Dia das jornalistas: mulheres explicam amor e luta pela profissão

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Por: Giulia Moura, Giovanna Gimenez, Catherine Machado, Nathaly Ferreira, Esther Santos e Maria Eduarda Medina

Apesar das dificuldades da vida de jornalista, foi com a luta feminista que as mulheres conquistaram mais espaço dentro da profissão. Principalmente em áreas que eram consideradas masculinas, como econômica e política. 

Agência Ceub entrevistou mulheres de editorias diferentes. Elas contaram sobre suas vivências como jornalistas. As histórias compartilhadas narraram os momentos realizadores e os que foram preciso fôlego para atravessar.

Entrevistas:

Jornalismo econômico

Cristiane Noberto, 31 anos, é jornalista da área de economia há dois anos na CNN. Sua história começou de forma inusitada. Seu professor de relações nternacionais compartilhava experiências do jornalismo esportivo, desencadeando nela um interesse no curso.

A tradução de uma linguagem complexa e a constante atualização sobre política são as dificuldades ao se falar de economia.

“Não é um trabalho fácil. Não é uma linguagem fácil. Muitas vezes, as pessoas ficam com um pouco de preguiça porque é complicado de entender. Tem várias minúcias”, compartilhou Cristiane.

O ataque à sede da Polícia Federal em 2022 e a comoção em compartilhar momentos com pessoas em situações sensíveis foram alguns momentos marcantes. Além disso, declara que seu trabalho faz com que as pessoas se sintam à vontade com a economia  

Já o racismo e o machismo são desafios presentes na sua vida profissional como mulher negra. ”Não tem como a injustiça passar despercebida dentro das redações”. Ela afirma que isso não a paralisa. 

Para ela, o jornalismo é uma ferramenta essencial para a sociedade. Ele é capaz de dar voz aos que não tem, principalmente às mulheres negras.

“E as pessoas nunca querem os negros no topo”, desabafou Cristiane. A jornalista disse que a conversa, a apuração é cuidadosa e a capacidade de transformar informações em notícias impactantes são as chaves do jornalismo atualmente. 

Jornalismo das cidades

Jade Abreu, de 31 anos, atua no jornalismo de cidades. Atualmente trabalha no Metrópoles. Ela enxergou a profissão como uma forma de explorar temas de sua curiosidade. 

O importante é a gente não desistir de uma história”, diz Jade

A reportagem “O outro lado do paraíso” foi o mais impactante da sua carreira até aqui. Demorou um ano para ser apurada. A matéria contou sobre a comunidade Kalunga, em Goiás, que utilizava um pau de arara como meio de transporte. 

Após se formar, Jade Abreu passou um ano na Irlanda em intercâmbio. Ao voltar ao Brasil no início da pandemia, enfrentou um mercado fechado e muitas frustrações, lidando com dúvidas e dificuldades emocionais. Com o tempo, percebeu que esse período foi importante para seu crescimento e valorização profissional.

Um dos maiores desafios foi lidar com a insegurança em relação à escolha da profissão, especialmente em um cenário difícil de contratações. “Um grande desafio mesmo foi me encontrar e perceber que o que eu estava fazendo era o que eu realmente gostava.”

A repórter Jade compartilhou experiências que evidenciam o machismo e o desrespeito. Segundo ela, o maior desafio não está nas tarefas diárias da profissão, mas em situações específicas, como coberturas ou entrevistas, nas quais alguns entrevistados confundem o profissionalismo com abertura para investidas pessoais. “Me chamou para sair e já levou para outro lado”. 

Jade acredita que essas situações revelam o machismo ainda presente na área e ressalta que colegas homens não costumam passar por esse tipo de abordagem. 

Jornalismo de moda

Júlia Marques Borges, 23 anos, é jornalista de moda. Com apenas 22 anos, tornou-se Coordenadora da coluna de moda da Ilca Estevão no Metrópoles. A paixão pela área seguiu as raízes da mãe e do padrasto. 

Moda também é política. No entanto, infelizmente, a sociedade parece não estar preparada para entender isso.”

A moda, assim como a política, é um pilar da transformação. Afeta a diversidade, sustentabilidade e inclusão. 

Júlia traz a reflexão que, se o jornalismo de moda continuar cheio de barreiras, mudanças significativas deixarão de ser documentadas. A moda também cria história. Diferente do retorno que vem tendo do público, que moda não é notícia, a principal influência está em reconhecer os artistas nacionais que fazem a moda acontecer. “É preciso ter sensibilidade crítica para analisar vários cenários como um todo”.

Por ser uma mulher muito nova e por ter entrado no meio com contatos, “usaram esses fatos para invalidar minha competência”,contou. 

Certa vez, o editor da redação em que trabalhava, um jornalista que já apresentou o Jornal Nacional, a chamava de “estagiáriazinha”. 

Por outro lado, a editora do GPS l Lifetime, acreditou no potencial dela e disse que ela foi “uma aposta certeira”. 

