Dólar tem nova disparada e cruza barreira dos R$ 6 com guerra de tarifas; Bolsa oscila

dólar

TAMARA NASSIF
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar está em nova disparada nesta quarta-feira (9), após a China anunciar tarifas de mais 84% sobre importações dos Estados Unidos.

A medida é uma resposta às taxas de até 104% sobre produtos chineses, determinadas pelo presidente Donald Trump na véspera e que entraram em vigor nesta madrugada.

Às 12h08, a moeda avançava 1,01%, cotada a R$ 6,057. Já a Bolsa caía 0,24%, a 123.630 pontos, em pregão volátil.

A guerra comercial entre Estados Unidos e China escalou mais uma vez.

Além das taxas retaliatórias de 84% anunciadas nesta manhã, Pequim impôs restrições a 18 empresas norte-americanas, principalmente em setores relacionados à defesa. Elas se somam às outras 60 que já foram punidas por causa do tarifaço de Trump. O banco central da China também pediu aos principais bancos estatais que reduzam as compras de dólares.

“A escalada de tarifas dos EUA sobre a China é um erro em cima de um erro, que infringe seriamente os direitos e interesses legítimos da China e prejudica seriamente o sistema de comércio multilateral baseado em regras”, disse o Ministério das Finanças da China em um comunicado.

Pequim já havia expressado preocupação sobre a escalada antes do anúncio, em comunicado enviado mais cedo à OMC (Organização Mundial do Comércio). “A situação se agravou perigosamente. Como um dos membros afetados, a China expressa séria preocupação e firme oposição a esse movimento imprudente”, disse à entidade.

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, classificou a reação do país asiático como lamentável.

“Acho lamentável que os chineses realmente não queiram vir e negociar, porque eles são os piores infratores no sistema de comércio internacional”, disse em entrevista ao canal Fox Business Network.

Bessent ainda disse que os países que se alinharem com a China com o objetivo de tentar contrabalançar os efeitos das tarifas americanas estarão “cavando a própria cova”.

“Isso seria como cavar a própria cova”, disse Bessent sobre os países europeus que consideram estreitar laços com Pequim após a entrada em vigor das novas tarifas aduaneiras do presidente Donald Trump.

“Eles não fazem nada além de produzir e produzir, fazem dumping e dumping”, completou.

As duas maiores economias do mundo têm trocado ameaças desde quarta-feira passada, quando o tarifaço foi anunciado. A China foi atingida inicialmente com uma sobretaxa de 34%, além do piso básico de 10% sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos e das demais barreiras comerciais erguidas por Trump nos últimos três meses.

Os chineses anunciaram tarifas retaliatórias na mesma magnitude, ainda na semana passada. Trump, na sequência, subiu a régua para 50% caso a retaliação não fosse suspensa, levando o montante total a 104%. Pequim não recuou, e as taxas dos EUA entraram em vigor nesta madrugada.

A postura combativa dos chineses, conhecidos por seu pragmatismo, vem de uma aposta de que têm mais fôlego político e econômico do que Washington para aguentar uma guerra comercial prolongada. A visão é de Yi Shin Tang, professor de relações internacionais da Universidade de São Paulo especializado em comércio internacional e direito internacional econômico, em entrevista à Folha de S.Paulo.

“Geralmente, em guerras comerciais, a discussão é quem tem o bolso mais fundo para aguentar. Todo mundo fala ‘Estados Unidos’, só que tem que ser analisado quem tem, digamos, maior fôlego político, para aguentar um longo período de recessão, caso isso se intensifique”, diz.

Os temores de uma recessão têm pautado os mercados globais. É esperado que o comércio internacional sofra um baque com as tarifas, o que pode afetar o crescimento econômico dos países mais afetados.

Segundo análises do banco JPMorgan, o tarifaço elevou os riscos de uma recessão global e dos Estados Unidos de 40% para 60% em apenas uma semana.

No caso dos norte-americanos, o choque tarifário também afeta a cadeia produtiva doméstica, o que pode aumentar a inflação enquanto a economia desacelera. Esse cenário leva o nome de “estagflação”, isto é, quando os preços sobem e a atividade fica estagnada.

“Paralelamente, vemos o mercado reagindo muito mal aos acontecimentos. Desde a retaliação inicial da China os mercados têm perdido valor de maneira intensa, precificando uma maior probabilidade de recessão mundial”, comenta André Valério, economista sênior do Inter.

Ele menciona a disparada dos títulos do Tesouro dos EUA, os treasuries, cuja curva de 10 anos foi de 3,88% para 4,44%, refletindo uma visão mais pessimista sobre a economia norte-americana e busca por liquidez. Esse movimento, segundo ele, adiciona pressão às curvas de juros futuros -o oposto do que o governo Trump deseja, “o que coloca a China em uma posição privilegiada para aguardar o desenrolar dos fatos antes de engajar em qualquer negociação com o governo americano”.

“Dado que o atual cenário é bastante danoso para as duas economias, esperamos que eventualmente algum acordo seja feito. Entretanto, não esperamos uma reversão tão rápida no curto prazo.”

A escalada entre chineses e norte-americanos respinga no Brasil dada a exposição do país a commodities, cujo maior mercado consumidor é a China. Com a visão de uma economia prejudicada pela escalada tarifária, a expectativa é que Pequim consuma menos matérias-primas, especialmente petróleo e minério de fero, dois grandes componentes da balança comercial brasileira.

“Assim, o real tem sido uma das moedas emergentes mais penalizadas nesse atual cenário, adicionado mais uma camada de incerteza para o nosso cenário.”

Adicionar aos favoritos o Link permanente.