CRAS lideram reclamações na Ouvidoria do GDF

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Os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) lideram o número de reclamações no painel da Ouvidoria do Governo do Distrito Federal (GDF) em 2025. De janeiro a março (até ontem) foram contabilizadas no sistema 2.334 reclamações contra as unidades. No mesmo período do ano passado, foram registradas 1.449 e em 2023 foram 931, o que representa um aumento a cada ano no número de reclamações.

As regiões administrativas que lideram o número de reclamações nos CRAS em 2025 são: Ceilândia (408), Gama (215), Samambaia (183), Plano Piloto (173) e Taguatinga (161). No ano passado todo, foram contabilizadas 9.421 reclamações na Ouvidoria do GDF em relação aos CRAS, já em 2023 (todo) foram 5.218.

Ao Jornal de Brasília, a autônoma Fernanda Miranda, 36 anos, contou que tenta atendimento no CRAS do Paranoá há mais de cinco meses sem sucesso. “A dificuldade é conseguir vaga, a gente liga, liga e não conseguimos de jeito nenhum”, frisou. Fernanda busca atendimento junto a assistência social para conseguir o auxílio Prato Cheio e de vulnerabilidade. Segundo ela, por dia chega a ligar de 10 a 15 vezes no 156 e não consegue atendimento.

Fernanda já tentou o atendimento tanto pelo número 156 como pelo site da Sedes-DF, mas quando chega ao fim da ligação e do preenchimento do formulário é informada que não tem mais vagas. “Às vezes eles até atendem pelo telefone ou eu consigo acessar o site, mas quando vai ver não tem disponibilidade de vaga. Mesmo ligando antes das 8h, as vagas acabam rápido”, contou.

Por motivo de saúde do filho, Fernanda precisou parar de trabalhar e, por isso, precisa dos auxílios do governo. “Pedimos para que melhore essa situação, porque além da gente estar em um estado de calamidade e vulnerabilidade precisamos ficar ligando por horas e não conseguimos. É uma coisa que precisamos, igual o Prato Cheio, que eu estou procurando, é uma alimentação para a minha família, para suprir a fome dos nossos filhos”, lamentou.

A cabeleireira Sandra Rocha, 46, conseguiu um atendimento no CRAS da Asa Sul no dia 27 de fevereiro, após cinco meses tentando. “A dificuldade está muito grande, o link não funciona. No horário que eles destinam para as vagas, às 8h, quando dar a hora colocamos os nossos dados, mas o sistema não funciona. Desse jeito vamos tentando um dia após o outro, e assim vão meses tentando. Ligamos no 156 e é a mesma coisa, sistema sem funcionar”, ressaltou.

Além da instabilidade no sistema, Sandra lamenta o fato de terem acabado com o agendamento presencial. “Muitas pessoas já foram diretamente ao CRAS para tentar agendar pelo fato de não conseguir pelo site e telefone, mas não agendam. Os maiores problemas são a instabilidade do site e a falta de agendamento no próprio CRAS, que eles tiraram, esse era um meio mais eficaz, principalmente, para aquelas pessoas que não tem conhecimento, não tem telefone e internet”, frisou.

Sandra participa de um grupo no whatsapp onde fazem parte várias pessoas do Distrito Federal que tentam atendimento nos CRAS, e relata que essa é uma dificuldade geral. “Não é algo pontual, o CRAS que está tendo atendimento mais rápido, e que está demorando quase cinco meses, é o de Brasília. Já o do Itapoã, Paranoá, Estrutural e São Sebastião é tudo uma dificuldade. As pessoas não estão conseguindo de maneira alguma”, acrescentou. A cabeleira pede mais unidades do CRAS no DF, para aumentar os atendimentos.

Ao JBr, a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes-DF), pasta responsável pela gestão dos CRAS, não comentou sobre as reclamações na Ouvidoria do GDF, mas destacou que o agendamento de atendimento é feito pela Central 156 e pelo site da Secretaria, www.sedes.df.gov.br. “No ato do agendamento, o cidadão já sabe as vagas disponíveis nas unidades e tem atendimento agendado para até 5 dias subsequentes. Todos os agendamentos realizados têm sido atendidos. Vale ressaltar que os agendamentos são realizados conforme capacidade de atendimento de cada Cras”, explicou.

Segundo a pasta, um dos desafios é converter o agendamento em atendimento. “Dados da Sedes mostram que a média de abstenções (pessoas que agendam e não comparecem) ficou entre 26% e 30% em 2024. E chegou a 55% em dezembro. Por isso, desde o mês passado, a Sedes envia mensagens via WhatsApp para confirmar ou cancelar os agendamentos. A medida evita faltas nos atendimentos e é importante para que as equipes se organizem para receber as famílias vulneráveis”, ressaltou.

Por fim, a Secretaria salientou que tem investido em medidas para a ampliação de atendimento. “De 2019 para cá, foram mais de 1.000 servidores nomeados; aumento da carga horária para 40h; modernização e abertura de novas unidades socioassistenciais, que desafogam o sistema como um todo; investimento em tecnologia da informação, entre outros. Para 2025, está previsto novo edital”, afirmou.

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