Ameaçada por Trump e recessão, Alemanha anuncia novo governo

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JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
BERLIM, None (FOLHAPRESS)

A Alemanha tem um novo governo. Conservadores da aliança CDU/CSU e sociais-democratas do SPD confirmaram que chegaram a um acordo de coalizão 45 dias depois das eleições parlamentares. Friedrich Merz, 69, deve ser eleito primeiro-ministro em 7 de maio. “A Alemanha terá um governo capaz de agir e capaz de ser forte em suas ações”, declarou o futuro premiê, nesta quarta-feira (9), em Berlim.

Itens que pareciam intransponíveis até a semana passada, como imigração, previdência e energia, ganharam solução rápida diante da guerra comercial precipitada por Donald Trump, que atinge a União Europeia com tarifas de 20% sobre todos os seus produtos e 25% sobre aço, alumínio e carros. Maior exportadora do bloco, a Alemanha vive uma situação dramática, na descrição do futuro premiê.

Em linhas gerais, o acordo endurece a política imigratória, reverte políticas energéticas que oneravam a população, reafirmam o apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia e traçam planos de modernização e digitalização da economia. “A Alemanha está de volta aos trilhos”, afirmou Merz, em inglês, quando perguntado sobre qual mensagem enviaria para Trump. “A Alemanha vai cumprir suas obrigações em termos de defesa e está disposta a fortalecer sua competitividade. Levaremos junto a União Europeia.”

Antes considerado um dos políticos mais pró-EUA da Europa, Merz já classificou a administração Trump de não confiável e gastou capital político para aprovar o maior pacote de estímulo da Alemanha desde a reunificação ainda no Parlamento antigo. A manobra, que prevê gastos sem precedentes em defesa e € 500 bilhões (R$ 3,28 trilhões) para atualizar a infraestrutura do país pelos próximos dez anos, foi projetada para diminuir a dependência alemã dos EUA e fazer frente ao novo cenário geopolítico europeu.

O nome de Merz decolou no noticiário internacional, fez a bolsa disparar e ainda mexeu com o mercado de títulos públicos, em que o Bund, o papel alemão, é referência. No cenário doméstico, no entanto, o pacote foi recebido com ceticismo por políticos e agentes financeiros. Encerrar décadas de austeridade, marca de Angela Merkel, rival política de Merz no partido democrata-cristão, teve um custo de popularidade.

Nesta semana, pela primeira vez, a AfD, o partido de extrema direita da Alemanha, superou a CDU numericamente nas pesquisas eleitorais, que são realizadas semanalmente no país. Segundo levantamento da Ipsos, a legenda populista de Alice Weidel, que tem membros investigados por discurso de ódio e neonazismo, alcança 25% das preferências, contra 24% da sigla de Merz.

Reverter a tendência não será tarefa fácil, já que as soluções da coalizão não trarão respostas imediatas. O choque tarifário de Trump apenas piora as coisas. A perspectiva para a economia alemã neste ano é de crescimento de apenas 0,1%, contra 0,8% da previsão anterior, divulgada em setembro de 2024. O país caminha para o terceiro ano de recessão, algo que nunca aconteceu na história.

A divisão de ministérios já indica que Merz quer levar adiante algumas de suas promessas de campanha, como a modernização da burocracia do país e o estímulo ao crescimento. A CDU deve ficar com as pastas de Economia, Relações Exteriores, Transporte e Digitalização do Estado. O SPD deve permanecer na Defesa, com Boris Pistorius, o nome mais popular do partido, Finanças e Meio Ambiente.

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