Elisa Costa
Elane da Silva Rodrigues Inácio, de 35 anos, foi a sétima vítima de feminicídio no Distrito Federal em 2025. O corpo da mulher foi encontrado no Assentamento Oziel Alves III, em Planaltina, na manhã de quarta-feira, enterrado pelo próprio companheiro e suspeito de assassinato Marcelo Inácio da Conceição, de 41 anos. Elane desapareceu em 15 janeiro deste ano, mas foi dada como desaparecida no dia 22 de março.
Ela teria sido vista pela última vez em um ponto de ônibus próximo à DF-110. No dia que desapareceu, saiu de casa para ir ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras), mas nunca retornou. Ela havia se mudado recentemente para o DF, há mais ou menos cinco meses, junto com o marido. Marcelo a seguiu até o ponto de ônibus e depois voltou para casa e disse à família que a companheira havia pegado uma carona até a BR-020.
Familiares de Marcelo chegaram a procurar por ela no dia em que ela desapareceu, mas encontraram apenas uma garrafinha de água que ela levava. No dia seguinte ao desaparecimento, Marcelo foi visto saindo de casa com uma enxada e relatou aos parentes que ia capinar o entorno da parada de ônibus. Mais tarde ele voltou para casa sujo de terra e lama, e segundo os familiares, o local onde ele disse que ia capinar não estava capinado.
Ao ser comunicada do desaparecimento da mulher através de uma denúncia anônima, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) iniciou as investigações, reunindo elementos que fundamentaram o pedido de prisão temporária do suspeito. O mandado de prisão foi cumprido nessa quarta-feira, mesmo dia em que o corpo de Elane foi encontrado enterrado em uma área rural, às margens da BR-020.
Seu paradeiro não foi informado por tanto tempo pois a suspeita é que a família acreditava na versão de Marcelo sobre ela ter ido embora por livre e espontânea vontade. De acordo com as informações da PCDF, do mês de janeiro até o mês de março Marcelo se passou pela vítima, utilizando o chip do celular dela para enviar mensagens à familiares e amigos.
Em coletiva de imprensa concedida nessa quinta-feira, a PCDF informou que a causa da morte ainda está em análise. Segundo o delegado-chefe da 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina), Richard Valeriano, havia brigas constantes entre o casal, que estava junto há 10 anos. A corporação ainda vai ouvir familiares da vítima e do suspeito para buscar esclarecer a motivação do crime e outros detalhes.
Segundo a PCDF, durante o interrogatório, o suspeito confessou parcialmente os fatos, alegando que a companheira teria cometido suicídio e que ele apenas ocultou o cadáver a pedido da própria vítima. As investigações apontam ainda que Marcelo retornou ao local onde enterrou Elane diversas vezes para “arrumar” o local e jogar cal – substância utilizada na construção civil – para disfarçar o cheiro do corpo.
Durante a coletiva dada à imprensa, o delegado que conduz a investigação, Marcelo Gaia da Silva, declarou: “Ficamos tristes em conceder uma entrevista dessa. Lutamos para combater esse tipo de crime, mas infelizmente isso aconteceu. Nos causou estranheza a frieza do suspeito, ele agiu como se nada tivesse acontecido”.
As versões de Marcelo sobre Elane ter pego carona e sobre o suicídio foram descartadas. Elane é natural da Bahia e deixa três filhos: uma adolescente de 17 anos de outro casamento e duas crianças, uma de 9 e outra de apenas 1 ano. Marcelo responderá por feminicídio e ocultação de cadáver, podendo pegar uma pena de 20 a 40 anos pelo feminicídio e mais 1 a 3 anos pela ocultação.
Dados alarmantes
Esse já é o segundo caso de feminicídio em apenas três dias. Na segunda-feira, Maria José Ferreira, de 31 anos, foi morta a facadas pelo marido no Recanto das Emas. Dois dias antes, em 29 de março, Dayane Barbosa, de 34 anos, foi encontrada morta em casa, na Fercal. O companheiro dela, e suspeito do crime, também foi encontrado morto, com indícios de que tenha tirado a própria vida.