Inflação é a maior para fevereiro desde 2003 com pressão da conta de luz

ipca inflaÇao

LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

Puxada pela conta de luz, a inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acelerou a 1,31% em fevereiro, apontam dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta (12).

A taxa veio após variação de 0,16% em janeiro. A alta de 1,31% é a maior para fevereiro em 22 anos, desde 2003 (1,57%).

O resultado ficou em linha com a mediana das previsões do mercado financeiro, que também era de 1,31%, segundo a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 1,2% a 1,41%.

Com os dados de fevereiro, o IPCA acelerou a 5,06% no acumulado de 12 meses, após marcar 4,56% até janeiro.

É a primeira vez que o índice fica acima de 5% desde setembro de 2023 (5,19%). O teto da meta de inflação no país é de 4,5%.

FIM DO BÔNUS DE ITAIPU PRESSIONA ÍNDICE

O IPCA havia perdido força no primeiro mês deste ano com o desconto pontual do bônus de Itaipu nas contas de luz. Desta vez, a medida só entrou em vigor em janeiro devido a um atraso na conclusão do processo.

Com o bônus, a taxa de 0,16% foi a menor para o primeiro mês do ano desde o início do Plano Real, em 1994. Em fevereiro, porém, houve uma reversão.

A energia elétrica residencial teve alta de 16,8% no mês passado, após queda de 14,21% em janeiro.

Assim, a conta de luz exerceu a maior pressão individual no IPCA (0,56 ponto percentual).

Fevereiro também teve aumento do ICMS (imposto estadual) de combustíveis e reajustes sazonais de mensalidades escolares.

A gasolina subiu 2,78%. Foi a segunda maior pressão individual no IPCA (0,14 ponto percentual). A terceira (0,12 ponto percentual) veio do reajuste de 7,51% nas mensalidades do ensino fundamental.

Entre os nove grupos de produtos e serviços pesquisados, a maior variação foi registrada pelo ramo de educação (4,7%), seguido de habitação (4,44%).

Habitação é o segmento pressionado pela alta da energia elétrica. O grupo exerceu o principal impacto no índice (0,65 ponto percentual).

Em uma situação hipotética, desconsiderando a alta da energia, o IPCA seria de 0,78% em fevereiro, conforme Fernando Gonçalves, gerente da pesquisa do IBGE. É um número abaixo do registrado em igual mês de 2024 (0,83%).

O índice de difusão, que mede o percentual de bens e serviços com alta de preços, foi de 61% em fevereiro. A marca ficou abaixo dos resultados de janeiro (65%) e dezembro (69%).
Isso significa que a inflação ficou mais concentrada -ou menos espalhada- no último mês.

OVO E CAFÉ TÊM ALTA DE DOIS DÍGITOS

O grupo alimentação e bebidas teve alta de 0,7% em fevereiro. É um avanço menor do que o registrado em janeiro (0,96%).

A redução dos preços da batata-inglesa (-4,10%), do arroz (-1,61%) e do leite longa vida (-1,04%) ajudou a frear o resultado do mês passado.

Apesar da trégua, produtos tradicionais da mesa do brasileiro registraram inflação de dois dígitos em fevereiro. Foram os casos do ovo de galinha (15,39%) e do café moído (10,77%).
A alta do ovo é a maior desde o início do Plano Real. O avanço do café é o mais intenso desde fevereiro de 1999.

O segundo produto está em trajetória de alta no IPCA desde janeiro de 2024. Conforme Gonçalves, problemas de safra têm levado a uma disparada das cotações do café no mercado internacional.

No caso do ovo, o técnico citou três questões: a maior demanda em razão do retorno das aulas no país, as exportações devido a problemas de gripe aviária nos Estados Unidos e os impactos do calor na oferta no Brasil.

“O tempo quente influencia a produção dos ovos, o bem-estar das aves”, disse o pesquisador do IBGE.
Em 12 meses, a inflação acumulada por alimentação e bebidas está em 7%. É a maior dos nove grupos do IPCA, seguida pela alta de educação (6,35%).

A carestia dos alimentos virou dor de cabeça para o governo Lula (PT) em um momento de queda da popularidade do presidente.

Em busca de uma redução dos preços, o governo anunciou que vai zerar a alíquota de importação de produtos como carne, café, milho, óleos e açúcar.

Associações de produtores, por outro lado, afirmaram que a medida é inócua em razão da ausência de fornecedores competitivos.

META DE INFLAÇÃO E JUROS

O BC (Banco Central) passa a perseguir a meta de inflação de maneira contínua em 2025, abandonando o chamado ano-calendário (janeiro a dezembro).

No novo modelo, o alvo será considerado descumprido quando a variação acumulada pelo IPCA permanecer por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto). O centro da meta é de 3%.

As projeções do mercado financeiro apontam IPCA de 5,68% ao final do ano, de acordo com a mediana do boletim Focus, divulgado pelo BC na segunda (10).

Em uma tentativa de conter a inflação e ancorar as expectativas, a instituição passou a subir a taxa básica de juros (Selic) em setembro de 2024. A Selic está em 13,25% ao ano e deve fechar dezembro de 2025 em 15%, indica o Focus.

A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o colegiado do BC que define a taxa de juros, ocorre na semana que vem. O encontro está agendado para os dias 18 e 19 de março.

Conforme a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, os dados do IPCA não alteram a previsão para o Copom. Na próxima semana, o BC deve manter o ritmo de alta dos juros já sinalizado, elevando a Selic em 1 ponto percentual, para 14,25%, diz Claudia.

“Com o mercado de trabalho aquecido, o custo da mão de obra tende a aumentar, o que deve continuar pressionando a inflação de serviços”, afirma. O C6 prevê IPCA de 5,9% ao final de 2025.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.