EUA admite ‘erro’ na expulsão de migrante para El Salvador

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O governo do presidente americano, Donald Trump, admitiu ter cometido “um erro administrativo” na deportação para El Salvador de Kilmar Armando Ábrego García, mas o acusa de fazer parte da gangue MS-13.

Segundo um documento judicial apresentado na segunda-feira (31), o salvadorenho residia nos Estados Unidos sob status legal protegido até ser transferido para El Salvador em 15 de março, juntamente com centenas de outros supostos membros de gangues.

Em 2019, durante o primeiro mandato de Donald Trump, Ábrego García foi acusado de pertencer a uma gangue, mas não foi condenado por nenhum crime e um juiz proibiu sua deportação porque corre perigo em seu país de origem.

“Foi um erro administrativo”, admitiu, nesta terça, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, durante uma coletiva de imprensa.

Mas, “este indivíduo que foi deportado para El Salvador e não voltará para o nosso país era membro da brutal e viciosa gangue MS-13”, disse ela, chegando a qualificá-lo, inclusive, de “líder” da organização criminosa.

Além disso, continuou, “temos [informação de] inteligência confiável que demonstra que este indivíduo estava envolvido no tráfico de pessoas”.

A porta-voz lembrou que Trump declarou por decreto a MS-13 como organização terrorista global.

– “Um monte de provas” –

Uma jornalista perguntou se Ábrego García foi condenado por um tribunal.

“Tem um monte de provas no Departamento de Segurança Interna” e o Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE) “tem essas provas”, respondeu Leavitt, que assegurou tê-las visto.

O vice-presidente americano, JD Vance, jogou lenha na fogueira nesta terça-feira nas redes sociais.

“Os meios de comunicação determinaram que as verdadeiras vítimas são os membros das gangues que estamos tentando tirar do país”, afirmou.

A esposa do salvadorenho, a cidadã americana Jennifer Vasquez Sura, que segundo a imprensa identificou o marido por uma foto em meio aos detidos transferidos para o mega-presídio salvadorenho Cecot, e seu filho, um menino com deficiência, segundo documentos judiciais, processaram o governo.

Segundo a ação judicial, eles denunciam que o salvadorenho foi expulso “sabendo que seria preso e torturado de imediato” e pedem uma “reparação judicial imediata”.

Grupos de defensa dos direitos humanos, a oposição democrata e até mesmo alguns republicanos acusam o governo de ter enviado imigrantes em situação irregular a El Salvador, invocando a Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798, que até então só tinha sido aplicada em tempos de guerra, ou baseando-se em elementos triviais como tatuagens.

Os advogados de vários dos mais de 200 venezuelanos deportados para El Salvador em 15 de março asseguram que seus clientes não pertencem à gangue Tren de Aragua, não cometeram nenhum crime e se tornaram alvos sobretudo por causa de suas tatuagens.

– “Inocentes” –

O influente apresentador de podcast Joe Rogan, a quem Trump deu uma longa entrevista durante sua campanha eleitoral, protestou.

“Vamos tirar os membros das gangues. Todos estão de acordo. Mas não vamos permitir que cabeleireiros gays inocentes sejam postos no mesmo saco que as gangues”, reclamou no sábado passado, referindo-se a outro caso que ganhou as manchetes: o de Francisco Javier García Casique que, segundo seus familiares, é um barbeiro com tatuagens.

Trump trava uma guerra às gangues, como a MS-13, criada sobretudo por salvadorenhos em Los Angeles, e o Tren de Aragua, às quais aplica a lei de 1798 por considerá-las inimigos estrangeiros.

O caso acabou nos tribunais e um juiz suspendeu temporariamente a possibilidade de deportar migrantes invocando esta lei do século XVIII.

Isto não impediu o governo de seguir com seus planos e no último fim de semana deportou 17 pessoas, que qualificou de “criminosos violentos”.

“Nunca deveriam ter estado aqui”, insistiu Leavitt nesta terça, informando outra detenção: “um estrangeiro ilegal”, autor, segundo ela, de crimes como estupro, o homicídio de uma mulher e necrofilia.

A porta-voz da Casa Branca acusou o governo do ex-presidente dos EUA, o democrata Joe Biden de ter permitido “assassinos impiedosos, estupradores e pedófilos” entrarem pela fronteira com o México.

Para seu sucessor, o republicano Donald Trump, a criminalidade aumentou no país com os migrantes que entraram durante o governo anterior, apesar de as estadísticas publicadas em 2024 pelo FBI (polícia federal americana) demonstrarem que os crimes violentos nos Estados Unidos diminuíram em 2023 em relação ao ano anterior.

© Agence France-Presse

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