Eduardo Bolsonaro repete argumentos de Jean Wyllys após clã ter ironizado ex-deputado

JULIANA ARREGUY
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Ao afirmar que o Brasil vive um “regime de exceção” para justificar sua permanência nos Estados Unidos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) adotou discurso semelhante ao utilizado pelo ex-deputado Jean Wyllys quando ele decidiu deixar o país, há seis anos.

Na época, a decisão do então deputado do PSOL foi ironizada pela família Bolsonaro. Horas após Wyllys anunciar que iria para o exterior, o então presidente Jair Bolsonaro comemorou nas redes sociais:

“Grande dia”. Foi seguido pelo filho Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro, que escreveu “vá com Deus e seja feliz!”.

As postagens foram vistas como provocações a Wyllys. Na data, Bolsonaro retornava do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, e negou se tratar de uma alfinetada -disse que as mensagens apenas celebravam o sucesso da viagem.

Já nesta terça-feira (18), o ex-presidente afirmou que, “se o deputado federal mais votado da história do Brasil é forçado a escolher entre o exílio ou a prisão, este país já não pode mais ser chamado de democracia”, em referência a seu filho.

Wyllys abriu mão de seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados em janeiro de 2019, pouco após a posse de Bolsonaro como presidente, sob a afirmação de que, àquela altura, sua permanência no país não era mais segura.

Ele citou ameaças de morte e ataques homofóbicos de Bolsonaro contra ele.

“Essa não foi uma decisão fácil e implicou em muita dor, pois estou com isso também abrindo mão da proximidade da minha família, dos meus amigos queridos e das pessoas que gostam de mim e me queriam por perto”, disse ele à Folha de S.Paulo na ocasião.

Eduardo, por sua vez, afirmou que a decisão de ficar nos EUA foi a “mais difícil” de sua vida e também apelou para as garantias dos direitos humanos ao anunciar que não retornará ao Brasil.

O deputado do PL, que faz uma ofensiva no país contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), justificou sua viagem como necessária para que ele possa “parar a sanha totalitária de um psicopata sem limites”, em referência ao ministro.

“Irei me licenciar sem remuneração para que eu possa me dedicar integralmente e buscar as devidas sanções aos violadores de direitos humanos”, afirmou.

Assim como Wyllys se dedicou a denunciar o governo Bolsonaro enquanto esteve fora do país, o deputado do PL tenta convencer autoridades americanas a aplicarem sanções contra Moraes, que é relator da denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) sobre a trama golpista de 2022.

Wyllys só retornou ao país em julho de 2023, no primeiro ano do governo Lula (PT), após Bolsonaro ter sido declarado inelegível. O período em que o ex-deputado permaneceu no exterior foi citado por parlamentares dos EUA como exemplo da necessidade de se ajudar a defender os direitos humanos no Brasil.

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