Embrapa faz clones de araucária de 700 anos que caiu em vendaval no interior do Paraná

araucária

CATARINA SCORTECCI
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS)

Técnicos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) conseguiram clonar uma araucária de mais de 700 anos que caiu em 2023 durante um vendaval em Cruz Machado, no interior do Paraná. E, neste mês, foram plantadas as primeiras mudas resultantes desse experimento.

Das 4 mudas clonadas no viveiro da empresa em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, 2 foram plantadas nos dias 10 e 11 em Cruz Machado -uma na mesma região onde a “árvore mãe” caiu e a outra em um colégio agrícola, para os estudantes acompanharem e aprenderem sobre o processo.

A terceira teve como destino o banco genético da própria empresa. E a quarta deve ser plantada na capital, mas o local exato ainda não foi definido.

A espécie Araucaria angustifolia é considerada um símbolo do Paraná. Em Cruz Machado, município que fica a pouco mais de 200 km de Curitiba e com 16 mil habitantes, a “árvore gigante” que já existia quando os portugueses desembarcaram no Brasil também era uma atração turística.

Com 42 metros de altura e 36 metros de tronco, ela tinha sido reconhecida em 2006 como a maior araucária do Paraná em diâmetro pelo Sistema Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná).

No final de outubro de 2023, com tempestades severas atingindo o estado, a árvore foi ao chão.

Naquela época, a Defesa Civil estimou que mais de 10 mil casas acabaram danificadas na esteira dos vendavais em todo Paraná.

Logo após a queda da araucária, os técnicos da Embrapa foram ao local para retirar fragmentos da árvore. Eles recorreram a uma enxertia, método já utilizado na espécie há quase uma década, mas que ainda não tinha sido experimentado em uma árvore tão antiga.

“Os enxertos são geralmente de árvores de 30, 40, 50 anos. Em árvores centenárias não, porque, quanto mais velha é a planta, mais difícil é criar células novas”, diz Ivar Wendling, pesquisador da Embrapa, à Folha. “Então, o ineditismo agora está em conseguir fazer essa técnica funcionar em uma araucária com essa idade. Isso nunca foi feito. Imaginávamos que acima de cem anos essa técnica nem funcionasse.”

Wendling compara o método a uma operação. “Pegamos partes da planta, brotinhos, cortamos pedaços dela e implantamos em uma outra planta, uma muda nova, que foi produzida para receber esse pedacinho. É quase que uma cirurgia. Colamos um pedacinho da planta velha numa planta nova, amarra firme e deixa 60 dias. Aquilo vai criar células novas, vai colar, digamos assim, e crescer.”

No local, a equipe tentou coletar o máximo de material possível. “Foram feitos mais de 50 enxertos e, destes, conseguimos quatro”, diz o pesquisador. As quatros mudas, ou quatro clones, preservam exatamente a mesma genética da árvore de mais de 700 anos. Mas a morfologia delas dependerá de fatores variados e possivelmente não ficarão tão grandes como a árvore mãe.

“Nós pegamos célula velha de árvore velha. Na memória dela, ela já tem essa informação de que já cresceu, de que já está apta a reproduzir. Então, ela vai reproduzir muito mais cedo e vai crescer muito menos do que se fosse uma árvore nova”, afirma ele, ao lembrar que a técnica da enxertia vem sendo utilizada até aqui em função principalmente dessas características, a produção precoce de pinhão e a possibilidade de árvores menores, o que facilita a coleta.

No caso da enxertia na árvore centenária, a finalidade é outra. “É um grande feito para a ciência. No futuro, talvez possa ser um feito comercial também, mas agora é para a ciência. Essa árvore, o que ela já passou de intempéries ambientais, o que a gente pode imaginar que ocorreu em 700 anos? E o fato de ela ter resistido a tudo isso talvez seja por alguma questão genética rara, que a gente agora está preservando para estudar melhor no futuro”, diz o pesquisador, que acrescenta que uma araucária em média sobrevive em torno de 200 anos.

“A partir dessas, agora podem ser feitas novas mudas, se houver interesse. O importante é conseguir uma planta. Depois você pode multiplicá-la, se for o objetivo.”

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