Dólar tem 6º pregão seguido de queda com exterior e isenção do IR no radar; Ibovespa sobe 0,49%

dolar

Após trocas de sinal pela manhã, o dólar se firmou em baixa no início da tarde desta terça-feira, 18, refletindo o alívio com a ausência de surpresas negativas no projeto de isenção de Imposto de Renda (IR) e o recuo da moeda norte-americana no exterior, em especial na comparação com divisas fortes.

Com mínima a R$ 5,6565, ao longo da cerimônia de apresentação da reforma do IR em Brasília, o dólar encerrou o dia em baixa de 0,25%, cotado a R$ 5,6721 – menor valor de fechamento desde 24 de outubro (R$ 5,6629).

Foi o sexto pregão consecutivo de queda da moeda, que já acumula desvalorização de 4,13% em março.

Para o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, o projeto de isenção de IR já estava de certa forma incorporado aos preços dos ativos domésticos. Sem ruídos fiscais e políticos, o real ficou livre para se beneficiar do ambiente externo favorável e da taxa de juros doméstica elevada.

“O Brasil sofre menos que outros países com as tarifas de importação dos EUA. E a China está dando mais estímulos à economia”, diz Weigt. “Tem muito fluxo estrangeiro para a bolsa. Parece que o dólar pode cair ainda mais.”

Como já anunciado, o governo quer isentar quem recebe até R$ 5 mil por mês. Para compensar a perda de receita, estimada em R$ 27 bilhões, o projeto prevê alteração das regras para quem recebe mais de R$ 50 mil mensais. Também está prevista a tributação de dividendos sobre valores que superem R$ 50 mil.

Tanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disseram que a proposta é neutra do ponto de vista fiscal. “Este projeto não vai aumentar um centavo na carga tributária da União”, disse Lula.

Presente na cerimônia de lançamento do projeto, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), classificou a isenção de IR como uma medida justa, mas já alertou que o texto deve ser alterado na passagem pela Casa e pelo Senado.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, vê riscos de a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês ser aprovada no Congresso sem a contrapartida de aumento de imposto para a alta renda, o que pode piorar a percepção de risco fiscal.

“Mas, por enquanto, o mercado parece operar com a tese de que não tem nada novo no fiscal e busca ativos mais baratos. Ninguém quer ir contra o movimento mais forte de entrada dos estrangeiros”, afirma Borsoi.

Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operava em leve queda no fim da tarde, ao redor dos 103,200 pontos, após ter avançado pela manhã. As taxas dos Treasuries e as bolsas americanas recuaram.

Investidores adotam postura cautelosa à espera da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) na quarta-feira, 19. É dado como certo que o banco central americano manterá a taxa básica na faixa entre 4,25% e 4,50%. As atenções se voltam às previsões dos dirigentes do Fed para juros e inflação, no chamado gráfico de pontos, e a alguma aceno no comunicado sobre os próximos passos da instituição.

Por aqui, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve entregar também na quarta a prometida alta de 1 ponto porcentual da taxa Selic, para 14,25% ao ano. Eventuais menções sobre o impacto da desaceleração da atividade e da apreciação do real sobre a inflação serão vistas com lupa, uma vez que podem sugerir abreviamento do processo de aperto monetário.

O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, afirma que o real e a bolsa doméstica se beneficiaram nos últimos dias de valorização das commodities, com destaque para o minério de ferro, após os recém-anunciados pacote de estímulos econômicos na China e na Europa.

“Com os mercados se ajustando, o Brasil continua sendo visto como um país subvalorizado, com ativos baratos”, afirma Gala. “Na minha visão, o câmbio deveria estar abaixo de R$ 5,00. Se essa correção continuar, será um alívio para o Banco Central.”

Ibovespa

Mesmo na contramão de Nova York, onde as perdas chegaram a 1,07% (S&P 500) e a 1,71% (Nasdaq) no fechamento, o Ibovespa estendeu a série positiva pela quinta sessão, nesta terça-feira, 18, em alta de 0,49%, aos 131.474,73 pontos, no maior nível de encerramento desde 16 de outubro, então aos 131.749,72 pontos. Foi também a terceira vez consecutiva que o índice da B3 renovou a máxima de fechamento do ano.

Nesta terça, oscilou dos 130.721,97 aos 131.834,32 pontos, sem sinal único ao longo do dia para as blue chips, mas ao fim positivo para Vale (ON +0,74%) e também Petrobras (ON +0,08%, PN +0,08%), em terça-feira de baixa tanto para os preços do minério como do petróleo. E sem direção única para os grandes bancos, em variação entre -0,53% (Bradesco ON) e +0,53% (Itaú PN) no fechamento.

Na ponta ganhadora, além de SLC Agrícola (+8,11%), destaque absoluto para JBS, em alta de 17,89% no fechamento, puxando os preços das ações de outros frigoríficos, como Marfrig (+6,68%) e BRF (+7,15%).

Desde cedo, a demanda por JBS foi favorecida pelo acordo da empresa com a BNDESPar sobre a listagem da companhia em Nova York.

