Governo Trump revoga mais de 300 vistos estrangeiros; 524 brasileiros em situação ilegal já foram deportados


O secretário de Estado, Marco Rubio, reforçou que o governo tem autonomia para revogar os vistos de estudantes. Governo Trump revoga mais de 300 vistos estrangeiros; 524 brasileiros em situação ilegal já foram deportados.
Reprodução/Jornal Nacional
O governo Trump já deportou 524 brasileiros em situação ilegal. E, em outra frente, revogou mais de 300 vistos de estrangeiros – entre eles, estudantes que participaram de protestos contra Israel no ano passado.
O secretário de Estado, Marco Rubio, reforçou que o governo tem autonomia para revogar os vistos de estudantes:
“O visto é um presente. Negamos vistos no mundo todo por várias razões. Isso significa que também podemos revogá-los”.
Um dos casos aconteceu na terça-feira (25), em Massachusetts. A estudante turca, Rumeysa Ozturk, foi interceptada no meio da rua por homens encapuzados. Um deles a agarrou pelos pulsos e retirou seus pertences. Só depois eles se identificaram como policiais de imigração.
No dia seguinte, ela foi levada para um centro de detenção a 1,5 mil km de distância. E o Departamento de Segurança Interna publicou:
“Ozturk se envolveu com atividades em apoio ao grupo terrorista Hamas”.
O que é motivo para o cancelamento do visto da estudante. O governo ainda não apresentou as provas dessa ligação.
Em 2024, ela foi coautora de um artigo de opinião no jornal da Universidade Tufts, onde cursava um doutorado. O texto criticava a reitoria por reprimir os protestos que pediam que a universidade cortasse laços com Israel. O artigo não fez referência ao Hamas.
No ano passado, uma onda de protestos contra as ações de Israel em Gaza tomou conta de universidades americanas.
Por diversas vezes, a situação saiu do controle, com manifestantes invadindo prédios e impedindo a circulação de professores e estudantes.
Uma pesquisa constatou que, depois dos atentados do Hamas, em outubro de 2023, 73% dos universitários judeus sofreram ou testemunharam antissemitismo.
Organizações judaicas contabilizaram 1.400 incidentes desse tipo em seis meses. Um dos focos dos protestos foi a Universidade Columbia. Lá, alunos judeus relataram casos em que foram cercados e assediados.
Especialistas afirmam que a liberdade de expressão nos Estados Unidos é bem ampla e inclui a possibilidade de manifestações de racismo ou antissemitismo.
Mas não permite ameaças de danos físicos ou que tenham um alvo específico.
“Você falar que é contra a guerra, que é a favor de dois estados ou que deseja um cessar-fogo, isso não é antissemitismo. Mas quando você diz frases como ‘globalize a Intifada’, ‘Judeus, voltem para a Polônia’ ou ‘Os sionistas não merecem viver’, como aconteceu em alguns desses protestos, isso é antissemitismo”, analisa Fernando Lottenberg, Comissário da OEA para o Monitoramento e Combate ao Antissemitismo.
“E, se você analisar o ano acadêmico de 2024-2025, já são 1.338 incidentes antissemitas. Não se trata apenas de repressão a manifestações, mas também de ataques físicos, assédio, intimidação, proibição de entrada em salas de aula e até de acesso a bibliotecas”, comenta Lottenberg.
O especialista ainda afirma que “a Primeira Emenda da Constituição americana, que garante a liberdade de expressão, também tem um limite: quando existe um perigo real e imediato de que essa fala se converta em um ataque físico e violento”.
O governo americano não apresentou provas de que os estudantes que estão sendo detidos tenham extrapolado o que permite a Constituição.
E vem usando uma lei dos tempos da Guerra Fria que permitia a deportação de quem fosse considerado uma ameaça à política externa americana.
O professor e diretor do Centro de Defesa de Liberdade Acadêmica, Isaac Kamola, disse ao Jornal Nacional que as detenções podem significar uma forma de intimidação.
“O governo está dizendo: quando você fala algo que eu não quero, como sobre a situação em Gaza, nós vamos te calar, e isso é muito perigoso”, disse o professor.
A pressão também chegou à direção das universidades.
No início do mês, o Departamento de Educação anunciou que está investigando sessenta universidades por causa de protestos que considerou antissemitas.
A Casa Branca cancelou o envio de US$ 400 milhões em fundos federais para a Universidade Columbia. E criou uma lista de exigências para voltar a liberar essas verbas.
Depois de semanas de negociações e resistência interna, a Columbia aceitou todas as demandas.
O governo exigiu que a Columbia dê aos seguranças do campus o poder de deter estudantes, proíba que alunos usem máscaras em protestos, crie uma definição clara sobre o que configura antissemitismo e escolha um novo chefe para o departamento de estudos do Oriente Médio.
Ontem, Katrina Armstrong anunciou que estava deixando o cargo de reitora interina da universidade. De forma lacônica, disse que estava voltando para a posição anterior, no Centro Médico de Columbia.
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