Economia afroempreendedora vale R$ 2 trilhões, mas o racismo não deixa essa riqueza circular e ainda trata como “mercado informal”

pret

Enquanto empreendedores negros movimentam anualmente mais de 20% do PIB brasileiro, o sistema financeiro ainda trata a Black Economy como “mercado informal”. Mas os números não enganam: os empreendedores negros representem 52,4% do total de donos/donas de negócios no país, segundo o Sebrae, mas ainda enfrentam desafios significativos, como por exemplo, acesso restrito a crédito e dificuldades na formalização empresarial.

A empresária Cynthia Paixão, fundadora da Afrocentrados Conceito, em Salvador, aborda o problema pela raiz: “O racismo não é só sobre impedir acessos, é também sobre apagar histórias e deslegitimar conquistas”.

imagem do whatsapp de 2025 03 25 à(s) 09.33.00 6f706e37
Levantamento do Sebrae também evidencia a desigualdade de renda, quando empresários negros ganham, em média, 32% menos que empresários brancos

O levantamento do Sebrae também evidencia a desigualdade de renda, quando empresários negros ganham, em média, 32% menos que empresários brancos. E o buraco é mais embaixo. De acordo com o Le Monde Diplomatique, apenas 5% dos empresários negros conseguiram acesso a linhas de crédito bancário tradicionais em 2023, refletindo o racismo institucional presente no sistema financeiro e limitando as possibilidades de desenvolvimento econômico dessa população.

Recentemente, outro levantamento feito pela Carta Capital, mostrou que afroempreendedores movimentam cerca de R$ 2 trilhões por ano no Brasil, mas ainda enfrentam obstáculos para expandir seus negócios. A informalidade e a falta de políticas públicas eficazes mantêm grande parte desses empreendedores na luta pela sobrevivência, ao invés de possibilitar um crescimento sustentável.

Mesmo com um sistema que fecha as portas, iniciativas como a Afrocentrados Conceito buscam virar o jogo. Fundada por Cynthia Paixão, em Salvador, a loja colaborativa reúne mais de 100 empreendedores negros, oferecendo um espaço para divulgação e comercialização de seus produtos. Além disso, a Afrocentrados promove mentorias em empreendedorismo e marketing digital, auxiliando seus parceiros a crescer de forma planejada. Eventos como o AfroDonas e o Baile Black proporcionam networking e aprendizado, fortalecendo a comunidade empreendedora negra.

À frente do projeto, Cynthia destaca a importância da valorização e do fortalecimento da economia negra. “Quando um negócio negro prospera, ele não cresce sozinho. Ele gera empregos, cria referências e empodera outras pessoas a acreditarem que também podem chegar lá”, afirma.

imagem do whatsapp de 2025 03 25 à(s) 09.33.00 f06fdac8
Fundada por Cynthia Paixão, em Salvador, a loja colaborativa reúne mais de 100 empreendedores negros, oferecendo um espaço para divulgação e comercialização de seus produtos

Programas de mentoria, capacitação técnica e aceleração de negócios têm sido fundamentais para o desenvolvimento de habilidades de gestão e ampliação do acesso a mercados mais amplos. Além disso, políticas públicas como o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) têm facilitado o acesso ao crédito para pequenos empreendedores, criando oportunidades para o afroempreendedorismo.

Apesar dos avanços, o afroempreendedorismo ainda enfrenta barreiras culturais e não somente estruturais. A falta de representatividade em espaços de decisão, como grandes associações comerciais e bancos de investimento, mantém a exclusão de negócios negros de grandes oportunidades de crescimento. O conceito de Black Money, que incentiva a comunidade negra a consumir e investir em negócios de empreendedores negros, tem sido uma das formas de driblar essa exclusão e fortalecer uma economia mais equitativa.

A tecnologia tem sido uma das ferramentas mais eficazes para contornar essas barreiras. “As redes sociais e o e-commerce permitiram que muitos empreendedores negros pudessem vender diretamente para seus clientes sem precisar passar pelos filtros do racismo institucional. Mas ainda precisamos de mais apoio, mais investimento e mais educação financeira para que esses negócios sejam sustentáveis no longo prazo”, aponta Cynthia.

Em 2025, a adoção de ferramentas digitais pelos afroempreendedores só aumenta, principalmente o e-commerce, que cresceu 16% desde o ano passado. O marketing digital continua sendo uma estratégia importante para a expansão dos negócios, enquanto a aprovação do fundo garantidor do Pronampe pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) poderá ampliar ainda mais o acesso ao crédito. Apesar de o racismo estrutural ainda impor desafios significativos aos empreendedores negros no Brasil, iniciativas como a Afrocentrados Conceito e políticas públicas direcionadas têm contribuído para a transformação desse cenário, promovendo a inclusão e o crescimento econômico da comunidade negra.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.