Ubi Bava, pioneiro da arte cinética no Brasil, ganha livro sobre sua vida e obra

ubi bava


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Durante a pandemia, Teodoro Bava ligava para seu tio-avô todos os dias. Com o gravador rodando, ele registrava as histórias que seu familiar contava sobre seu tio-bisavô, Ubi Bava, antes de elas se perderem.

Embora não seja tão conhecido pelo público, dado que a última grande exposição de sua obra aconteceu no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro anos antes de sua morte, em 1988, Ubi teve uma carreira sólida. Como artista, se associou aos concretistas cariocas ao mesmo tempo que manteve sua independência criativa; como professor, lecionou praticamente a vida toda desenho artístico no curso de arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Nos telefonemas, Teodoro queria manter a mente de seu avô Idéo ativa no período de isolamento social, mas também saber, da pessoa que mais conhecia Ubi, quem era esse artista do qual ele tanto ouvia falar. Idéo tinha acompanhado a vida e o desenvolvimento da obra de Ubi, de quem comprou quadros e de quem também herdou um acervo documental com fotos, cartas, catálogos de exposições e desenhos que ele fazia quando era criança e, mais tarde, adolescente, antes de enveredar pela arte.

Com o material em mãos, Teodoro, um consultor de arte, organizou um livro sobre quem foi seu tio-bisavô e, em paralelo, negociou a doação do acervo de Ubi para o Instituto de Arte Contemporânea, organização em São Paulo dedicada a guardar e expor documentos de artistas.

Ele também está fazendo contatos com museus para viabilizar, em 2026 ou 2027, uma grande mostra com as obras de Ubi, a primeira grande exibição pública de seus trabalhos em mais de 40 anos. “É um projeto de vida”, diz Teodoro, por telefone, sobre assumir para o si o papel de cuidar do legado de seu tio-bisavô.

O livro, que foi lançado em São Paulo no final do ano passado e ganhará outro lançamento em maio, no Rio, reúne dezenas de obras de todas as fases da carreira de Ubi, partindo das ilustrações figurativas e algo surrealistas dos anos 1930 e 1940 e passando depois pelas telas com espelhos da série “Homenagem ao Espectador”, da década de 1970, o momento mais lembrado de sua produção.

Os trabalhos são debatidos em textos de Taisa Palhares, Giancarlo Hannud e Fernanda Lopes, enquanto Marilúcia Bottalo explica a importância de se manter o acervo do artista e o próprio Teodoro contribui à publicação com palavras de afeto sobre seu objeto de pesquisa.

“A finalidade do Ubi é a coisa da estética, do belo, e como os ambientes e a arte podem transformar as nossas emoções. Os espelhos formam um portal para quem olha, com as dimensões todas. Ele cria ambientes, e isso tudo é muito arquitetura”, diz Teodoro, acrescentando que a arquitetura a que seu tio-bisavô se dedicava como docente transbordava também para a sua produção artística.

Nascido em Santos, Ubi se formou, viveu e trabalhou no Rio de Janeiro até sua morte -tanto o Museu Nacional de Belas Artes quanto o Museu de Arte Moderna da cidade têm obras do artista nos seus acervos. Ele é considerado um dos pioneiros da arte cinética no Brasil, um tipo de produção que tem nos efeitos óticos a sua razão de ser e pela qual Ubi se afeiçoou quando morou na Europa nos anos 1960.

Ao voltar para o Brasil, passou a produzir telas com tiras de espelhos dispostas ao lado de ripas de madeira pintadas. Ele também introduziu elementos industriais em sua obra, como o plexiglass e o acrílico, o que o levou a ser tido como um artista de vanguarda. Nos anos finais de sua carreira, retomou as pinturas com tinta guache.

Sua variada produção conta com cerca de 600 obras, diz Teodoro, que espera a exposição institucional acontecer para só depois negociar a representação do artista com uma galeria comercial. Primeiro, “eu estou dizendo para o público quem é Ubi Bava”, afirma ele, antes de argumentar que apesar de a obra de seu tio-bisavô ter sido produzida entre os anos 1940 e 1980, “é ainda muito fresca”.

UBI BAVA – UMA HOMENAGEM
– Preço R$ 120 (256 págs.)
– Autoria Teodoro Bava, Taisa Palhares, Giancarlo Hannud, Fernanda Lopes, Marilúcia Bottalo
– Editora Ayo Cultural
– Organização Teodoro Bava

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