‘Milton Bituca Nascimento’: A poética trajetória de um mestre da música brasileira

bituca 22

Milton Nascimento sempre foi mais que um cantor ou compositor; sua música é uma travessia, um encontro de tempos, vozes e fronteiras. “Milton Bituca Nascimento”, documentário dirigido por Flavia Moraes, embarca nessa jornada com a promessa de revelar a trajetória de um dos maiores artistas brasileiros. O filme, que chega aos cinemas com um olhar poético, é uma ode ao legado de Milton, mas também um reflexo de sua essência: introspectivo, grandioso e, por vezes, enigmático.

Desde os primeiros minutos, a imagem do trem conduz a narrativa, atravessando o tempo e ressoando como uma metáfora para a própria arte de Milton, que nunca se limitou a rótulos. O documentário utiliza essa simbologia de maneira recorrente, entrelaçando imagens de paisagens e trilhos com a musicalidade única do artista. O eco, tão presente em sua sonoridade, também ganha protagonismo, tanto na construção sonora do filme quanto na forma como sua influência reverbera por diferentes gerações.

bituca 15
Foto: Divulgação/Gullane+

A escolha de Fernanda Montenegro como narradora reforça o tom lírico da obra. Sua voz solene conduz o espectador por momentos emblemáticos da vida de Milton, sem a preocupação de seguir uma linha do tempo rigorosa. O foco está mais na sensibilidade do artista do que em marcos biográficos. Se, por um lado, isso torna o filme uma experiência sensorial envolvente, por outro, pode afastar aqueles que buscam um retrato mais detalhado da trajetória de Milton.

O documentário também se destaca por reunir um elenco de entrevistados que vão de Chico Buarque a Herbie Hancock, passando por Mano Brown e Criolo. Essa diversidade de depoimentos reforça o impacto de Milton em diferentes nichos musicais, transcendendo barreiras de idioma e estilo. Um dos momentos mais tocantes vem do jazzista Wayne Shorter, que compara a voz de Milton ao trompete de Miles Davis, capturando em poucas palavras a complexidade e emoção que sua música carrega.

bituca 04
Foto: Divulgação/Gullane+

No entanto, ao exaltar tanto a figura do artista, o filme por vezes negligencia elementos que poderiam enriquecer a narrativa. Alguns entrevistados internacionais, como Fito Páez, são apresentados sem um contexto mais detalhado, o que pode fazer com que sua presença perca força para parte do público. Da mesma forma, questões mais delicadas da vida de Milton, como sua saúde, são apenas tocadas de maneira superficial, deixando lacunas sobre como esses desafios moldaram sua arte.

Ainda assim, “Milton Bituca Nascimento” é uma experiência cinematográfica rica em emoção e beleza visual. A forma como o documentário captura os últimos momentos de Milton nos palcos, durante a turnê “A Última Sessão de Música”, é um dos pontos altos da obra. Os estádios lotados, os aplausos emocionados e a comunhão entre artista e público traduzem, sem a necessidade de explicações, a grandiosidade de seu legado.

bituca 09
Foto: Divulgação/Gullane+

Conclusão

No fim, o documentário se assume como um tributo apaixonado, mais interessado em celebrar do que em explicar. Para os fãs, é um presente; para os não iniciados, pode ser uma porta entreaberta, convidando a explorar, por conta própria, o universo vasto e atemporal de Milton Nascimento.

Confira o trailer: 

Ficha Técnica
Direção:
Flávia Moraes;
Roteiro: Marcélo Ferla e Flávia Moraes;
Elenco: Milton Nascimento;
Gênero: Documentário;
Duração: 119 minutos;
Distribuição: Gullane+;
Classificação indicativa: 1o anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z e Sinny Assessoria

Adicionar aos favoritos o Link permanente.