SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O dólar apresenta alta nesta terça-feira (8), com investidores ainda cautelosos sobre o choque tarifário do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Há, porém, expectativas sobre negociações bilaterais entre os países mais afetados.
Às 11h58, o dólar subia 0,65%, a R$ 5,947, revertendo as perdas de mais cedo. Já a Bolsa tinha alta de 0,09%, a 125.709 pontos, distante do pico de 127.651 atingido ainda nos primeiros negócios.
O tarifaço de Trump segue pautando os negócios nesta sessão. O presidente e autoridades próximas ao governo têm dado sinais de que uma rodada de negociações com os países mais afetados pelo tarifaço está à mesa.
O Japão é exemplo disso. Trump e o primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, concordaram em iniciar discussões bilaterais sobre as tarifas em um telefonema na segunda-feira. Os japoneses foram atingidos com uma sobretaxa de 24%, além do piso básico de 10% sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos.
Trump designou o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, para supervisionar as negociações com o Japão. Já a nação asiática terá o ministro da economia, Ryosei Akazawa, como negociador comercial.
Segundo o assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, os negociadores dos EUA estão priorizando aliados e parceiros comerciais que tiveram grandes superávits comeciais para com os norte-americanos -o que não inclui a China.
“O presidente decidirá quando e se conversará com a China, mas, no momento, recebemos instruções para priorizar nossos aliados e nossos parceiros comerciais, como o Japão, a Coreia e outros”, disse Hassett em entrevista à Fox News.
Trump, porém, escreveu em sua rede Truth Social que está esperando uma ligação dos chineses para começar as negociações. “A China também quer fazer um acordo, muito, mas eles não sabem como começar. Estamos esperando a ligação deles. Vai acontecer!”
A sinalização segue a esteira de uma escalada nas ameaças tarifárias de ambos os países. A China foi atingida com uma sobretaxa de 34% na semana passada, além da taxa-base para todas as importações e outras barreiras comerciais erguidas por Trump nos três meses.
Na sequência, os chineses anunciaram tarifas retaliatórias na mesma magnitude. Já Trump, na segunda, ameaçou subir a régua para 50% caso a retaliação não fosse suspensa. “Foi um grande erro”, disse Bessent, do Tesouro, ao que a China prometeu “lutar até o fim”.
Também nas redes sociais, Trump disse que está discutindo as tarifas sobre a Coreia do Sul com o presidente interino, Han Duck-soo. O país foi atingido com tarifas de 26%.
“Temos os limites e a probabilidade de um grande ACORDO para ambos os países. A principal EQUIPE deles está em um avião rumo aos EUA, e as coisas parecem boas”, escreveu.
Já a União Europeia segue firme nas tratativas para evitar uma guerra comercial com os Estados Unidos, ainda que o governo republicano tenha rejeitado a oferta “zero por zero” sobre todos os produtos industriais. Segundo um porta-voz da Comissão Europeia, o plano é apresentar uma resposta às tarifas na próxima semana.
“No início da próxima semana, basicamente apresentaremos nosso plano. Explicaremos qual é o roteiro, depois consultaremos os Estados membros, consultaremos as indústrias, antes de apresentarmos as medidas finais que apresentaremos aos Estados membros para votação”, disse o porta-voz Olof Gill.
Para os mercados, o otimismo sobre as negociações bilaterais vem com uma dose de cautela.
“Há uma esperança entre investidores de que os Estados Unidos possam negociar com outros países, mas acredito que essas conversas estão em um estágio muito inicial para trazer frutos no curto prazo”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
“Eu não antevejo essas negociações dando alívio ainda essa semana, por exemplo, mas parece que é isso que está impulsionando os mercados.”
A ligeira melhora no ambiente de ativos de risco vem após três dias de pânico no mercado financeiro devido ao choque tarifário. Em menos de uma semana, os índices de Wall Street perderam US$ 6,2 trilhões, com investidores temorosos sobre os efeitos do tarifaço.
A equipe da Ágora Investimentos pondera que, por causa das quedas bruscas nos dias anteriores, o mercado também vê “oportunidades pontuais em meio às baixas generalizadas”.
“Em meio a rumores, fake news e notícias desencontradas, todos parecem procurar algum norte para definir a sua estratégia nesse novo ambiente de negócios.”
É esperado que o comércio internacional sofra um baque com as tarifas, o que pode afetar o crescimento econômico dos países mais afetados. Segundo análises do banco JPMorgan, o tarifaço elevou os riscos de uma recessão global e dos Estados Unidos de 40% para 60% em apenas uma semana.
No caso dos norte-americanos, o choque tarifário também afeta a cadeia produtiva doméstica, o que pode aumentar a inflação enquanto a economia desacelera.
O presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Jerome Powell, endereçou esses temores em falas na sexta. Ele afirmou que as novas tarifas são “maiores do que o esperado” e as consequências econômicas, incluindo inflação mais alta e crescimento mais lento, provavelmente também serão.