ANDRÉ BORGES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
Depois de sofrerem com a seca histórica ocorrida no ano passado, milhares de ribeirinhos de Rondônia são vítimas, agora, dos alagamentos da região decorrentes da temporada de cheia. Isolados, estão sem acesso a recursos básicos, como água e alimentos.
Conforme informações obtidas pela Folha, a Superintendência do Ministério da Pesca e Aquicultura em Rondônia fez um pedido emergencial nesta terça-feira (8) ao Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social para receber 21.222 cestas básicas.
O objetivo é enviar os alimentos para os 10,6 mil pescadores artesanais que trabalham no estado e que tiveram suas famílias diretamente atingidas pelas enchentes devido a necessidades de realocação e dificuldades de acesso a serviços básicos de saúde, educação e energia elétrica. A ideia é que cada pescador receba duas cestas básicas.
“É de amplo conhecimento o período de enchente no qual passa o Estado de Rondônia, com efeitos sobre o modo de vida e a economia pesqueira artesanal, especialmente, porque ocorre em seguida da pior seca dos últimos 55 anos”, afirma a Superintendência do Ministério da Pesca no Estado.
“Os danos são potencializados, ainda mais, pela situação social de vulnerabilidade histórica das comunidades pesqueiras artesanais, que vivem nas margens dos rios e os primeiros a serem atingidos e realocados”, completa o comunicado.
Questionada pela Folha sobre o novo pedido, a pasta do Desenvovimento e Assistência Social não se manifestou até a publicação deste texto. No período de seca extrema vivido na região no segundo semestre de 2024, a pasta enviou 3.000 cestas básicas para os pescadores de Rondônia.
O rio Madeira, maior afluente do rio Amazonas, está perto da cota de inundação, que é de 17 metros.
Segundo a Prefeitura de Porto Velho, o rio registrou na segunda-feira (7) o nível de 16,71 metros, uma altura capaz de provocar prejuízos às comunidades ribeirinhas, afetadas desde que o Madeira chegou à marca de 16 metros, em março.
Uma sala de situação montada pela prefeitura trabalha com informações conjuntas da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) e do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia.
A expectativa é de que o rio comece a baixar gradualmente ao longo das próximas semanas, com a vazante se iniciando ainda em abril, conforme as previsões de redução das chuvas na região.
Dos 10,6 mil pescadores artesanais de Rondônia, 5.500 (52,2%) são homens e 5.100 são mulheres. Na capital Porto Velho, vivem 8.100 pescadores artesanais. A requisição da superintendência do Ministério da Pesca no estado sugere que, devido à urgência da demanda, acione fornecedores já cadastrados na Ata de Registro de Preços do governo, para agilizar a compra.
“A distribuição de cestas contará com a participação de órgãos da sociedade civil (Colônias e entidades representativas de pescadores) e entidades governamentais para viabilizar a logística e acesso aos locais mais distantes”, diz o órgão superintendência.
“Uma das mais graves consequências da enchente é a realocação das populações ribeirinhas, dificuldades de acesso à água potável, educação, serviços básicos de saúde e comprometimento de sua renda, com consequente fome”.
A Defesa Civil de Porto Velho realiza ações para diminuir os impactos da cheia. Em parceria com as Forças Armadas e o Governo do Estado, são entregues produtos como água potável, cestas básicas, hipoclorito e kits de higiene pessoal. Também há o resgate de famílias e atendimento humanitário nas regiões mais afetadas.
A subida do rio afeta mais de 10 mil pessoas na capital, principalmente na área do baixo Madeira.
A Marinha enviou para a região um navio para ajudar na assistência à população atingida pela cheia. O navio de assistência hospitalar Soares de Meirelles oferece serviços de saúde como consultas médicas, dentistas, farmácia e radiologia às comunidades ribeirinhas isoladas.
A cheia do Madeira ocorre sete meses após o rio atingir um nível recorde de seca em Porto Velho.
Medições compiladas pelo Serviço Geológico do Brasil mostram que a cota do rio ficou em 1,02 m em setembro de 2024, ultrapassando o recorde anterior, de 1,1 m em 2023, ano de seca extrema na Amazônia ocidental.