A força de um debate nas disputas presidenciais

Como vencer um debate? Quais estratégias garantem sucesso em um confronto de ideias, especialmente quando o objetivo é governar os EUA pelos próximos quatro anos? O que dizer para conquistar o voto de quem ainda está indeciso? Como estruturar a fala de maneira eficaz?

Para ter êxito em um debate presidencial, o candidato precisa adotar estratégias que minimizem suas fraquezas e destaquem seus pontos fortes. Uma técnica comum é desviar dos assuntos em que não tem domínio ou experiência, direcionando o foco para suas conquistas. Ao mesmo tempo, pode-se provocar o adversário a abordar questões sensíveis em que ele ou ela tem desvantagens, forçando-o a adotar uma postura mais defensiva e menos persuasiva. O poder de um discurso está em enaltecer as qualidades e evitar as fraquezas.

O debate na Filadélfia

O debate, realizado em 10 de setembro e organizado pela ABC News, marcou o primeiro encontro presencial entre os candidatos à presidência dos EUA. Foi também o primeiro aperto de mãos em um debate presidencial em oito anos, uma iniciativa da candidata democrata Kamala Harris. Ambos seguiram à risca a estratégia de evidenciar suas forças e desviar dos pontos fracos.

Donald Trump teve sucesso ao focar na economia, um tema que ressoa bem entre a maioria dos americanos e uma área em que sua gestão teve apoio considerável. Ele manteve uma postura conservadora, reforçando seu compromisso com os eleitores fiéis, enquanto Kamala Harris enfrentou dificuldades ao abordar o rombo nas contas públicas e a alta inflação projetada. Contudo, Harris foi hábil ao ironizar o tamanho das multidões nos comícios de Trump e o prestígio que ele supostamente tem entre líderes globais, forçando o ex-presidente a uma postura mais defensiva. Kamala tentou apresentar Trump como alguém com uma visão de governo ultrapassada, enquanto ela se posicionava como uma figura de renovação.

A forma de se comunicar e o comportamento dos candidatos também influenciam os votos dos indecisos. Nesse aspecto, Trump enfrentou desvantagem por seu temperamento explosivo e impaciente, o que lhe conferiu uma imagem mais desequilibrada. Kamala Harris, por outro lado, iniciou o debate com vantagem ao ir ao encontro de Trump para cumprimentá-lo de maneira assertiva. Ela provocou o ex-presidente, que caiu em suas provocações, adotando uma postura defensiva. Em momentos críticos de questionamento, Harris manteve mais controle emocional, o que pode ter conquistado parte dos indecisos.

Entretanto, em alguns momentos, Harris também demonstrou descontrole emocional com expressões faciais debochadas diante das falas de Trump, o que pode ter enfraquecido sua postura. Vale lembrar que o voto nos EUA não é obrigatório, e os candidatos precisam não apenas ganhar o debate, mas motivar os eleitores a comparecerem às urnas.

Fake news

Infelizmente, os debates presidenciais também são palco de desinformação. Ambos os candidatos se atacaram com acusações infundadas, tentando confundir os eleitores indecisos. Trump, por exemplo, afirmou que imigrantes estavam comendo carne de cães e gatos, o que viralizou nas redes sociais como meme. Harris, por sua vez, trouxe informações falsas sobre Trump supostamente apoiar um veto nacional ao aborto, algo que ele negou, dizendo que deixaria essa decisão para os estados.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo New York Times e Siena College entre 3 e 6 de setembro, Trump liderava a corrida eleitoral com 48% dos votos, contra 47% de Kamala Harris – uma diferença mínima de 1%. Após o debate, uma pesquisa da CNN com eleitores indecisos apontou Harris como vencedora, com 63% das preferências, contra 37% para Trump. Essa diferença reflete o impacto significativo que o debate pode ter sobre os eleitores ainda em dúvida.

Dados nacionais divulgados pela Activote no início de novembro mostram Trump à frente, com 50,5% das intenções de voto, contra 49,5% de Harris. As pesquisas regionais indicam que Harris lidera em estados como Massachusetts, Washington, Maryland e Colorado, enquanto Trump mantém vantagem em estados como Oklahoma e Carolina do Sul.

Em algumas pesquisas mais recentes, como a da Ipsos/Reuters, Harris aparece com uma leve vantagem de 44% contra 43% de Trump, enquanto no levantamento da GBAO/The Wall Street Journal, Trump lidera com 47%, contra 45% de Harris.

A disputa presidencial entre Trump e Harris está incrivelmente acirrada e histórica. Embora o debate não tenha definido um claro vencedor, ele foi fundamental para influenciar os indecisos e motivar os eleitores a comparecerem às urnas em um cenário onde o voto é opcional. Cada ponto levantado pode fazer a diferença nessa corrida que será decidida por margens apertadíssimas.