Comunidade em Belém confronta empresa de saneamento com água suja da torneira

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VINICIUS SASSINE
BELÉM, PA (FOLHAPRESS)

Moradores da Vila da Barca, em Belém, uma das maiores comunidades do país com moradias em palafitas, fizeram um protesto contra uma obra de tratamento de esgoto a ser coletado de uma área rica da cidade e contra a péssima qualidade da água que chega às torneiras das casas.

As falas e gestos de protesto foram direcionados a integrantes do Governo do Pará, durante uma audiência pública realizada no bairro na noite de segunda-feira (7).

A audiência foi realizada para tratar da questão do esgoto, uma vez que os moradores se sentem discriminados pelo fato de não serem contemplados em obras de saneamento básico que estão em curso para a COP30 (conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas). Belém sediará o evento da ONU em novembro.

A reportagem questionou o governo Helder Barbalho (MDB) sobre o protesto feito, mas não recebeu resposta até a publicação.

Não há intervenções diretas na Vila da Barca relacionadas a coleta e tratamento de esgoto da região, como parte dos projetos da COP30. O que existe é uma extensão de uma obra feita num ponto rico da cidade -o parque linear na avenida da Doca, no bairro Umarizal, onde está um dos metros quadrados mais caros de Belém.

O parque inclui ações de coleta e destinação do esgoto produzido no Umarizal, e uma estação elevatória está prevista na região da Vila da Barca, relacionada à obra na avenida do bairro com alta valorização imobiliária.

“A estação elevatória de esgoto fica dentro da Vila da Barca, ao lado do conjunto habitacional”, afirma Inêz Medeiros, pedagoga e liderança social da comunidade. “Já o esgoto da Vila da Barca vai sem tratamento para a baía.”

Durante a audiência pública para tratar do assunto, moradores fizeram um protesto contra a qualidade da água que chega às torneiras.

Essa água tem tom amarelado, é fétida e não tem qualidade para ser consumida. Quem tem renda suficiente compra água mineral. Quem não tem usa a água que chega às torneiras, após ser fervida.

Segundo Inêz, diretores da Cosanpa (Companhia de Saneamento do Pará) que estavam na audiência pública disseram que consumiriam a água que chega às torneiras.

Moradores, então, levaram essa água com tom amarelado numa garrafa, colocaram na mesa onde estavam os diretores e serviram em um copo. Eles não beberam a água.

A Vila da Barca tem um conjunto habitacional com cerca de 300 residências, e outras 500 casas estão na área alagada, suspensas em palafitas, segundo as lideranças do local. Elas calculam que cerca de 5.000 pessoas vivem na região.

Sobre o esgoto, o tratamento definitivo do material destinado a partir da avenida da Doca ocorreria em uma estação fora da Vila da Barca, conforme as lideranças do bairro. A existência de uma estação elevatória, como etapa inicial, incomoda os moradores, até pela exclusão da vila em projetos do tipo.

Na audiência pública também estavam representantes da Seop (Secretaria de Obras Públicas), a pasta do governo que cuida de obras da COP30, e integrantes da Prefeitura de Belém, comandada por um aliado de Barbalho.

“O conjunto habitacional tem uma estação própria de tratamento, mas não está funcionando há quase dez anos”, diz Inêz. “O esgoto das casas de palafitas vai direto para a baía.”

A comunidade quer compensações em relação às obras que estão sendo feitas e diz que pretende acionar a Justiça.

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