Haddad fala em ir ‘além do bom senso’ contra ascensão da extrema direita

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ALEX SABINO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, usou a discussão sobre a reforma do Imposto de Renda como plataforma para pedir que os movimentos sociais e de esquerda busquem “além do que rezaria o bom senso”.

Haddad discursou na tarde desta terça-feira (8) no painel de abertura do evento “Dilemas da humanidade: perspectivas para transformação social”, realizado no Sesc Pompeia, em São Paulo.

Também afirmou que a administração federal enfrenta um Congresso Nacional que ele considera “bastante conservador”. Os partidos do centrão, integrantes do governo Lula nos ministérios e na base de apoio na Câmara dos Deputados e no Senado, foram definidos por Haddad como “direita democrática”.

Disse se tratar de um governo “de frente ampla”.

“Temos de navegar neste território. É um desafio muito grande aprovar medidas no Congresso Nacional.”

“Para enfrentar o desafio da extrema direita, temos de ir além do que rezaria o bom senso. Se eles estão rompendo barreiras do lado de lá, temos de angariar forças para romper barreiras do lado de cá. A coisa é muito desafiadora. A provocação do lado de lá é muito mais sem cerimônia e isso deveria servir de estímulo para nós”, disse, ao citar a necessidade, para os pensadores de esquerda, de ter “mais ambição teórica”.

O comentário foi feito na esteira da análise do ministro sobre as discussões sobre a reforma do Imposto de Renda. A proposta do governo federal é que aqueles que recebem até R$ 5.000 mensais estejam isentos do pagamento do IR e que a alíquota seja reduzida para quem ganha entre R$ 5.000 e R$ 7.000 mensais.

Pela proposta do governo, haveria a criação de um imposto mínimo sobre a alta renda (quem ganha a partir de R$ 600 mil por ano). Haddad lembrou que a resistência ao assunto foi vista com tanto receio em governos anteriores do PT (Partido dos Trabalhadores) que apenas agora foi enviado ao Congresso.

“Apenas neste quinto governo [houve dois mandatos anteriores de Lula e dois de Dilma Rousseff, que não completou o segundo] tomamos conhecimento e coragem para mudar uma lei óbvia, mas que não passou pela nossa cabeça mandar até o presente momento. É uma lei que taxa 141 mil brasileiros apenas.

Isso permite isentar 10 milhões de brasileiros que ganham até R$ 5.000 e reduzir o imposto de outros 5 milhões de brasileiros que recebem entre R$ 5.000 e R$ 7.000″, lembrou.

Segundo o ministro, para cada brasileiro que ganha mais de R$ 1 milhão por ano (chamado por ele de “super-rico”), 100 brasileiros seriam beneficiados, sendo que cerca de 65% deles com isenção total do Imposto de Renda.

Nesta segunda-feira, ele já havia pedido que os trabalhadores, teoricamente beneficiados pela mudança, se mobilizassem para pressionar os parlamentares.

“Para alguns, com muita razão, essas propostas podem parecer pouco ambiciosas. Acredito que sejam pouco ambiciosas, embora em um mundo devastado por poucas ideias, não podemos deixar [de ver] que são passos importantes”, completou.

Haddad considerou também que o Brasil tenta fazer da mudança de mentalidade na taxação dos ricos um paradigma no G-20, grupo das maiores economias do mundo, em que ocupou a presidência de maneira rotativa até novembro do ano passado.

O órgão aprovou, por unanimidade, uma carta que propõe a discussão de taxar em 2% anualmente o patrimônio das 3.000 famílias mais ricas do planeta. Isso aconteceu antes da posse de Donald Trump na presidência no início de 2025. Haddad não o citou pelo nome falar sobre o avanço da extrema direita.

Mas ao comentar sobre um crescimento que tem causado apreensão “sobretudo no Ocidente”, falou da Europa, América do Sul e dos Estados Unidos.

Seriam US$ 300 bilhões (R$ 1,8 trilhão) por ano, calcula, para financiar o combate à fome, às desigualdades e financiar projetos de transição energética.

“As fontes de financiamento são cada vez mais escassas porque você tem o setor privado altamente capitalizado e o setor público altamente deficitário, com emissão de títulos de dívida cada vez mais expressivos.”

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