convida Aline Agustinho da Silva (CRP 01/20965)
A Psicologia é uma ciência com inúmeras possibilidades de aplicação: no esporte, na área jurídica, escolar, clínica, da saúde… E a psicologia hospitalar? Onde ela se encaixa?
Reconhecida como especialidade pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) em 2000, a psicologia hospitalar permite que profissionais atuem em instituições de saúde de média e alta complexidade. Trata-se de um ramo da psicologia da saúde, com um conjunto próprio de especificidades. Sua prática envolve atendimento a pacientes, suporte a familiares e apoio à equipe médica, formando o que Simonetti (2016) chamou de “tríade de relação”.
O foco desse psicólogo são as questões ligadas à doença, ao tratamento e à hospitalização, sempre atento aos sofrimentos psíquicos que podem surgir dessas circunstâncias. Além disso, a condição emocional do paciente pode impactar diretamente sua recuperação e resposta ao tratamento, de forma positiva ou negativa. Parte das responsabilidades do psicólogo hospitalar é avaliar se o paciente está conseguindo aderir ao tratamento e, em caso de dificuldade, identificar as possíveis causas. Esse trabalho é conduzido sem a intenção de convencer, mas acolhendo as ansiedades e angústias do paciente. A psicoeducação também é uma ferramenta importante, ajudando a esclarecer dúvidas e a reduzir a ansiedade, um sintoma comum no contexto hospitalar.

No entanto, o modelo biomédico, que ainda predomina nos hospitais, fragmenta a experiência de adoecimento, separando mente e corpo. A psicologia hospitalar, por sua vez, adota uma visão integral, baseada no modelo biopsicossocioespiritual, que valoriza todas as dimensões do indivíduo e suas interações. Nesse cenário, o resgate da subjetividade do paciente é fundamental para combater a despersonalização, muitas vezes inevitável no ambiente hospitalar.
O psicólogo hospitalar também desempenha um papel crucial ao estimular o protagonismo do paciente, oferecendo escuta qualificada, suporte emocional e promovendo a criação de recursos de enfrentamento. A doença representa um momento de crise e, nesse processo, o psicólogo pode ajudar o paciente a lidar com essa fase de incertezas, em que diagnósticos são provisórios, tratamentos imprevisíveis e quadros clínicos podem oscilar.

Dada a natureza dinâmica do ambiente hospitalar, o uso de psicoterapia breve focal é comum, com atendimentos que, em alguns casos, ocorrem em uma única sessão. Essa abordagem busca focar em um núcleo de conflito, relacionado ao adoecimento, às relações e à hospitalização, permitindo que o psicólogo atue de forma objetiva e eficaz nas demandas do paciente.
Entre as competências essenciais para o psicólogo hospitalar está a capacidade de trabalhar em equipe. Ele não atua de forma isolada; o cuidado do paciente exige uma abordagem multidisciplinar. O diálogo com outros profissionais da saúde é vital, assim como a comunicação entre paciente, família e equipe médica, papel que o psicólogo muitas vezes facilita.
Apesar dos desafios, o psicólogo hospitalar tem a oportunidade de promover autoconhecimento, amadurecimento emocional e transformações significativas na vida de pacientes e familiares. Ao entender sua função nesse ambiente, o psicólogo contribui para um tratamento digno, que valoriza a integridade e a subjetividade do paciente, muito além do foco na doença.
Até a próxima!