Robert Joseph e o poder da comunicação no mundo do vinho

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Durante a Wine Paris, uma das feiras mais importantes do setor vinícola, tive a oportunidade de entrevistar Robert Joseph, um dos críticos de vinho mais influentes do mundo. Com uma trajetória sólida, Joseph cofundou a revista Wine International e o International Wine Challenge, além de ter sido colunista do Sunday Telegraph por dezesseis anos. Atualmente, é editor associado da Meininger’s Wine Business International e produtor da marca francesa Le Grand Noir. Sua visão estratégica sobre o mercado do vinho é resultado de décadas de experiência tanto como crítico quanto como produtor.

Na conversa, Joseph abordou um dos maiores desafios do setor: a dificuldade dos pequenos produtores em se destacarem e conseguirem preços justos para seus vinhos. Para ele, a comunicação e a união são fundamentais para que regiões pouco conhecidas se estabeleçam no mercado.

Ele criticou o modelo de venda em supermercados, que, embora pareça vantajoso pelo volume, muitas vezes é “disfuncional”. “Os supermercados compram os vinhos a preços baixos e não trabalham a marca. O risco de o produto ficar encalhado nas prateleiras é alto”, alertou. A solução, segundo Joseph, está na colaboração. “Se cada produtor tentar se promover individualmente, as chances de sucesso são mínimas. Mas se uma região ou denominação se unir para promover uma marca coletiva, o impacto será muito maior.”

O setor do vinho é altamente competitivo, com milhares de produtores buscando espaço. Joseph cita o exemplo das grandes casas de Champagne, que construíram marcas fortes e globais, muitas delas pertencentes a conglomerados internacionais com estratégias de mercado bem definidas. Ele menciona ainda Château Latour e Romanée-Conti como exemplos de marcas mundialmente reconhecidas, mesmo que relutem em admitir. “E não há nada de errado nisso”, afirma.

Para pequenos e médios produtores em vilarejos menos conhecidos, transformar um vinho em uma marca globalmente reconhecida é um desafio, especialmente pela falta de recursos financeiros. Algumas vinícolas encontram nichos específicos, como na Borgonha, onde garrafas de pequenos produtores alcançam preços elevados entre consumidores que buscam exclusividade. No entanto, Joseph destaca que o mais importante é construir uma identidade de marca dentro do próprio nicho, sem necessariamente mirar o mercado de luxo.

Além disso, ele reforça a importância da união regional. “Se cada vinícola tentar promover sua marca sozinha, as chances de sucesso são mínimas. Mas se os produtores trabalharem juntos para fortalecer uma identidade coletiva, os resultados podem ser muito mais eficazes.”

Joseph não é apenas um crítico e analista do setor: ele também é produtor. Há quase 20 anos, cofundou a vinícola Le Grand Noir, no sudoeste da França, uma linha de vinhos que equilibra tradição e inovação. “Se você não for criativo e apenas seguir tendências, estará apenas copiando os outros”, afirma. A Le Grand Noir é um exemplo de como compreender as demandas do mercado sem perder autenticidade.

Seguindo essa filosofia, Joseph lançou recentemente a linha de vinhos K’AVSHIRI na Geórgia. Ele explica que escolheu o país por sua rica história vitivinícola e pela diversidade de castas autóctones, além da admiração pelo enólogo responsável pelo projeto. A produção inicial é pequena, mas há planos de expansão para oferecer algo inovador e diferenciado.

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Foto: Cynthia Malaarne

Ao falar sobre o Brasil, Joseph relembrou sua visita a Bento Gonçalves quando escreveu o livro Wines of the Americas e comentou os desafios da produção vinícola na região, especialmente por conta das fortes chuvas. Para ele, o Brasil é um mercado emergente e dinâmico, com consumidores cada vez mais abertos a experimentar novas variedades e regiões menos conhecidas. No entanto, reforça que o sucesso depende de investimentos consistentes em marketing e comunicação.

Atualmente, os vinhos franceses Le Grand Noir estão disponíveis no Brasil pela importadora Ravin. A proposta da vinícola é combinar a tradição francesa com uma abordagem contemporânea, resultando em rótulos versáteis e acessíveis. Entre os destaques, está o Le Grand Noir Cabernet Syrah, um tinto equilibrado e agradável, que harmoniza as notas frutadas do Cabernet Sauvignon com a especiaria do Syrah.

Para os apreciadores brasileiros, uma boa notícia: Robert Joseph planeja visitar o Brasil no final deste ano para promover seus vinhos pessoalmente. Essa visita promete ampliar oportunidades para o mercado e reforçar a presença da marca no país.

Com sua experiência e visão estratégica, Joseph continua a influenciar o mundo do vinho, tanto como crítico quanto como produtor, sempre atento às transformações e desafios da indústria.

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