“Better Man” e a ousadia de reinventar a cinebiografia musical

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Filmes biográficos sobre astros da música frequentemente caem na armadilha de seguir uma fórmula previsível: infância difícil, ascensão meteórica, vícios, colapsos e redenção. “Better Man: A História de Robbie Williams”, dirigido por Michael Gracey, poderia facilmente ter seguido esse caminho. No entanto, ao transformar Robbie Williams em um chimpanzé CGI, o longa encontra uma abordagem inesperada que subverte as expectativas e injeta frescor ao gênero.

O próprio Williams descreveu sua trajetória como a de um “macaco performático”, pulando de palco em palco em busca da aprovação do público. Gracey levou essa metáfora ao pé da letra, substituindo o cantor por uma versão digitalmente animada de um chimpanzé, interpretado por Jonno Davies através de captura de movimento. O resultado é, no mínimo, intrigante: a escolha pode parecer absurda à primeira vista, mas logo se revela o diferencial que transforma um filme convencional em uma experiência cativante e original.

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Foto: Divulgação/Diamond Films

Narrado pelo próprio Williams, o filme percorre os altos e baixos da carreira do artista, desde sua infância em Stoke-on-Trent até os escândalos midiáticos e os desafios com a saúde mental. O roteiro de Simon Gleeson e Oliver Cole não foge dos clichês do gênero, mas encontra na irreverência visual e narrativa uma maneira de ressignificar esses elementos. As sequências musicais são espetáculos à parte, com destaque para a recriação do clipe de “Rock DJ”, em que o Robbie digitalizado se desfaz literalmente de sua pele, numa metáfora visual impactante sobre a exposição e vulnerabilidade da fama.

Se em longas como “Bohemian Rhapsody” (2018) e “Rocketman” (2019) a escolha do ator protagonista foi alvo de debates, “Better Man: A História de Robbie Williams” contorna essa questão ao criar uma versão totalmente digital de seu personagem central. O chimpanzé CGI evita comparações diretas e permite que a performance de Williams seja reinterpretada de forma única. O trabalho da equipe de efeitos visuais da Wētā é impressionante, capturando nuances emocionais no olhar e nos gestos do personagem animado, tornando-o mais expressivo do que muitas atuações humanas no gênero.

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Foto: Divulgação/Diamond Films

A direção de Gracey, que em “O Rei do Show” (2017) já demonstrava um apreço pelo espetáculo visual, se aprofunda aqui em um território mais emocional e ousado. Em momentos chave, como a cena em que Williams descobre a morte de sua avó antes de um show crucial, a câmera brinca com perspectivas inesperadas, girando e flutuando como se estivesse dentro da mente do protagonista. O resultado são sequências de impacto visual e narrativo, que prendem o espectador tanto pelo estilo quanto pela emoção genuína.

Ainda que a produção traga uma abordagem inovadora, ele não escapa completamente das limitações do formato. A decisão de contar a trajetória completa de Williams, ao invés de focar em um momento específico de sua carreira, faz com que o filme tropece em alguns momentos convencionais do gênero. A relação do cantor com Nicole Appleton e sua luta contra a depressão são tratadas com profundidade, mas o arco narrativo acaba seguindo uma estrutura familiar.

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Foto: Divulgação/Diamond Films

Conclusão

No fim das contas, “Better Man: A História de Robbie Williams” se destaca não apenas pelo risco assumido ao transformar seu protagonista em um chimpanzé animado, mas também pela maneira como utiliza essa escolha para trazer um olhar renovado sobre a cinebiografia musical. É um filme que desafia o público a repensar o que espera de histórias sobre astros da música e, no processo, entrega uma das experiências cinematográficas mais peculiares e instigantes dos últimos tempos.

Confira o trailer: 

Ficha Técnica
Direção: Michael Gracey;
Roteiro: Simon Gleeson, Oliver Cole, Michael Gracey;
Elenco: Robbie Williams, Jonno Davies, Steve Pemberton, Damon Herriman, Raechelle Banno, Alison Steadman, Kate Mulvaney, Frazer Hadfield, Tom Budge, Anthony Hayes;
Gênero: Biografia;
Duração: 135 minutos;
Distribuição: Diamond Films;
Classificação indicativa: 16 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z

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