Risoto x Arroz com feijão

A economia está com altos e baixos. Do lado positivo estão o PIB, os investimentos privados em infraestrutura e o desemprego. Do lado negativo, estão a inflação, que resiste em ceder e alimenta a sanha do Banco Central em aumentar as taxas de juros, e a percepção de que nenhuma reforma importante será feita antes das eleições de 2026.

Até as eleições, veremos, de um lado, tentativas originadas em todos os Poderes da República e nos Entes da Federação, de aumento de gastos públicos e do crédito. Do outro, o Banco Central tentando conter os excessos de demanda agregada, numa economia muito indexada e com choques de consumo — como o de energia por conta das ondas de calor – e de oferta, pelas questões climáticas ou sazonais.
Tem gente dizendo que teremos até as eleições algo como a política feijão com arroz, implementada na segunda metade dos anos 80, quando nada de disruptivo foi feito, à espera dos resultados das eleições de 1989.

A diferença, importantíssima, é que, naquela época, o Brasil estava em recessão, hiperinflação, elevado endividamento externo e interno. Não havia reservas internacionais e o déficit público era altíssimo. Hoje, temos reservas internacionais elevadas, arcabouço fiscal mais ou menos e saldo comercial positivo e consistente. A indústria voltou a ter algum dinamismo, a safra vai ser boa, a inflação está apenas ligeiramente acima da meta e o pipeline de novos projetos de infraestrutura é muito grande.
Mas estamos no meio de incertezas vindas do exterior. Teremos, ainda, uma gangorra na taxa de juros, aumentando agora, com impactos negativos sobre a economia e, provavelmente, sendo reduzida no final do ano, já num ambiente de menor inflação.

De todo modo, como nossa economia está infinitamente melhor do que a observada no final dos anos 80, estamos mais para um risoto do que para o feijão com arroz.

Roberto Figueiredo Guimarães, diretor da ABDIB e ex-secretário do Tesouro Nacional

Adicionar aos favoritos o Link permanente.