Pequenas granjas tentam frear aumento de preço do ovo

ovos com data

MATHEUS DOS SANTOS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Neste começo de ano, a alta nos preços de milho, rações e embalagens tem pressionado produtores de ovos, que vêm tentando brecar o repasse do aumento aos consumidores.

“Dentro das cadeias produtivas, os pequenos negócios são mais sensíveis ao aumento de custos. Os grandes armazenam mais grãos e atrasam o impacto. Os pequenos, não”, diz Joaci Medeiros, analista técnico do Sebrae.

Para ele, o repasse aos consumidores ocorre quando o produtor atinge o limite. “Ele busca alternativas para minimizar, substituindo produtos por opções mais baratas”, afirma.

Pequenos produtores concordam com a análise. Rafael Camacho, um dos sócios da Turma do Ovo, empresa de ovos orgânicos com sede na cidade de São Paulo, sentiu o aumento no milho e em embalagens.

Ele afirma que o custo de produção de ovos orgânicos é maior do que o dos convencionais, o que se reflete nos preços. Uma caixa com 20 ovos certificados da empresa está R$ 41,81 —aproximadamente, R$ 2 por ovo—, enquanto uma caixa com a mesma quantidade de ovos brancos pode ser encontrada a partir de R$ 20 em São Paulo.

“Tivemos aumentos, mas absorvemos. Até porque acredito que [os preços] devam voltar ao normal. Ajustamos apenas a inflação.”

Jovelina Fonseca, dona do Sítio Cultivar, localizado em Nova Friburgo (RJ), também especializado em ovos orgânicos, diz que o aumento no custo da produção começou em 2024. “Com a subida dos insumos, ajustamos em função do custo.”

Proprietário da Holanda Avicultura, de São José de Mipibú (RN), especializada na criação convencional com galinhas em gaiolas, Renato Holanda afirma que o setor tem feito reajustes desde a segunda quinzena de janeiro.

“Ovo é uma commodity. É difícil uma empresa se diferenciar muito no preço. Quando o mercado sobe, o setor em geral tende a acompanhar.”

Não existe uma definição clara sobre pequenos, médios e grandes produtores. Segundo a Lei 8.629, uma pequena propriedade é aquela com até quatro módulos fiscais, enquanto a média propriedade tem entre quatro e 15. A medida de módulo fiscal varia de acordo com cidade.

Em Santa Maria de Jetibá (ES), polo de produção de ovos, um módulo fiscal corresponde a 18 hectares (cada hectare tem 10 mil metros quadrados; um campo de futebol tem cerca de 8.000 metros quadrados). Na cidade, o produtor com até 72 hectares é considerado pequeno, e aquele entre 72 e 270 hectares tem uma propriedade de médio porte.

Levantamento mais recente sobre o setor, o Censo Agropecuário de 2017, do IBGE, mostra que 2,2 milhões de estabelecimentos estavam envolvidos com a produção de ovos. Desses, 95,5% tinham entre 1 e 200 hectares, e 97,9%, até 500 hectares.

Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP, o aumento no preço dos alimentos foi de até 52,9% entre janeiro e fevereiro de 2025 nos principais polos produtores de ovos.

Na comparação com o mesmo período de 2024, a alta foi de 18,7% em termos reais, considerando o impacto da inflação, afirma o centro.

Em fevereiro, o preço médio da caixa com 30 dúzias de ovos tipo extra branco no atacado, em Santa Maria de Jetibá (ES), era R$ 220,22. Em janeiro, R$ 144,06.

De acordo com a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), os custos de produção acumularam alta nos últimos oito meses, com elevação de 30% no preço do milho e de mais de 100% nos custos de insumos de embalagens.

Cláudia Scarpelin, pesquisadora responsável pela área de ovos do centro, diz que o aumento no período é comum, mas não nesta proporção. “Acompanhamos o mercado de ovos desde 2013, e a alta nesse período costuma acontecer. Neste ano, foi mais expressiva.”

Edival Veras, presidente do IOB (Instituto Ovos Brasil), concorda. “Há dois meses, o setor estava trabalhando com margem negativa. O produtor diminui um pouco a produção para que o mercado se organize.”

Para ele, produtores menores são impactados pela menor escala do negócio. “Da porteira para fora, na comercialização, empresas que transportam um volume maior de ovos conseguem diminuir os custos, em comparação com os pequenos.”

Para Marcus Menoita, CEO da Raiar, empresa especializada em ovos orgânicos, com fazenda em Avaré (SP) e operação nacional, o aumento é resultado de uma “tempestade perfeita”. Para ele, o setor já está habituado a lidar com a quaresma e mais ou menos aves produzindo, mas a isso se somaram calor e aumento de preço do milho e de embalagens. “Todos ao mesmo tempo é um fato novo”, diz.

“Compara-se com a crise dos ovos nos EUA, em que há um problema estrutural, de mortalidade de aves e não se vê solução a curto prazo. No Brasil, houve um descasamento pontual entre oferta e demanda”, afirma.

Profissionais do setor projetam a carestia até o final da quaresma. Para Scarpelin, do Cepea, o valor deve continuar nesse patamar até abril. “A partir desse período, a oferta de ovos deve ditar se os preços continuarão altos, já que a demanda ficará mais linear”, diz.

Entretanto, de acordo com Joaci Medeiros, do Sebrae, os preços do milho e das rações devem se manter em alta, e o efeito do fim da quaresma pode não ser suficiente para mudar o preço. “A expectativa é que os preços diminuam ao longo do ano, mas não de forma abrupta”, afirma.

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