Dólar fecha em alta e Bolsa cai após decisões de juros do Brasil e dos Estados Unidos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar subiu 0,49% e encerrou a quinta-feira (20) cotado a R$ 5,676, pondo fim à sequência de quedas que levou a moeda norte-americana à menor cotação desde outubro do ano passado.

A alta acompanhou o movimento no exterior. O índice do dólar (DXY, na sigla em inglês), que o compara a uma cesta de seis divisas fortes, subiu 0,36%, a 103,80.

Os ajustes se estenderam à Bolsa brasileira, que também teve a sequência de seis altas encerrada. O Ibovespa fechou em queda de 0,41%, a 131.954 pontos.

Nesta sessão, as posições dos investidores foram norteadas pelas decisões de juros do Copom (Comitê de Política Monetária) e do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) da véspera.

O comitê do BC (Banco Central) cumpriu com a indicação das reuniões anteriores e aumentou a taxa básica de juros do país, a Selic, em um ponto percentual, de 13,25% para 14,25% ao ano. É o mesmo nível atingido durante a crise do governo de Dilma Rousseff (PT).

A decisão foi unânime. No comunicado, o comitê sinalizou que os juros vão continuar subindo na próxima reunião, em maio, e que pretende fazer uma nova alta de menor intensidade. Apesar disso, evitou se comprometer com um ritmo específico de ajuste.

Como justificativa, o Copom citou a continuidade do “cenário adverso” para a convergência da inflação, a elevada incerteza e as defasagens do efeito da política de juros sobre a economia.

Para especialistas consultados pela reportagem, a próxima elevação deve ser de 0,50 ponto percentual -desde janeiro, o boletim Focus estima que a Selic atinja 15% em 2025.

“O Comitê optou por colocar uma sinalização futura, indicando que fará uma alta de menor magnitude em maio e que, para após a decisão de maio, seu ritmo de altas vai ser definido pela convergência das expectativas inflacionárias”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

“Essa perspectiva de que o Brasil terá aumento de juros na decisão de maio deve contribuir para a ampliação do diferencial de juros brasileiro.”

Quanto maior a diferença entre os juros daqui e os dos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” -quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

No entanto, a potencial força do real foi ofuscada pelo avanço da moeda norte-americana no exterior, onde agentes financeiros ainda reagiram à decisão de juros do Fed.

A autoridade monetária decidiu manter a taxa de juros na faixa de 4,25% e 4,50%, no que foi a segunda manutenção consecutiva. A decisão, já esperada pelo mercado, ocorre em meio a temores de uma recessão, influenciados pelas políticas voláteis dos primeiros dois meses do novo mandato de Donald Trump.

No comunicado, os dirigentes do Fed afirmaram que as incertezas sobre o cenário econômico cresceram, mas que os objetivos seguem sendo atingir o pleno emprego e convergir a inflação à meta de 2%. O “dot plot”, no entanto, mostrou que as políticas de Trump já começaram a entrar na conta dos membros do comitê.

O documento que apresenta as projeções dos dirigentes para a economia trouxe uma diminuição nas expectativas de crescimento do PIB este ano, de 2,1% para 1,7%. As de inflação, por outro lado, cresceram de 2,5% para 2,7%.

O dot plot informou, ainda, que os oficiais do Fed esperam uma redução total de 0,50 ponto percentual até o final do ano.

“É uma postura cautelosa diante das incertezas econômicas geradas pelas políticas do governo Trump, como tarifas comerciais e alterações no gasto público”, diz José Cassiolato, sócio da RGW Investimentos.

O presidente norte-americano impôs tarifas sobre importações chinesas e compras de aço e alumínio -com ameaças de mais taxas à frente-, intensificou o controle da imigração e iniciou um processo de demissões em massa de funcionários do governo federal.

Para economistas ouvidos pelo Financial Times, a incerteza em torno das tarifas de Trump complicou a tarefa do Fed em enviar uma mensagem clara sobre a direção da economia. Nos últimos anos, o banco vem insistindo que é “dependente de dados” e se concentra mais nos últimos números de inflação e crescimento, em vez de modelar o futuro.

Alguns temem que a dependência de dados retrospectivos coloque o Fed em desvantagem em um ambiente de crescente incerteza política e econômica, especialmente porque as pressões de preços induzidas por tarifas podem demorar para se refletir nos dados.

Segundo especialistas, as medidas de Trump podem elevar os preços de uma série de produtos e provocar incertezas nos consumidores e empresários, que segurariam gastos e investimentos. O cenário desenhado é de uma “estagflação”, isto é, quando a inflação está elevada e a economia não cresce.

Em entrevista coletiva após a decisão, Jerome Powell, presidente do Fed, avaliou que é “muito cedo para ver efeitos significativos das tarifas”, mas que “o progresso na inflação pode ser adiado por causa delas” e que “boa parte das projeções de alta deriva da política tarifária”.

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