Zema busca se diferenciar de Tarcísio ao fazer embate público direto com Lula

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ITALO NOGUEIRA E ARTUR BÚRIGO
RIO DE JANEIRO, RJ, E BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS)

O embate público provocado por Romeu Zema (Novo) com o presidente Lula (PT) nesta terça-feira (11) é uma forma de o governador de Minas Gerais tentar se diferenciar do chefe do Executivo estadual de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na relação com o petista.

Os dois são cotados como representantes da direita para as eleições presidenciais de 2026 -e opções de apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que, apesar de manter discurso de candidato, está inelegível até 2030.

As farpas trocadas publicamente entre Zema e Lula no palanque em Betim (MG) contrastaram com as trocas de afagos entre Tarcísio e Lula há duas semanas. O governador mineiro buscou, com o evento, demonstrar ter força para confrontar diretamente o presidente em pautas que ambos divergem publicamente, apontam aliados.

Num evento de inauguração de um centro automotivo, da iniciativa privada, Zema criticou, de forma indireta, o número de ministérios de Lula e o veto ao Propag (Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados) e criticou governantes que moram em palácios.

Lula respondeu elogiando sua equipe e atribuindo a ela os resultados econômicos do país, avaliados pelo presidente como positivos. Aproveitou para provocar o governador mineiro a comparar os resultados com o de Bolsonaro, de quem Zema busca apoio.

O embate difere do tom cordial adotado por Tarcísio com Lula no fim do mês passado. O governador de São Paulo agradeceu ao presidente por ter colocado a construção do túnel Santos-Guarujá. O presidente, por sua vez, disse que o aliado de Bolsonaro está fazendo história com as parcerias junto com o governo federal.

No evento desta terça, Zema defendeu o Propag, vetado parcialmente por Lula, e disse que Minas é “o estado que mais contribuiu com o saldo da balança comercial”. “Espero que tenhamos uma correção aos juros que nós pagamos de uma divida bilionária, de 30 anos, ao governo federal”, disse.

Lula não respondeu diretamente, mas criticou mentiras sobre as contas públicas. “Aqui nesse país, se achava que mentir ao mundo era fácil. As pessoas achavam que se poderia mentir ao FMI. E depois o FMI vinha aqui investigar as nossas contas. As pessoas achavam que era fácil mentir aos nossos credores internacionais. O mundo não comporta mentira.”

Zema também provocou o presidente ao falar do número de secretarias de seu governo. “Apesar de sermos o segundo estado mais populoso do Brasil, somos o que tem menor número de secretarias: 14.

Mas para time ganhar campeonato não precisa de 20, 30 jogadores em campo, não. Precisa de 11 craques e é o que nós temos feito aqui.”

Lula, que tem quase 40 ministérios, respondeu de forma mais direta. “Tenho muita sorte de montar essa equipe extraordinária como essa aqui. Porque o importante não é discutir se você tem uma ou dez. O importante é discutir a qualidade das pessoas que você tem, os compromissos que as pessoas têm.”

As críticas frontais de Zema nesta terça foram compartilhadas em vídeos do partido Novo e aliados nas redes sociais. Eles destacam as críticas a quem mora em palácios, opondo-se a imagens da primeira-dama Janja, presente nos eventos.

A leitura da equipe de Zema é que ele precisa reforçar a imagem de um antagonista de Lula. Tal atributo é visto como natural a Tarcísio em razão de seu vínculo mais próximo com Bolsonaro -o governador mineiro, por exemplo, só declarou apoio ao ex-presidente no segundo turno das eleições de 2022.

Desde as últimas eleições presidenciais, o governador tem lançado sinais trocados em relação a Bolsonaro e seus aliados.

Questionado pela Folha sobre como avaliou a denúncia contra o ex-presidente em razão da trama golpista para impedir a posse de Lula, ele afirmou não ser jurista e optou por criticar a Justiça. Tarcísio, por sua vez, fez uma defesa mais incisiva do presidente ao comentar o caso.

Em Minas Gerais, o PL deixou de compor formalmente a base de Zema na Assembleia Legislativa. A avaliação de integrantes da bancada é a de que ele não se compromete com pautas do “bolsonarismo raiz”.

Tarcísio disse a aliados que aceitaria disputar o cargo caso o ex-presidente fizesse o pedido. Publicamente, ele nega e afirma apoiar a futura candidatura de Bolsonaro, inviável atualmente em razão de duas condenações na Justiça Eleitoral.

Zema tem a seu favor o calendário eleitoral. O governador mineiro está em segundo mandato e deve renunciar em abril para se colocar à disposição como opção ao campo de direita e a Bolsonaro. Tarcísio também pode fazê-lo, mas perderia a oportunidade de disputar a reeleição no cargo de governador aguardando o aval do ex-presidente.

O governador mineiro já disse publicamente que pretende participar das eleições de 2026 como candidato ou como apoiador de um nome viável para enfrentar Lula.

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