GDF estuda antecipar fechamento de distribuidoras de bebidas para conter violência no DF

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O Governo do Distrito Federal (GDF) avalia restringir o horário de funcionamento das distribuidoras de bebidas como parte de uma estratégia de combate à violência. A Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP/DF) aponta que estudos recentes indicam a presença significativa de crimes em bares e distribuidoras, especialmente no período noturno, o que motivou a análise de medidas para conter essa tendência.

Segundo levantamento da Subsecretaria de Gestão da Informação da SSP/DF, 20% dos homicídios consumados e tentados registrados em 2024 no DF ocorreram nesses estabelecimentos. Esse percentual subiu para 24% ao considerar apenas os primeiros dois meses do ano. O estudo analisou 723 casos em 2023 e 135 entre janeiro e fevereiro deste ano, evidenciando que grande parte dos crimes ocorre à noite.

A SSP/DF destaca que o homicídio é o desfecho de um ciclo de violência que frequentemente começa com ameaças e lesões corporais. Por isso, o monitoramento de dados e a implementação de estratégias preventivas são essenciais para impedir a escalada da criminalidade. O objetivo da pasta é fortalecer políticas públicas, ampliar canais de denúncia e reforçar a presença das forças de segurança para evitar que pequenos conflitos resultem em crimes letais.

Comerciantes contestam fechamento

Apesar do estudo que aponta a relação entre distribuidoras de bebidas e crimes violentos, comerciantes do setor questionam a eficácia da medida e alertam para o impacto econômico.

Charriery Mendes, proprietário da Distribuidora Polar, localizada no Guará 2, gerencia o estabelecimento há nove anos e afirma nunca ter presenciado casos de violência em sua loja. “Meu horário de funcionamento varia ao longo da semana, mas fecho no máximo às 2h da manhã. Sempre mantive essa política justamente para evitar a presença de um público indesejado. Sei que existem locais em áreas de risco que funcionam 24 horas e acabam atraindo problemas, mas não é o caso do meu comércio”, explica.

Para ele, a violência não está diretamente relacionada ao funcionamento das distribuidoras, mas sim à falta de policiamento e ao tráfico de drogas. “O problema é a falta de policiamento e essa galera usuária de droga. A lei hoje não mantém bandido preso, então eles agem sem medo. Já arrombaram meu comércio, roubaram mercadorias e, mesmo depois de identificar o criminoso, não houve prisão. Passei mais de meia hora no telefone esperando uma viatura da polícia para resolver o caso”, relata.

Nicolas Pedro, de 24 anos, comerciante do ramo de distribuidoras de bebidas em Bom Pará de Goiás, também discorda da proposta e defende que a violência não está ligada diretamente ao funcionamento desses estabelecimentos. “No meu comércio, que funciona das 4h às 2h da manhã, raramente ocorre briga, no máximo uma discussão, um bate-boca, mas nada que chegue ao nível da violência. Esse estudo que querem usar para justificar o fechamento não faz sentido, porque a violência já existe desde que o mundo é mundo. O comércio não influencia no aumento da criminalidade. Pelo contrário, é um espaço de lazer, onde as pessoas vão para relaxar”, afirma Nicolas.

O comerciante também argumenta que a segurança pública deveria ser fortalecida, em vez de medidas que prejudiquem trabalhadores. “Se o problema é a violência, o governo deveria investir mais em segurança e em leis mais rígidas, e não fechar distribuidoras e deixar pais de família desempregados. Reduzir o horário de funcionamento não resolve, porque violência acontece a qualquer hora e em qualquer lugar. Parece até perseguição contra a gente que trabalha no setor”, critica.

Segundo ele, além do impacto social, a mudança traria consequências financeiras severas. “A gente já enfrenta muitas dificuldades para manter o comércio aberto todo mês. Reduzir o horário significa reduzir nosso faturamento, e nesse ramo o lucro é baixo, precisamos vender bastante para compensar. Tempo para a gente é dinheiro”, completa Nicolas.

Menor índice de homicídios da história

Apesar do desafio representado pelos crimes em distribuidoras de bebidas, a SSP/DF ressalta que o DF tem alcançado uma redução expressiva nas taxas de homicídios. Em 2024, foram registrados 6,8 homicídios por 100 mil habitantes, o menor índice desde 1977. O número absoluto de vítimas também atingiu o menor patamar dos últimos 40 anos, com 203 casos registrados. Em comparação com 2023, a queda foi de 11,5%, passando de 234 para 207 vítimas.

O secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, enfatiza que a proposta de restrição de horário das distribuidoras visa reduzir a criminalidade associada a esses locais. “Muitas distribuidoras, embora classificadas como estabelecimentos de baixo risco e autorizadas a operar 24 horas por dia, acabam funcionando como bares, com mesas e consumo no local. Isso tem impacto direto nos índices de criminalidade, principalmente à noite”, afirmou.

Avelar também destaca que a medida tem sido bem recebida pela população durante reuniões dos Conselhos Comunitários de Segurança do DF (CONSEGs). “Muitos moradores apoiam a restrição de horário, não só pela preocupação com a violência, mas também pelo incômodo causado por veículos com som alto na porta desses estabelecimentos, afetando o descanso e a qualidade de vida das comunidades”, explicou.

A proposta segue em fase de estudo e poderá ser debatida com comerciantes e outros setores da sociedade antes da definição de medidas concretas. Caso seja implementada, a mudança no funcionamento das distribuidoras pode seguir modelos já adotados em outras cidades do Brasil e do exterior, onde a limitação de horário resultou na redução da criminalidade em áreas vulneráveis.

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