Governo investiga R$ 10 milhões captados para obra abandonada na Unifesp

BRUNO LUCCA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O Ministério da Cultura investiga um projeto da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) que levantou mais de R$ 10 milhões para transformar a biblioteca da Escola Paulista de Medicina num centro cultural em saúde. Iniciada em 2019, a obra está abandonada, como mostrou a Folha.

O prazo para uso do montante arrecadado por meio da Lei Rouanet terminou em 31 de dezembro do ano passado, segundo o governo. A Fundação de Apoio da instituição apresentou uma prestação de contas no último dia 9 de fevereiro. Foram anexadas notas fiscais sobre gastos no projeto e detalhada a evolução da obra.

A pasta do governo Lula afirma que analisa a documentação para definir se os valores foram corretamente aplicados e o objetivo do projeto foi cumprido. Caso não, o dinheiro terá de ser devolvido.
Nesses seis meses que o ministério tem para responder, a quantia não pode ser movimentada, o que deixará a obra paralisada ao menos até agosto.

Enquanto isso, a Unifesp diz que a sua Fundação de Apoio segue captando recursos para o prosseguimento da obra, orçada em R$ 17,3 milhões. Segundo a instituição, a reforma foi atrasada pela pandemia de Covid, encerrada oficialmente há dois anos.

“Reiteramos também que a diretoria da Escola Paulista de Medicina, a diretoria do Campus São Paulo e a reitoria estão concentrando todos os esforços no sentido de mitigar a demora da reforma”, completa em nota.

Desde o início da reforma, foram derrubadas somente algumas paredes e guardados materiais. Hoje, o imóvel na Vila Mariana, zona sul da capital paulista tem seu exterior tomado por vegetação e sujeira. A parte interna tem paredes mofadas e descascadas, além de muita poeira.

Enquanto as obras não avançam, um espaço de estudo improvisado foi disponibilizado para os estudantes na própria escola. A Unifesp diz que o espaço é adequado, mas os graduandos e pós-graduandos discordam.

O Centro Acadêmico Pereira Barretto, que representa os matriculados ali, diz haver uma espécie de “galpão adaptado” em que ficam alguns livros do acervo. Lá, eles podem pegar até três exemplares emprestados, mas não podem sentar, ler e estudar no local. “Não há nem mobiliário para isso”, afirma.

Há ainda alunos que dizem nem ter conhecimento sobre a existência de uma biblioteca no campus. Esses afirmam utilizar arquivos digitais desde o início do curso.

A biblioteca da Escola Paulista de Medicina, iniciada em 1936, conta com 33 mil títulos entre livros, teses e dissertações, e uma coleção de periódicos de saúde, com 6.000 títulos e 800 mil fascículos. O conjunto representa o maior acervo na área de saúde no país e na América Latina.

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