Uma matéria que ficou na memória da jornalista foi uma entrevista com Lelê Burnier, influenciadora digital com mais de 3 milhões de seguidores. “Falamos de sonhos, moda, política e em todos os assuntos ela tinha pontos muito relevantes para se posicionar”, compartilhou Júlia. Além de entrevistas com Pedro Batalha e Hisan da Silva, diretores da “Dendezeiro” e Mayara Jubini, fundadora da “Artemisi”, pessoas que a incluíram na primeira fila dos desfiles. 

Jornalismo esportivo

Mariana Fraga Duarte, 26 anos, é jornalista na área esportiva e trabalha no Globo Esporte DF. Sua paixão pelo jornalismo e pelo esporte vem desde pequena. Ela praticava Handebol e cresceu assistindo programas esportivos.

Sua criatividade a levou a criar o “Me leva, GE”, uma ação que conta a história e realiza sonhos de muitos torcedores. Mariana ressalta a satisfação de tudo que vive com este projeto.

 “É um projeto muito especial, virou um case no Globo Esporte. Tive a oportunidade de conhecer várias cidades, pessoas, histórias emocionantes e estar em jogos que me marcaram muito”, afirmou.

Para a jornalista, seu trabalho é uma ferramenta de impacto social. Ela busca garantir direitos, dar voz a quem precisa. Um exemplo disso foi uma matéria que ela fez em 2023, sobre os jogadores do Brasília Basquete que denunciaram o não recebimento de seus salários. 

O machismo no jornalismo esportivo tem diminuído significativamente em comparação com o passado, resultado de anos de luta e conquistas das profissionais da área. Para Mariana, o preconceito de gênero que a afeta é o mesmo que atinge muitas outras mulheres. “Hoje a gente enfrenta muito mais o machismo social, subestimar uma mulher, não gostar de uma resposta de uma mulher”, diz ela. No entanto, ela afirma que, no dia a dia de sua atuação profissional, não sente o machismo de forma tão presente, o que considera um reflexo positivo das mudanças que vêm ocorrendo no setor.

Jornalismo político

A jornalista da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Sayonara Moreno, acredita que não é possível falar de política sem lembrar do direito das pessoas, que em grande maioria, são negadas. 

“Vamos com o jornalismo político para tentar justamente buscar alguma forma de garantir o direito dessas pessoas”, afirmou.

Sayonara ressalta que um jornalista que escreve bem, é um jornalista que se comunica bem e para isso é necessário se colocar no lugar do ouvinte, do leitor ou do telespectador. O jornalismo é uma forma de garantir para as pessoas um direito que elas têm à comunicação, a informação verdadeira e principalmente, a informação correta.

Mesmo com avanços na luta por igualdade de gênero, o machismo ainda se faz presente no jornalismo, especialmente no cotidiano das redações. A jornalista relata que alguns desafios foram ligados à questão de ser mulher, mas que isso vem mudando em seu ambiente de trabalho. 

“Aqui são muitas mulheres na gestão e existem mulheres que têm a própria direção de jornalismo, mulheres que têm um papel de buscar esse equilíbrio, de buscar essa equidade ali entre mulheres e homens”, disse.

Jornalismo investigativo

Lorena Coutinho, 38 anos, é repórter investigativa, trabalha há 15 anos na Rede Record. Ela comenta que a melhor parte de ser jornalista é ser agente de transformação. 

Ter esse poder em mãos, mergulhar nas histórias e mudar vidas é muito emocionante”, afirma ela.

A jornalista conta que apesar de sua rotina não ser fixa, podendo cobrir desde uma morte até histórias inusitadas, adora fazer de tudo um pouco. O que mais a marcou em sua trajetória foi o entretenimento. 

Também comenta que o maior aprendizado durante sua carreira foi viajar por todo Brasil para contar histórias. Durante as viagens teve que pegar aviões, horas de ônibus e até andar a cavalo, para conhecer as pessoas e dar voz a elas. 

Em meio a essas aventuras proporcionadas pelo jornalismo, Lorena diz que foi uma grande oportunidade conhecer vivências diferentes, se aproximar das pessoas e aprender e repassar seus aprendizados por meio de sua profissão.

O dia 7 de abril

Salvar vidas lutando pela propagação de informações ou por meio de operações foi o propósito de Giovanni Battista Libero Badaró. 

“Morre um liberal, mas não morre a liberdade”. Essa foi a última frase do jornalista e médico, antes de ser assassinado, numa segunda-feira, 22 de novembro de 1830. Durante o período imperial no Brasil, a busca pela liberdade de imprensa ainda custava a vida.

Meses depois, dia 7 de abril de 1831, Dom Pedro I abdicou de seu trono. Data que marcou um momento de transformação política no país.

O jornalismo marcou presença no evento. Como forma de destaque, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) separou essa data no calendário. Desde 1931, o dia da abdicação do trono do imperador, foi intitulado “Dia do Jornalista”. A escolha está associada à luta de Badaró pela valorização da profissão.

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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