Por que é tão difícil escutar?

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Você provavelmente já parou para avaliar sua forma de se expressar, refletiu sobre sua fala, sua performance ao se comunicar. Mas será que já fez o mesmo com a sua escuta? A verdade é que quase nunca paramos para pensar sobre como — ou se — estamos realmente ouvindo o outro. Isso acontece porque, de forma geral, estamos mais preocupados com o “eu” do que com o outro.

Se colocarmos o ego e a empatia em um duelo, é bem provável que o ego saia vencedor. Afinal, é da natureza humana priorizar a própria perspectiva. E talvez seja exatamente por isso que escutar — de verdade — seja uma habilidade tão rara e difícil de ser cultivada. Escutar exige sair de si e direcionar atenção ao outro: ao ele, à ela, ao nós. No entanto, sem escuta ativa, não existe comunicação eficaz. É por meio dela que compreendemos os diálogos em suas camadas mais complexas. Sem escuta, não há relações saudáveis — em lugar nenhum.

A maioria das pessoas gosta de ser ouvida, compreendida, mas poucas estão dispostas a parar o que estão fazendo para escutar o outro com atenção real. E mesmo quando o fazem, muitas vezes é apenas esperando a vez de falar. Como disse Stephen R. Covey: “a maioria das pessoas não ouve com a intenção de entender, ouve com a intenção de responder”. É por isso que tantas conversas viram monólogos alternados, cheios de interrupções e atropelos. Mal alguém começa a contar algo, e o outro já quer contar uma história parecida, puxando os holofotes para si.

Para que exista conexão genuína, é preciso mais do que palavras — é necessário escuta. Sem ela, o diálogo se torna superficial, e qualquer tentativa de vínculo profundo pode se perder. O escritor John O’Donohue dizia que “muitas vezes, os segredos não são revelados em palavras, mas estão ocultos no silêncio entre elas ou na profundidade do que é indizível entre duas pessoas”. Só escutando com atenção é possível acessar esse espaço entre palavras e silêncios.

E tem mais: a escuta ativa costuma ser ainda mais negligenciada justamente com quem está mais próximo. Isso foi observado por Boaz Keysar, em um artigo publicado no Journal of Experimental Social Psychology, ao identificar o chamado viés da comunicação. Em resumo: nos comunicamos pior com pessoas íntimas do que com desconhecidos. Isso acontece porque, ao presumirmos que já conhecemos bem alguém, deixamos de ouvir com real atenção, criando estereótipos e preenchendo lacunas sem checar o que o outro realmente está dizendo.

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Foto: Freepik

William Ury, uma das maiores referências em negociação de conflitos, afirma que é preciso calar o ego para ter sucesso nos relacionamentos: “Você precisa suspender sua reação quando quiser revidar, ouvir quando quiser rebater, perguntar ao invés de impor respostas, criar pontes em vez de forçar seu jeito”. Em outras palavras, é necessário domar a natureza impulsiva e egoísta que todos carregamos. Não se conquista ninguém no grito, mas sim na escuta, na compreensão, no respeito e na empatia — pilares da escuta ativa.

Então, pense no seu comportamento durante uma conversa: você sente necessidade constante de falar? Quer que todos prestem atenção em você? Essa é sua maior preocupação? Ou você busca uma troca verdadeira, com espaço para escutar o que se passa na mente do outro?

Se você costuma interromper as falas alheias; se entende só o superficial e não consegue aprofundar nas conversas; se ouve apenas para responder rapidamente e voltar às suas tarefas; ou se já nem escuta mais as pessoas próximas por achar que já as conhece o suficiente — talvez esteja na hora de exercitar sua escuta.

Como melhorar?

Esteja presente — de corpo e alma — no aqui e agora. Demonstre interesse genuíno pelo outro. Não escute seus próprios julgamentos e críticas enquanto o outro fala. Apenas ouça. Depois, reflita sobre o que foi dito. E, sim, você pode (e deve) fazer perguntas para checar se entendeu corretamente. Isso não demonstra fraqueza — mostra cuidado e atenção.

Escutar é um ato de generosidade. E também de coragem. Porque, ao fazer isso, você abre espaço para a conexão verdadeira.

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