Peça “galhada, em tempos de fissura” questiona a crise ambiental

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Em um cenário de intensas transformações e colapsos ambientais, a obra “galhada, em tempos de fissura”, de Alice Stefânia, surge como um grito de alerta e reflexão. Estreando nesta sexta-feira (21) no Espaço Semente, no Gama, o espetáculo, que segue sua temporada por Taguatinga, Ceilândia e Plano Piloto, oferece uma proposta inovadora que mescla crítica social, ecocrítica e arte performática, com entrada franca para o público.

A peça, que faz parte dos estudos de pós-doutorado de Stefânia na ECA-USP, apresenta uma investigação sobre o Antropoceno — o termo que muitos consideram uma nova era geológica, marcada pela ação devastadora dos seres humanos sobre o meio ambiente. Mas, mais do que uma reflexão geológica, a peça expõe a face humana desse fenômeno, abordando-o sob a ótica do capitalismo, como defendem alguns teóricos que o veem como o principal motor da crise climática.

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Foto: Diego Bresani

A encenação se desenvolve a partir de um posicionamento anticolonial, onde a exploração, tanto ambiental quanto humana, surge como um elo entre o passado colonial e o atual modelo capitalista. Em meio a essa reflexão, o espetáculo utiliza a galhada como metáfora para esse colapso global, evocando-a como um conceito, sintoma e encantaria, onde a relação entre os mundos vegetal, animal e mineral é ativada por uma força transespecífica. O que surge é uma poética sensorial, que integra música ao vivo, sons pré-gravados e projeções visuais para criar uma experiência imersiva.

A concepção do espetáculo também se deve à colaboração com artistas diversos. A direção de movimento e atuação ficou a cargo de Giselle Rodrigues, enquanto William Ferreira se encarregou da direção de arte, criando uma composição visual que remete à inquietação e à urgência do tema tratado. A trilha sonora ao vivo, que é dirigida por Diogo Cerrado e Lupa Marques, adiciona uma camada sonora essencial para a transição entre os mundos e para a potência de uma crítica imersiva ao nosso tempo.

Além disso, o espetáculo não se limita ao palco. Ele desafia as fronteiras tradicionais da performance teatral, ao se inscrever em um campo de pesquisa contínuo, que envolve a troca de saberes entre vários artistas e acadêmicos. A direção geral de Alice Stefânia, que também assina a dramaturgia junto a Fernando Carvalho, é uma obra de arte colaborativa que reflete o próprio conceito de interconexão proposto pela peça.

“Galhada, em tempos de fissura” não é apenas uma crítica ambiental; é uma reflexão sobre a urgência de transformar nossa relação com o planeta e com os outros seres que o habitam. Ao convidar o público a experimentar esse encontro entre arte, ciência e crítica social, o espetáculo se coloca como um manifesto sobre o presente e o futuro de nossas existências.

Serviço:
galhada, em tempos de fissura
Temporada:
21, 22 e 23/3, às 20h – Espaço Semente, no Gama (St. Central)
24, 25 e 26/3, às 16h – Teatro Yara Amaral – SESI Taguatinga (QNF 24)
28, 29 e 30/3, às 20h – Teatro Newton Rossi – SESC Ceilândia (QNN 27)
4, 5 e 6/4, às 20h – Teatro Hugo Rodas – Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul)
Classificação indicativa: livre para todos os públicos
Duração: 65 minutos
Retirada de ingresso: https://www.sympla.com.br/evento/galhada-em-tempos-de-fissura/2858436
A peça fará quatro sessões fechadas em escolas

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