departamento de Estado afirmando que a travessia caiu em 98%.
A Folha de S.Paulo visitou Darién em 2024. Os repórteres Mayara Paixão e Lalo de Almeida passaram seis dias na região, do fim de janeiro ao início de fevereiro. Visitaram a comunidade indígena de Bajo
Chiquito, as Estações de Recepção Migratória de Lajas Blancas e San Vicente e o porto de Puerto Limón.