Queda de Juscelino destrava conversas de Lula sobre reforma ministerial

CATIA SEABRA E VICTORIA AZEVEDO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

A crise que levou à queda do ex-ministro das Comunicações Juscelino Filho (União Brasil-MA) deve destravar a reforma ministerial do governo Lula (PT), avaliam aliados do presidente.

Em conversas com colaboradores, Lula já vinha acenando com a possibilidade de retomar as mudanças no seu ministério a partir desta quinta-feira (10), quando retorna de viagem a Honduras.

De volta ao Brasil, o petista deverá se reunir com dirigentes partidários e integrantes da cúpula do Congresso Nacional para costurar mudanças na equipe. São esperadas conversas com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

Entre interlocutores do presidente, há uma expectativa de que Lula dê início à articulação com partidos da base. Até então, as trocas vinham ocorrendo entre petistas ou na cota pessoal do chefe do Executivo.

Uma das apostas é a nomeação de um integrante do PSD para o comando do Ministério do Turismo. Atualmente a pasta é chefiada por Celso Sabino (União Brasil-PA).

Hoje, o nome apontado como favorito é do deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ), ligado ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD). Ele também tem aval da cúpula do PSD.

Pedro Paulo, que é economista, foi secretário-executivo da Coordenação de Governo do Rio de Janeiro. Seu nome chegou a ser cogitado para o ministério na montagem do governo, mas sofreu resistência pelo fato de ele ter sido alvo de denúncia de violência contra sua mulher, admitida por ele -“tivemos discussões e agressões mútuas”, disse à época.

Apesar de ser um dos vice-líderes do governo na Casa, Pedro Paulo também já foi criticado por deputados governistas pelo tom crítico a algumas medidas apresentadas pelo Executivo.

O comando da pasta do Turismo é um pleito da bancada do PSD na Câmara dos Deputados, que se diz sub-representada hoje com o Ministério da Pesca, chefiado pelo ex-deputado André de Paula. Há uma crítica de deputados do PSD de que a Pesca é um ministério de baixa capilaridade política.

O nome de André de Paula também já foi cogitado para o Turismo, mas Pedro Paulo cresceu na cotação para o cargo. Sua escolha tem sido interpretada como uma reparação após o veto.

Juscelino oficializou sua demissão do cargo na noite desta terça-feira (8), horas após ser denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República), sob acusação de corrupção passiva e de outros crimes relacionados a suposto desvio de emendas.

A tendência hoje é que o líder da bancada na Câmara, Pedro Lucas Fernandes (MA), substitua o correligionário na chefia do ministério. Nome próximo do presidente do partido, Antonio Rueda, ele está em seu segundo mandato e é da ala do partido que defende maior aproximação com o governo Lula. Ele integrou a comitiva que acompanhou o presidente da República ao Japão e ao Vietnã em março.

Na tarde desta terça, a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) almoçou com Rueda, os ministros e líderes da Câmara e do Senado do partido, além de Alcolumbre.

Segundo relatos, o almoço já estava programado. Nele, dirigentes do União Brasil reivindicaram a manutenção dos postos que já ocupam. Além das Comunicações e do Turismo, a sigla tem ainda o comando da pasta do Desenvolvimento Regional.

O partido é, porém, alvo de críticas dentro do governo por não apresentar no Congresso votação compatível com o espaço ocupado na Esplanada.

A atuação das bancadas do União Brasil tem frustrado a expectativa do governo nas agendas de interesse do Planalto.

Além disso, integrantes do governo se queixaram do episódio em que Rueda se encontrou com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e publicou registros fotográficos em suas redes sociais. O encontro ocorreu no começo de março, em Angra dos Reis (RJ).

Embora estivesse no mesmo barco que Rueda, Sabino não participou das conversas com Bolsonaro, que teriam ocorrido em outra embarcação. Ainda assim, a presença do ministro em Angra chegou ao conhecimento de aliados do presidente, contrariando colaboradores de Lula.

Além da vaga da Pesca, o União Brasil poderia ser recompensado com a de Ciência e Tecnologia, hoje chefiada por Luciana Santos, do PC do B.

Nesse caso, Luciana poderia ser deslocada para o Ministério das Mulheres, já que aliados de Lula dão como certa a saída da ministra Cida Gonçalves.

Outra aposta é na saída do ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. O nome do senador Beto Faro (PT-PA) tem circulado como potencial substituto.

Aliados de Teixeira minimizam críticas ao seu trabalho e dizem que ele não está desprestigiado no governo. Lembram que o presidente Lula pediu ao ministro que o acompanhasse em uma visita à região do Xingu.

O presidente também teria pedido agendamento de atividades ao lado do ministro. Colaboradores do presidente não descartam, porém, a saída dele.

A reforma ministerial foi iniciada em janeiro com a escalação de Sidônio Palmeira para a Secom (Secretaria de Comunicação).

Em uma segunda etapa, Gleisi assumiu a articulação, sucedendo Alexandre Padilha, hoje na Saúde. Agora, a expectativa é que Lula retome as negociação com os partidos da base.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.