Micro robô promete revolucionar tratamento de doenças cerebrais


Startup, cofundada por uma brasileira, trabalha com especialistas para lançar os dispositivos até 2030. Robôs do tamanho de um grão de arroz prometem revolucionar tratamentos de doenças neurodegenerativas e realizar biópsias com precisão. O micro robô, do tamanho de um grão de arroz, “navega” dentro do cérebro
Divulgação
Em 2007, a mãe do engenheiro mecatrônico francês Bertrand Duplat morreu vítima de um gliobastoma, um câncer agressivo do cérebro. A localização do tumor impossibilitava uma operação. Para Bertrand, foi difícil aceitar que nada poderia ser feito para aumentar seu tempo de vida, que neste tipo de câncer raramente ultrapassa os cinco anos.  
O luto impulsionou o engenheiro francês a concretizar um projeto: a criação de um dispositivo semiautônomo que pudesse “passear” pelo cérebro e ajudar os médicos nas cirurgias e tratamentos de doenças neurodegenerativas, como a doença de Parkinson ou o mal de Alzheimer. 
Foi assim que surgiu a empresa Robeauté, que, em tradução literal, significa “Beleza dos Robôs”. A startup foi fundada em 2017 pelo engenheiro francês e a executiva brasileira Joanna Cartocci, diretora de operações da marca, filha de mãe baiana e pai italiano, intérprete em seis idiomas e radicada na Europa desde os cinco anos.  
Joanna explicou em entrevista à RFI Brasil como esses pequenos robôs, do tamanho de um grão de arroz, poderão revolucionar a vida dos pacientes. 
“Hoje os cirurgiões quando operam o cérebro são limitados pela rigidez das agulhas. No caso de tratamentos com medicamentos, eles não chegam ao cérebro com a dose e a precisão necessárias para tratar várias doenças, sejam elas tumores, distúrbios neurodegenerativos, como Parkinson ou Alzheimer, ou doenças psiquiátricas”, explica.
Concebido e aperfeiçoado com a ajuda de neurocirurgiões ao longo dos últimos oito anos, os micro robôs podem chegar ao mercado até 2030. A equipe desenvolve o produto ao lado de cerca de 70 especialistas em Neurologia, como cirurgiões, clínicos e pesquisadores. 
Os testes em laboratório estão sendo realizados em grandes centros, como o hospital Pitié La Salpetrière, em Paris. A equipe também colabora com vários estabelecimentos nos EUA. Os testes clínicos com humanos devem começar no próximo ano, em diferentes hospitais.
“As ferramentas que os médicos têm à disposição atualmente são agulhas, cateteres que avançam no cérebro em linha reta, em apenas uma dimensão”, explica Joana. A precisão das intervenções cerebrais então esbarra atualmente na falta de tecnologia disponível e o objetivo do dispositivo é justamente preencher essa lacuna.
Como funciona
O micro robô é dividido em duas partes. “Tem uma parte inicial, que é o transportador, e a parte final, que é a extensão. No transportador, acrescentamos vários elementos tecnológicos e inovadores. Dentro dele, tem um micromotor, de 0.8 milímetros de diâmetro e o robô inteiro mede 1.8 milímetros de diâmetro. Ele é feito para navegar de maneira não-linear dentro do cérebro”.
O dispositivo é colocado no cérebro através de uma incisão na cabeça de cerca de cinco milímetros de diâmetro. Um lançador é então posicionado sobre o orifício e o dispositivo é injetado dentro do cérebro.  
“Ele vai navegar em uma trajetória pré-definida pelo cirurgião, para atingir uma ou mais áreas, e voltará pelo mesmo caminho. Um fio torna sua localização mais visível e ele sabe ir para frente e para trás”, especifica Joana.  
O micro robô não é pilotado pelo cirurgião, mas ele pode controlá-lo manualmente se for preciso. Uma vez ‘instalado’, o dispositivo navega no ambiente neuronal, que é protegido pela barreira hematoencefálica – uma membrana permeável que protege o cérebro de substâncias nocivas. 
Essa membrana também limita a passagem dos medicamentos – um dos problemas que o micro robô vai solucionar nas intervenções, as tornando minimamente invasivas de uma maneira geral. 
Outra função importante agregada ao dispositivo é a realização de biópsias. “Estamos testando o micro robô em ambientes pré-clínicos, ou seja, nos animais. O objetivo é iniciar os testes em humanos já no ano que vem. Vamos começar com a biópsia, porque é uma prova de conceito que funciona bem e com um risco menor”, descreve Joana. 
“O valor de uma tecnologia como essa é fazer três coisas de uma só vez: diagnosticar, com a biópsia, tratar, levando ou remédios ou a ferramenta necessária, e monitorar: poder ficar mais tempo dentro de um cérebro patológico, para entender se o remédio teve a difusão ou penetração necessária nos tecidos, para poder tratar essas doenças”, conclui.
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