“A BNDESPar decidiu se abster de votar sobre a proposta de dupla listagem de ações da JBS nos Estados Unidos e no Brasil. O BNDES é detentor de 20% das ações da JBS e os investidores ficaram muito otimistas com a decisão de a empresa não ter votado contra”, diz Matheus Lima, analista e sócio da Top Gain, acrescentando que as ações do frigorífico vinham em trajetória negativa desde dezembro.

No lado oposto do Ibovespa, CVC (-3,47%), B3 (-3,06%) e Vamos (-2,63%). O giro financeiro na sessão ficou em R$ 21,3 bilhões. Na semana, o Ibovespa sobe 1,95% e, no mês, ganha 7,06%. No ano, a valorização do índice é de 9,30%.

Em Londres e Nova York, o avanço das negociações de paz na Ucrânia, entre a Rússia e os Estados Unidos, prevaleceu sobre as tensões no Oriente Médio com a retomada de ataques de Israel ao Hamas. Em Nova York, o contrato do WTI para maio fechou em queda de 0,92%, a US$ 66,75 o barril, enquanto o Brent para mesmo mês, em Londres, recuou 0,71%, a US$ 70,56 por barril.

“Ibovespa operou hoje mais uma vez descolado do que se viu nos Estados Unidos, mas a terça-feira foi positiva também na Ásia e na Europa, onde houve a aprovação do pacote fiscal alemão, com aumento de gastos públicos que pode trazer efeitos favoráveis para o continente”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Ele acrescenta que, em Nova York, houve cautela na véspera da decisão de juros nos EUA, em que o Federal Reserve pode trazer indicações cuidadosas com relação ao segundo semestre, intervalo para o qual o mercado tem mostrado expectativa quanto a possível corte da taxa de referência – que deve ser mantida na quarta-feira.

No Brasil, por sua vez, também está totalmente precificada a elevação, nesta quarta-feira, da Selic em 100 pontos-base, a 14,25% ao ano, mas “a sinalização do Copom quanto aos próximos passos sobre a política monetária doméstica tende a ser mais flexível”, avalia Spiess.

“O ciclo de aperto monetário provavelmente não será tão longo, e já deve haver redução do ritmo de aperto nas reuniões seguintes com relação aos juros”, acrescenta o analista, em referência a ajuste na comunicação do BC que abriria caminho para cortes na Selic no segundo semestre, já mais perto do fim do ano.

Juros

O cenário de potencial perda de fôlego na economia, tanto interna quanto externamente, e de continuidade na queda dos juros dos Estados Unidos contribuiu para uma leve redução das taxas dos contratos de DI na véspera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Apesar do debate no mercado sobre qual deve ser o ponto final do ciclo de alta da Selic, a curva se movimenta para refletir a chance de a taxa parar de subir antes de alcançar os 15% ao ano.

Gustavo Okuyama, gestor de renda fixa da Porto Asset, aponta que fatores como dados mais fracos sobre a atividade colhidos neste ano e a diminuição dos juros de Treasuries colaboraram para comprimir o prêmio de risco aplicado aos ativos brasileiros.

“Com isso, a gente corre o risco não desprezível de o Banco Central vir com comunicação mais dovish”, disse Okuyama, acrescentando que o mercado estará particularmente atento à indicação do Copom sobre qual será o movimento da Selic em maio. “A gente tem visto opinião para todos os lados, inclusive algumas achando que ele deixaria em aberto. Eu acredito que sinalizará um ajuste de menor magnitude”, disse o gestor.

Segundo ele, a curva de DIs precifica, além da alta de 1 ponto porcentual na reunião do Copom amanhã, aumentos de 0,48 ponto no encontro de maio, de 0,16 ponto no de junho e de 0,03 ponto em julho.

Marcos Iório, gestor dos fundos de crédito privado do Integral Group, afirmou que o Copom deve mostrar intenção de desacelerar o ritmo de alta da Selic, mas deixar a porta aberta em relação à trajetória da taxa nas próximas decisões caso precise tomar decisões mais duras à frente.

Para o gestor, ainda que a curva aponte chance de a Selic não chegar a 15%, há fatores que justificariam a taxa inclusive a níveis maiores – o Integral Group espera que ela alcance 15,50%, com alta de 0,75 ponto porcentual em maio e de 0,50 ponto porcentual posteriormente, além do avanço já esperado para 14,25% na decisão do Copom amanhã.

“O cenário ainda é feio quando se olha para a expectativa de inflação, a inflação corrente e para os índices de atividade ainda mistos. Vai ser muito direcionado pelos dados”, afirmou.

A proposta do governo para isentar de Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil mensais teve pouco efeito nos juros futuros. “Era amplamente esperado e inicialmente parece que a contrapartida seria suficiente para pagar a isenção”, disse Okuyama. “O que vai importar agora, mais do que o que foi apresentado inicialmente, é o que vai sair” após a tramitação no Congresso, acrescentou.

A taxa do contrato de DI para janeiro de 2026 caiu a 14,725%, de 14,740% no ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 diminuiu a 14,420%, de 14,470%, e a taxa para janeiro de 2029 recuou a 14,195%, de 14,286%.

Estadão conteúdo

Adicionar aos favoritos o Link permanente.