Governo vê fala inadequada de Lula sobre Gleisi e ‘mulher bonita’, mas minimiza episódio

VICTORIA AZEVEDO E NATHALIA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Integrantes do governo Lula (PT) avaliam que a declaração do presidente da República sobre colocar uma “mulher bonita” na articulação do Executivo, em referência à ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais), não foi adequada. Eles, no entanto, minimizam o episódio, criticando a sua repercussão.

Na quarta (12), Lula disse em evento no Palácio do Planalto que colocou uma “mulher bonita” na articulação política de seu governo para “melhorar a relação” com o Congresso Nacional. A fala foi direcionada aos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que acompanhavam a cerimônia.

Três ministros afirmaram à reportagem, sob reserva, considerar a fala de Lula inadequada. Eles dizem, no entanto, que ações e gestos do petista sempre foram na direção de valorizar a atuação das mulheres.

Eles citam como exemplo desde programas do governo que privilegiam o papel das mulheres, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, até as nomeações para cargos na política, a exemplo da própria Gleisi e de Maria Elizabeth Rocha indicada por Lula para presidir o STM (Superior Tribunal Militar) -tornando-se o a primeira mulher a ocupar esse posto.

Um desses ministros diz que o presidente usou um adjetivo inadequado e que isso gera prejuízos a sua imagem, sobretudo com a militância. Ele afirma também que é preciso cuidado e que o presidente não pode “dar margem para críticas”, ainda mais em momentos como o da cerimônia de quarta, quando uma ação do governo considerada positiva acabou sendo ofuscada pela declaração.

A fala ocorreu em evento de lançamento do novo empréstimo consignado privado, batizado de “Crédito de Trabalhador”. A criação desse novo modelo é tida como uma das principais agendas econômicas do governo federal neste ano e um aceno às classes mais baixas, num momento em que o Executivo tenta reverter a queda de popularidade do presidente.

Auxiliares do petista também falam em “distorção” das palavras do presidente por opositores para atacar a sua imagem e afirmam que as críticas estão desproporcionais. Como a Folha mostrou, bolsonaristas reagiram com críticas, ironia e ofensas machistas à fala de Lula, atacando o presidente e a ministra.

Um aliado de Lula diz que a declaração dele “não se compara” ao histórico de falas misóginas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para desqualificar mulheres com quem teve embates, ao se queixar dos ataques dos bolsonaristas. Na semana passada, por exemplo, o vereador Jair Renan (PL), filho de Bolsonaro, divulgou vídeo com comentários misóginos do pai contra petistas.

Mas, na avaliação desse aliado, justamente por isso Lula não pode cometer esse tipo de deslize. Ele reforça, no entanto, que essa declaração não reflete as atitudes do presidente da República.

A própria Gleisi divulgou nota na manhã desta quinta-feira (13) repudiando o que classificou como “ataques canalhas de bolsonaristas, misóginos, machistas e de violência política”.

“Não me intimidam nem me acuam. Oportunistas tentando desmerecer o presidente Lula. Gestos são mais importantes que palavras. Não teve e não tem outro líder como o presidente Lula que mais empoderou as mulheres”, escreveu Gleisi.

“Que moral vocês tem? Vocês esqueceram das entrevistas, dos vídeos em que Bolsonaro agrediu as mulheres, estimulando a violência política e física, o preconceito, o machismo? Canalhas, respeitem a inteligência do povo brasileiro!”, seguiu a ministra.

A ministra também afirmou que o presidente tem um histórico que o “credencia junto à luta das mulheres por espaços de comando e poder”.

“O que fico indignada é com a extrema direita, com os bolsonaristas que utilizam disso para fazer um jogo baixo, sujo, sórdido, quando na realidade, eles, sim. Eles, Bolsonaro, sempre foram contra as mulheres, discriminatórios, misóginos e machistas. Isso a gente não pode aceitar, isso vai ter resposta à altura”, disse a ministra a jornalistas, após deixar encontro com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta manhã.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), foi às redes para criticar os ataques de bolsonaristas feitos à ministra. Ele citou falas do deputado Gustavo Gayer (PL-GO) e disse que irá procurar Hugo Motta e líderes partidários para abrir um processo contra o parlamentar no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara.

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