MARIANA ZYLBERKAN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O segundo mandato do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tinha começado há um mês e, no fim de janeiro, ele já acumulava quatro agendas públicas ligadas à segurança pública, uma por semana.
Ao se aproximar dos cem primeiros dias de governo, completos nesta quinta-feira (10), o tema se consolidou como prioridade da gestão em anúncios e investimentos, e a estratégia passou a ser vista por aliados e opositores como investimento para 2026, para uma eventual candidatura ao Governo de São Paulo.
Responsabilidade do governo estadual, a segurança pública ganhou relevância, principalmente, no orçamento da cidade neste ano, que destina R$ 1,4 bilhão à pasta, após gastar R$ 1,3 bilhão no ano anterior. “Temos que fazer com que os bandidos temam a Guarda Civil Metropolitana”, disse Nunes durante cerimônia de formatura de novos guardas, no fim de janeiro.
A dedicação do prefeito ao tema escalou à discussão nacional após o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecer a constitucionalidade das guardas-civis integrarem as forças de segurança. Projeto de lei enviado à Câmara Municipal teve apoio da maioria para aprovar mudança do nome da GCM para Polícia Municipal –medida por ora suspensa pela Justiça.
No mesmo período, o prefeito levou o secretário de Segurança Urbana, Orlando Morando, a uma das três viagens que fez a Brasília para encontrar ministros do STF.
Segundo o prefeito, as viagens foram para tratar de mudanças na reforma da previdência dos servidores municipais, vigente no município desde 2021. As regras determinam cobrança de alíquota de 14% de todas as aposentadorias acima de R$ 6.500 e têm como base emenda constitucional aprovada por Jair Bolsonaro (PL) em 2019.
Ações no STF debatem a inconstitucionalidade da decisão do governo passado. “Fomos demonstrar para eles a importância de manter a saúde financeira [da cidade] até para garantir o pagamento da previdência para os aposentados e pensionistas”, disse o prefeito, na época, sobre os encontros com os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes.
Ao lado de Morando, eleito duas vezes prefeito de São Bernardo do Campo (ABC), Nunes também inaugurou o “prisômetro”, equipamento que atualiza em tempo real o número de prisões em flagrantes feitas pela Guarda Municipal por meio de câmeras com inteligência artificial.
Os números de foragidos presos e detenções em flagrantes passaram a constar com frequência nas declarações do prefeito, que também divulgou imagens de procurados sendo presos pelo sistema em suas redes sociais.
Apesar de negar publicamente qualquer motivação eleitoral ao priorizar a segurança, Nunes se mostra alinhado às lideranças da direita que o ajudaram na campanha de reeleição -o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Bolsonaro. “A minha pretensão é continuar os quatro anos [como prefeito], trabalhar para o Tarcísio ser candidato e espero que o Bolsonaro possa ser candidato”, disse recentemente ao ser questionado sobre intenção de disputar o governo estadual.
Outra decisão vista como uma sinalização eleitoral foi a nomeação de quatro ex-prefeitos da região metropolitana de São Paulo como secretários municipais, em uma tentativa de atrair o capital político dessas lideranças.
Sobre isso, a gestão negou motivações eleitorais e informou que “a escolha de cada integrante atendeu a critérios como aptidão, capacidade técnica e reconhecimento profissional”.
Um dia após uma das viagens do prefeito a Brasília, a cidade enfrentou temporal que causou uma morte, mais de 140 mil moradores sem energia elétrica, 300 árvores caídas e emissão de alerta severo pela Defesa Civil.
Diferente de crises anteriores, quando Nunes divulgou vídeos durante visitas ao centro de monitoramento da cidade com o colete da Defesa Civil para acompanhar os trabalhos, dessa vez, o prefeito demorou mais de 20 horas para aparecer nas redes sociais após o temporal para mostrar fotos de equipes da prefeitura removendo árvores caídas.
Na época, a gestão municipal informou que o prefeito acompanhou o restabelecimento de serviços após os estragos causados pela chuva.
Procurada para comentar os cem dias de gestão, a prefeitura afirmou que realizou 1 entrega a cada 3 dias para a população, totalizando mais de 32 nesse período.